terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PAPA METEU O PÉ NA POÇA

A Irmandade Pio X suspende o negador do holocausto Williamson
António Justo
Com o levantamento da excomunhão do bispo Richard Williamson que nega a existência de câmaras de gás e mais três bispos da ultra-conservativa Irmandade Pio X, o Papa provocou grande reacção não só entre os judeus mas também no mundo católico. Williamson afirmara numa entrevista que pensava que só “200.000 até 300.000 judeus tinham morrido em campos de concentração” mas nenhum deles em câmaras de gás.

É enigmática a razão que terá Bento XVI a levantar a excomunhão aos bispos refractários ao Concílio Vaticano II. O Papa, que no seu livro “Jesus” afirma o parentesco íntimo entre Cristãos e Judeus, e que sempre se ergueu contra o anti-semitismo e contra a negação do Holocausto, provoca agora reacções muito controversas.

Os críticos do Papa afirmam que ele tem tomado medidas que fomentam mais as forças conservadoras da igreja do que as progressivas. Reintroduziu a oração dos fiéis de sexta-feira santa pelos judeus e o rito da missa válido até ao Vaticano II. Além disso terá nomeado bispos demasiado conservadores e muito discutidos como é o caso de Gerhard Wagner na Áustria.

A Irmandade Pio X tinha sido fundada pelo bispo Lefevre que não aceitou as decisões do Concílio Vaticano II (1962-65). Lefevre continuou a ordenar padres contra as orientações de Roma. Por isso, em 1976 foi suspenso “a divinis”. Em 1988 consagrou também quatro bispos, obrigando o Papa João Paulo II a excomungá-lo a ele e aos bispos, por os ter consagrado sem ter recebido missão para isso, missão essa que tem de ser consignada por bula de nomeação papal. Segundo o Direito Canónico a consagração neste caso é “não permitida” mas “válida”.

À irmandade pertencem quase 500 padres e, segundo se diz, 600.000 fiéis. Ela está internacionalmente presente em escolas, seminários e tem um convento e três universidades (www.fsspx.org).

Com a medida do actual Papa dá-se fim a um cisma que nenhuma das partes queria.

O preço a pagar é muito alto. As relações diplomáticas com o Vaticano chegaram ao rubro. Alguns teólogos chegaram mesmo a pedir a demissão do Papa e outros grupos aproveitam-se do caso para acusar a Igreja Católica de anti-semitismo.

Bento XVI o que faz, fá-lo sem tomar em consideração o que se pode pensar cá fora. Bento XVI é um Papa moderno mas, como se diz, não toma banho nas águas modernas. Ratzinger irritou os progressistas da era 68 ao não alinhar nas ondas das ideias da moda. Para estes consistia já provocação quem se manifestasse satisfeito com o Catolicismo. Como perito do Concílio Vaticano II, Ratzinger defende as teses progressistas e o agiornamento da Igreja. Homem da intelectualidade, em 1984 afirma que o comunismo “é uma vergonha do nosso tempo”escandalizando assim os pacifistas que viam no comunismo uma esperança. Para o professor universitário, a mudança não é valor em si pelo facto de ser mudança. Para ele a Igreja não segue pura e simplesmente as ideias do povo nem as publicadas nem tão-pouco as dos poderes secretos. Primeiro fá-las passar pelo crivo dos peritos. A ideia de “igreja de base” ou de “igreja do povo” tem razão de ser a nível pastoral e diocesano.

Pelos vistos, o Vaticano não fez suficientes pesquisas e Bento XVI foi mal aconselhado antes de reabilitar o bispo. O Papa não sabia da posição de Williamson sobre o Holocausto. Hans Küng diz que Bento XVI se encontra bastante isolado do mundo exterior ao Vaticano. “Ele não nota como as suas acções chegam ao mundo”. O Presidente da Conferência Episcopal da Alemanha exigiu mesmo a exclusão de Williamson da Igreja.

É verdade que o Papa Bento XVI meteu o pé na poça mas a campanha histérica e generalizada contra ele, a ponto de alguns teólogos pedirem a sua demissão e de anticatólicos quererem reduzir a igreja a um punhado de conservadores já tem sabores de campanha. Naturalmente que as riscas conservadoras da Igreja com a absolvição dos rebeldes ameaçam tornar-se mais largas. A posição da “Irmandade Pio X” permanece problemática. De facto Lefevre não assinou o decreto do Vaticano “Sobre a Liberdade Religiosa”. Não aceitou a reforma litúrgica com o uso das línguas vernáculas em vez do latim. Mantinha o ideal da união de Igreja e Estado e, à maneira muçulmana, não aceitava a ideia de igualdade de direitos religiosos. Ele via nas determinações do Vaticano II “compromissos falsos com o liberalismo, o modernismo e o comunismo”. Com isto, o ultra-conservador Lefevre marginaliza-se a si mesmo.

Para melhor compreensão concretizemos os factos: quatro bispos pediram ao Papa para lhes ser levantada a excomunhão, a que o Papa acedeu na esperança de preservar a unidade da Igreja. Este facto não concede a possibilidade do exercício do episcopado para os quatro bispos. Por outro lado não é missão da Igreja controlar o credo político dos seus membros dado a Igreja ser uma comunidade de crentes e não uma união de aficionados políticos. O direito à parvoíce é um postulado humano que já Nietzsche defendia e é válido também para os membros da Igreja. A Irmandade Pio X suspendeu Williamson do cargo de director do seminário para padres na Argentina. A negação do Holocausto é um delito penal, um caso para a justiça e que o ministério público alemão passou a processar ao tomar conhecimento das suas declarações públicas.

Da declaração do Vaticano, o mais importante é a exigência de retratação do negador do holocausto e determinar que a condição para os rebeldes serem admitidos, é estes reconhecerem as decisões do Vaticano II. Só depois disto poderão ser reabilitados os quatro bispos e os sacerdotes. O cisma Jerárquico é um problema grave para a tradição e continuidade da Igreja.

Naturalmente que numa sociedade que vive da mão para a boca e vive de alguns balões da fala é ameaçadora a ideia dum retrocesso na Igreja Católica. Por outro lado o Papa parece considerar-se um Papa de transição sem tempo para tomar medidas arriscadas mas necessárias.

A ponte que Bento XVI procura lançar aos conservadores deveria lançá-la também aos defensores de inovação em questões como a permissão de mulheres à ordem do diaconato e do sacerdócio, o casamento dos padres, a facilitação da vida sacramental a divorciados, um certo arejamento na sexualidade, etc.

Naturalmente que o mundo ultra-conservador muçulmano com o seu sucesso na defesa de ideias tradicionais e uma intelectualidade esquerda por um lado defensora daquele e por outro lado fanática contra tudo que cheire a catolicismo ou cristianismo não facilitam atitudes que provoquem a mudança esperada na Igreja.

Seria um grande mal para a sociedade fazer de Bento XVI vítima da propaganda do preconceito, tal como certas forças fizeram de Pio XII. Muitos, que nunca leram sequer um livro do Papa atrevem-se a acusá-lo da barbaridade de anti-semita. Depois de lançado o boato fica sempre a nódoa. Em relação a Pio XII Pinchas Lapide (judeu) escreveu que Pio XII salvou “pelo menos 700 mil judeus, provavelmente até 860 mil, das mãos dos nazis”. Só de Portugal embarcaram para a República Dominicana cerca de 11 mil judeus por intervenção do Papa.

Há dois provérbios muito a propósito: “Ganha fama e deita-te na cama”; “Deita-te com crianças e acordarás molhado”.

António da Cunha Duarte Justo

1 comentário:

**Viver a Alma** disse...

Salvé!
tirou a sua foto? Estava tão bem...não me diga que dá ouvidos aos outros...
Quanto a este seu post não me pronuncio, porque de todo não gosto do homem que o concílio elegeu para "sucessor de Pedro"!
Se Pedro estivesse entre nós...admirado ficaria como foi possível estar um homem daqueles á frente da casa maior a que chamam ser de Deus!
Desde os sapatos do Prada, a trajes costurados pelos costureiros italianos afamados - recusando o alfaiate que sempre serviu a casa de sua majestade o pastor de todo um rebanho.
Ainda o facto de não gostar de muito contactos com as ovelhas, mas sim com outros "senhores" que falam de cátedra, ou de diplomacia...e por esa e outras coisas mais...e muito mais virá ainda a lume...não, muito obrigada, este homem não! At´porque veio a reboque de alguém mais Alto, Enorme!
Eu não sou católica, acho que nunca fui, embora estivesse a estudasse num colégio e dominicanas, faça retiros sózinha em Fátima onde sistematicamente passo o meu aniversário com a minha MÃE de ORIGEM, porque a que me deu á luz, é a biológica...e sim! sou cristã, porque fui convidada a isso e não pude recusar, vindo de QUEM veio!
Portanto ligo pouco a coisas instituídas, até porque Deus disse: "procurai-me nas coisas simples"!
E está escrito também: "Deus não se encontra nas trovoadas, nem nos vendavais...nem....mas sim, na brisa suave"! E foi nessa brisa suave que fui tocada, quando eu dia falava com ELE.
Portanto líderes que demonstram não cumprir a simplicidade, e o que for mais... - pelo menos esta salta á vista - eu não reconheço como autoridade de igreja - aliás doutrina - porque igreja somos todos.
Não aceito que essa mesma doutrina, subverta o que está escrito, nomeadamente que se reserve o dia de sábado ao Senhor...mas não! Os homens, acharam-se no direito de imitarem aquele que desafiou o seu Deus e atirou-lhe com uma seta depois de ver construida a sua torre... - as coisas não mudaram...assim sendo, decretou-se que seria o domingo..o tal dia "D" - neste caso de Deus.
Não deixa de ser curioso que a nossa MÂE tivesse pedido que se fizessem "os 5 sábados" reparadores! porque não pediu Ela os 5 domingos? por acaso tenho cumprido o estipulado desde há 10 anos, quando me (re)liguei! - sem gurus, bispos, padres, ou outro líder religioso. Só entre mim e Jesus.
Mas fui também receber ensinamentos Indys...aí aprendi mais do que os anos que tive no colégio e outros em que a minha mãe me obrigava a ir á missa.
Aprendi meditação, e ainda relaxamento, rezo, não como carne de espécie alguma, só um pouco de peixe, deixei todos os comprimidos que tomava, passei a ser saudável, - o stress dava cabo de mim - deixei o vício de fumar, do consumismo, e vigio-me amiúde! é esta a minha filosofia e vida que adaptei para assim melhor cumprir os meus intentos...embora me encontre quase em reclusão forçada, mas por ora ainda estou a atravessar o deserto - ou o caminho das pedras.
Afinal as palavras são como as cerejas e acabei por desabafar o que não estava nos meus intentos, quando aqui vim "vê-lo".
Ah! também deixei tudo para trás...embora as coisas também se proporcionassem que assim fosse: desde amigos/as, familiares, até pais e filhos.
Sou muito testada...nem sempre passo ...e depois fico...enfim...
Mas como ia dizendo, vim aqui convidá-lo não a comentar, mas a assistir ao paralelismo que é SER e ESTAR na arte da música - pode comparar-se com outra arte qualquer.
Deixo-o com a minha PAX
sempre...
Mariz