domingo, 21 de junho de 2009

O Universo – Filho de Pai incógnito?


Como chegar ao Tempo antes do Tempo
António Justo
Vivemos num mundo maravilhoso em que a massa consciente procura situar-se, através da investigação do rasto da sua origem, na massa do universo e do seu sentido. Para isso desenvolvem-se os mais diversos modelos de criação. A história da criação teológica (bíblica) descreve a criação do universo e do mundo num longo processo de seis dias (épocas) através da intervenção divina; por outro lado, a física contemporânea faz começar a história da criação com a teoria do Big Bang (grande estrondo). Segundo esta, a origem do mundo e do tempo, teria o seu ponto zero no estoiro primordial anónimo que teria dado origem às partículas elementares, aos átomos e às galáxias.

Os modelos da ciência física quântica perdem o rasto da criação ao imaginar as astronómicas temperaturas e a densidade extrema da energia junto do Big Bang. Para desviar e tentar evitar o mistério outros físicos falam já dum tempo antes do Big Bang ou seja dum tempo antes do tempo. Uma questão que pertence já à filosofia e à teologia atendendo a que a ciência, com o seu carácter experimental está condicionada ao criado, ao tempo. Para chegarmos ao tempo antes do tempo, segundo a própria teoria da relatividade, teríamos de viajar com uma velocidade superior à da luz e assim antecipar-nos ao espaço e ao tempo. Aí a realidade passaria a ser meramente espiritual, mera potencialidade.

A teoria da relatividade calcula que a matéria próxima do ponto zero perde o seu carácter físico. Isto é um banho de água fria e atemoriza uma física sem vocação para espiritualidades. Para fugir à questão muitos físicos servem-se da Teoria da Gravidade Quântica em Loop (ou Teoria da Gravitação Quântica em Laços) dividindo o tempo e o espaço em pequeníssimas unidades, partículas tão pequenas que se tornam impossíveis à observação, reduzindo-os a uma espécie de átomos espaço-tempo.

Assim, através de fórmulas matemáticas puramente abstractas evitam a chegada ao ponto zero da matéria, ao Big Bang. Se considerarmos o universo um balão de ar, mesmo que teoricamente possamos tirar o ar ao balão, este não desaparecerá e pressuporá algo por detrás dele. Mesmo a pressuposta existência de outros universos anteriores ou paralelos são tentativas de explicação úteis mas não certas, parte da realidade especulativa. A cosmologia tem lugar para as mais diversas teorias que vão duma criação superior, existência de universos paralelos, cíclicos ou mesmo eternos. Mesmo que conseguíssemos saber a idade do mundo ficaria margem para se especular sobre diferentes modelos e por determinar a sua filiação.

No meio das teorias, a Teoria das Cordas ou Teoria das Supercordas procura a fórmula do mundo. Ela descreve a matéria de maneira quase espiritual, nas suas partículas elementares mas tropeça no tempo e no espaço. Por outro lado a teoria Loop descreve o tempo e o espaço mas tropeça na matéria tempo – espaço.

Quem se embrenha no mundo das teorias da relatividade e da física quântica constata que tal como a teologia se esconde atrás de Deus, a física se esconde atrás da matemática. A especulação é tão variada e abstracta que até os peritos têm dificuldade em compreender a própria teoria, chegando uns e outros a um lugar comum: o mistério!

Talvez a teologia, em especial a teologia do mistério da Trindade apresente um modelo conciliador de realidade. Para isso tanto a teologia como a física terão de soar um bocado. Agradável é constatar que uns e outros se tornam mais humildes e mais conscientes da complementaridade de saberes e da complementaridade da realidade.

A física clássica, que, até há pouco, afirmava à boca cheia que todo o existente se reduzia a matéria física num mundo ordenado segundo leis causais, reconhece agora, nos andares superiores do saber científico, que a imaterialidade é a outra face da matéria e que as velhas leis da física não são gerais vendo mesmo contrariado o seu tão sagrado (científico) mecanicismo e o determinismo, ainda em voga numa mentalidade moderna anacrónica. A vantagem da física quântica está em ultrapassar a teoria newtoniana da física clássica e em ter descoberto a imaterialidade como a outra face da matéria. O saber quântico tal como o saber da Trindade levarão muitas gerações a entrar na consciência geral da sociedade, da política e da própria religião. Os utilizadores estão mais interessados no folclore dos saberes.

Quanto mais perguntas a sociedade puser mais respostas se encontrarão. Todo o desenvolvimento se resume a uma tentativa de resposta a uma pergunta numa dinâmica de dúvida – esperança. É a legítima ânsia de identidade (individuação) a surgir no horizonte da consciência social tal como os grelos das diferentes flores a surgir da terra em jardim. A pergunta sobre o princípio está na resposta do fim.

Discutir a nível físico sobre o tempo antes do tempo (Big Bang) será tão útil como discutir em teologia sobre o sexo dos anjos. A vantagem é de nos encontrarmos todos, materialistas e espiritualistas em terreno inseguro (imaterial), o que pode vir a ser uma oportunidade para nos unirmos todos na procura da verdade, do bem, numa mesma consciência de complementaridade.

Assim como o mundo se expande em convulsões energéticas assim a consciência humana se desenvolve através da linguagem e das ideias. Só quem já deixou de fazer perguntas ou já tem respostas absolutas renuncia a germinar e abdica do desenvolvimento, acabando por deixar de sentir o calor do sol numa mesma natureza que a todos alimenta.

As teorias são um elemento da profecia, na procura de descrever e antever a realidade numa perspectiva de sentido. Não poderemos chegar ao antes da criação ou do Big Bang, assim como não poderemos chegar ao depois da morte independentemente dos instrumentos físicos ou mentais que usarmos. Fica-nos muito espaço para respeitosamente nos aproximarmos mais uns dos outros num campo de procura comum infinito não sendo preciso comportar-nos como os cães à volta do mesmo osso. Tanto as Ciências naturais como as ciências humanas chegam a pontos do saber onde a orientação será provocada apenas por indícios ou referências, e a sua formulação permanecerá uma questão de fé religiosa ou secular.

Nem a teologia se poderá pronunciar sobre o particular do mundo nem a física poderá chegar a uma explicação do universo na sua totalidade. O que é para uns é a porta de entrada, é para outros a porta de saída. Uma coisa nos resta, enveredarmos pelos caminhos da física quântica, da filosofia e da teologia e neles poderemos saborear os frutos mais saboreáveis que nos conduzem a muitas realidades com um ponto de encontro comum: o Homem no mistério do Mundo e de Deus. No maná do mistério embora a manjedoura seja a mesma, haverá alimento para os diferentes gostos. O sabor do mistério nos irmanará a todos, crentes e descrentes.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
Pegadas do Tempo

quarta-feira, 10 de junho de 2009

DIA DE PORTUGAL

Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas
António Justo
De celebração em celebração vamos empacotando os símbolos vivos da nação, na banalidade da rotina factual comemorativa, como se tratasse de sardinhas embrulhadas em folhas de jornal. Festa de desobriga com golfadas de incenso para o corpo moribundo da nação.

A 10 de Junho de 1580 morre Luís de Camões, o Homem que cantou o alvorecer e expandir de Portugal. Camões conseguiu, na sua incomparável epopeia “Os Lusíadas”, imortalizar o espírito português. “Os Lusíadas” tornaram-se o livro da identidade portuguesa. Identidade esta, com o tempo desbotada pelo sol desgastante da ideologia e pelas ondas enleantes das revoluções.

Os descendentes dos Homens-bons afirmam que, à morte de Camões, Portugal também morreu. Seguramente, uma afirmação certa no que respeita à classe política dos governantes de Portugal. Esta já não entende Camões nem entende a alma portuguesa, hoje residindo no borralho das cinzas do povo. Um governo “fraco torna fraca a forte gente…” escrevia aquele visionário que ao morrer terá dito "Morro com a Pátria"!

Não, Portugal não morreu. Só morrerá quando deixar de possuir aquilo que o criou, ergueu e tornou específico: a fé. A grandeza de Portugal foi construída à sombra do cristianismo. O povo assumiu a missão cristã tornando-a sua. Pátria e fé eram uma coisa só. O povo sabia conjugar o “ heróico” com o “imortal”. Assim, os portugueses descobrem o mundo como missionários da pátria. Com o andar dos tempos perdeu-se o povo e com ele a pátria também. Agora, dela pouco mais resta do que massas à deriva e um Estado de abutres que voam sobre elas.

A obra à nossa frente não é menos grandiosa do que a dos descobrimentos. Já não chega uma restauração, é necessário uma nova descoberta. Hoje, os Homens Bons” terão de se deitar à missão de, primeiro, descobrir o povo e a pátria, na redescoberta do novo cristianismo.

Para ressurgir terá de descobrir “mares nunca antes navegados”. Terá de ultrapassar a “Taprobana” do materialismo institucional estatal e religioso. Terá de, como os nossos “egrégios avós”, possuir a coragem de se lançar no fluxo da vida, arriscar e ousar “pecar corajosamente” para abandonar as certezas dos “Velhos do Restelo” que, agarrados às velhas ideologias materialistas, fizeram o 25 de Abril, embrulhando, com elas, um povo inteiro. Filhos da escrava, da russa Agar, da gálica Libertas, continuam a enxovalhar, inconscientes, a grei.

Portugal, desembrulhado, voltará a descobrir-se povo e então redescobrirá a missão que o levará à vitória sobre o nevoeiro estranho que embacia o cérebro das nossas elites e tolhe a vida moura do país.

Então, alijará as formas mecanicistas do seu pensar para poder proporcionar o salto quântico da nova física, a nova consciência. Uma nova mundivisão, surgida já não de revoluções de interesses oportunos e subjugadores mas dum impulso genuíno de verdade, dum desejo de liberdade criadora e universal.

Não teremos a ajuda dum infante D. Henrique que concatenou então saber e engenho e energia universal. Seremos ajudados por um processo paulatino desformatizador das formas do medo, do ganho, da avidez e do poder. O sofrimento e o desespero duma natureza cada vez mais atrofiada despertar-nos-á para uma nova criatividade, um novo pensar. Então sonho e realidade serão as formas do mesmo pensar. Então seremos tão livres que não saberemos onde a liberdade começa nem acaba. Então navegaremos à tona do mar como se esta fosse o seu fundo! Descobriremos no céu do horizonte novos mundos com caminhos diferentes. Nesse mundo da nova consciência a dignidade já não é apenas humana, passa a ser natural!

No novo mar português, o Povo já não descobre; ele pode criar porque a nova cultura já não é poder nem ter, mas sim relação.

Até lá vamos rasgando a cobertura das ideologias do céu português. Das aberturas surgirão novas auroras e do céu baixarão as cores do arco-íris. Então todas as relações e ligações serão libertadoras e benditas porque, entre uns e outros, deixará de haver muros, para nos delimitar chegarão apenas as cores do arco-íris.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com