segunda-feira, 31 de julho de 2023

DIREITOS DE LIBERDADE RELIGIOSA E DIREITOS LGBT


Entre o Direito à Dignidade humana e o Direito de se organizar em Grupos

 

A questão será, como compatibilizar direitos individuais (LGBT) com direitos de grupos ou confissões numa sociedade que respeite ao mesmo tempo o indivíduo e a comunidade? Neste contexto, como coordenar a política de inclusão?

O Direito individual à Dignidade humana é o fundamento de uma vida civilizada; no conflito entre identidades individuais e identidades comunitárias seria da essência da instituição servir o indivíduo, tal como a dos órgãos servirem o corpo. É próprio de uma certa dialética e irracionalidade humana considerarem-se antagónicas grandezas que na sua essência são complementares...

"LGBT" significa lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros....

No exercício de papéis ou funções sociais haverá sempre contradições dado haver dois campos de intervenção (identidades), por vezes, concorrentes e intrínsecos à humanidade: o indivíduo e a organização ou comunidade.  Numa sociedade em que a personalidade individual se quer cada vez mais reduzida ao ego acentua-se o conflito que em termos epocais pode ser considerado fatal....

Neste caso um tratamento eventualmente desigual, não seria discriminatório dado beneficiar o todo e especialmente quem participe nessa missão comum...

No 53º Conselho de Direitos Humanos da ONU o lobby pró-LGBT quer a aplicação de padrões LGBT em contextos religiosos, o que legitimaria uma ingerência directa dos governos em questões de liberdade religiosa. O Estado não pode ser transformado em ministério da verdade e como pessoa jurídica deve ser isento relativamente a visões conservadoras ou progressistas. A tentativa de condicionar comunidades religiosas ao seguimento dos direitos LGBT é redutora...

Neste aspecto há ainda que ter em conta a diferença essencial que há entre sociedade e comunidade...

O direito legítimo e necessário de cada indivíduo se organizar em grupos ou comunidades implica uma tensão entre o princípio da individualidade e o princípio do grupo ou comunidade. Assim torna-se difícil encontrar um equilíbrio entre a política de inclusão e o direito de se organizar em grupo ou comunidades....

A diversidade só é valor na medida em que faz parte de um todo. Se se argumenta com o direito à igualdade tem que se ter em conta também o direito à não discriminação de grupos ou instituições com convicções próprias...

A diversidade individual e grupal está em função da pessoa numa relação de complementaridade devido à interdependência natural: bem-estar individual e coletivo pressupõem compreensão e tolerância recíprocas. O facto de se querer dar universalidade aos valores, isso não deve passar por cima da realidade....

A política de inclusão europeia, no que respeita à religião muçulmana é ingénua e, a longo prazo, prejudicial para as partes, dado o islão ser uma política de poder sob a forma de religião e aqui mais que a inclusão de indivíduos se trata da inclusão de uma sociedade que se afirma como paralela...

Em nome do mero contexto cai-se num relativismo absoluto legitimador do que será só relativo, mas que não permite um escrutínio crítico e fundamentado em evidências...

Pretender criar uma sociedade inclusiva e justa pressupõe uma atividade inclusiva nos dois sentidos:  no sentido do indivíduo e no sentido da comunidade como elementos de um todo.  A política de inclusão não será séria se não respeitar o contencioso entre grupo e indivíduo e entre os diferentes grupos...

No cristianismo há a postura institucional em questão de doutrina e por outro lado é reconhecido o direito do crente a seguir a sua opinião sem necessidade de renegar a sua fé (aceitação da tensão entre crença e fé) ...

No cristianismo enfatiza-se o ministério de Jesus Cristo que prestou atenção especial aos marginalizados da sociedade e encorajou as pessoas a se amarem incondicionalmente (a mensagem cristã de amor, compaixão, tolerância e justiça implementa o respeito e a aceitação incondicional de todas as pessoas); aqui trata-se de uma atitude e não de uma ideologia...

O facto de uma pessoa ou grupo afirmar as entidades transgénicas não implica que o que as rejeita e vice-versa   tenham de ser considerados à margem da lei...

A tarefa humana de manter a humanidade em paz é prioritária e nesse sentido devem colaborar todas as instituições e mundivisões. Os direitos individuais humanos não legitimam, porém que uma cultura suborne a outra através de uma política ou mundivisão que identifica o direito individual com o direito da comunidade (caso do islão) ...

Também colocar o direito de minorias em termos de igualdade das maiorias ignora o processo interino de lutas entre grupos e cria situações caricatas e atitudes hipócritas quando razões meramente económicas desvalorizam em seu serviço as razões culturais em jogo; isso leva à confusão e ao autoengano! Quando a atmosfera é guerreira não há deuses que defendam a paz! Também a ideia globalista em voga não se revela como séria quando o activismo geral em jogo se dá sobretudo na e contra a cultura ocidental. Incontestável deveria permanecer de maneira transversal a todas as culturas a preservação dos direitos humanos de cada indivíduo. Quanto à regulação dos grupos entre eles deveria haver o princípio do reconhecimento recíproco.

O direito à dignidade humana é o fundamento de todos os direitos, que segundo a interpretação cristã assentam na filiação divina do humano. Porém, a dinâmica interpessoal não pode ser cem por cento aplicada na relação entre grupos.

António CD Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8687

domingo, 30 de julho de 2023

MORREU O MAGO DA LINGUAGEM MARTIN WALSER

Martin Walser não andou comigo na doutrina nem foi comigo à comunhão, mas, quando leio obras dele, sempre me impressiona pela riqueza da sua linguagem e pelo facto de não se alinhar no oportuno pensar politicamente correcto e de ser uma personalidade rara numa sociedade demasiadamente igual a si mesma!

Estudou literatura e filosofia e em acto não conforme com os EUA nem com a opinião generalizada (mainstream) tomou partido contra a Guerra do Vietnam (sendo por isso apelidado de “comunista”);  também ergueu bem cedo a voz contra a divisão da Alemanha (o que lhe valeu o atributo de “nacionalista” a nível do pensar politicamente correcto); fez também campanha por Willy Brandt na sua candidatura para chanceler e manifestou-se contra a entrega de armas pesadas à Ucrânia.

Manteve a sua personalidade por vezes polémica ou polemizada como foi o caso da crítica aos Media que todos os dias lematizavam o Holocausto: “Nenhuma pessoa séria nega Auschwitz; ninguém que ainda esteja são trai o horror de Auschwitz; mas quando esse passado me é mostrado todos os dias nos Media... Auschwitz não serve para se tornar uma ameaça rotineira, um meio de intimidação que pode ser usado a qualquer momento, ou um porrete moral". Walter abordou este assunto no romance "Morte de um Crítico".

Foi crítico de uma cena cultural muitas vezes desonesta, mas a sua grandeza é demonstrada nos lugares altos da literatura e não nos lugares baixos da política. Dele satisfaz-me a frase: „Escreve-se para tornar a vida suportável"! E o escrever é “uma declaração de amor à vida”. Importante é atuar-se a partir de um lugar seguro.

Com 96 anos morreu (28. 07.2023) uma importante estrela da geração alemã pós-guerra. Desde 1955 publicou cerca de 70 contos e romances. Com seus livros e ensaios, Walser abriu os olhos de muita gente. Ergueu a sua voz contra condições sociais criadas que impedem o desenvolvimento humano e o arruína. Os seus heróis e anti-heróis refletem as lutas competitivas da vida cotidiana.

Como poeta, sensibilizou-me ficando na memória a sua frase: „Sou as cinzas de uma glória que nunca existiu".

Para ele "a mais clara superação da morte e do morrer é a escrita “! "A morte não existe para nós. O que nos espera é o morrer". O último livro que escreveu foi “Trovador” em 2023.

Para terminar cito uma frase de ouro do mágico da linguagem no livro “O que falta quando falta Deus” da Editora Herder: “Ocorre-me o que me falta: essa é a base da escrita. Essa é também a base da religião, essa é a base da nossa língua: porque não temos algo, temos a linguagem. Se tivéssemos Deus, não teríamos uma palavra para ele. É apenas por falta que precisamos das palavras"(1).

António CD Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=8683

(1) Martin Walser  in https://download.e-bookshelf.de/download/0007/8185/06/L-G-0007818506-0041009913.pdf

 

sábado, 22 de julho de 2023

DO DITO “EM POLÍTICA O QUE PARECE É” E DA JUSTEZA DAS GUERRAS

A expressão idiomática "em política o que parece é" para ter uma perspectiva verdadeira terá que ter em vista o contexto em que é aplicada. Dado hoje a percepção pública influenciar muito os políticos, estes moldam os seus discursos de maneira a parecerem positivos e em sintonia com o que o eleitorado deseja. A frase terá a sua validade na medida em que a imagem pública (opinião das pessoas) é que irá determinar a “realidade” política separadamente do que a política faz!

Todo o espírito crítico não pode isentar a política como se fosse um sector onde não há manipulação da informação e desinformação e isto porque é da natureza da defesa de interesses criar-se aparências ou distorções para beneficiar certos atores políticos e prejudicar seus adversários.

No discurso político, a que estamos  habituados,  é notória a tendência das partes para justificarem acções hediondas e as fazerem acompanhar com rectóricas de valores éticos positivos, o que leva uns e outros a caírem numa atitude de bisbilhotice tendente a encobrir os verdadeiros interesses que se encontram por trás de muitas das acções políticas e das suas declarações públicas. Muitos políticos do topo investem na bisbilhotice pública, fazendo lembrar a dona de casa que de vez em quando lança uma mão cheia de grãos no galinheiro e deste modo cala o incómodo barulho da capoeira.

Os meus textos pretendem precisamente levar à reflexão porque nem sempre o que parece é necessariamente verdadeiro ou reflete a realidade. Importante é tentarmos sempre procurar a verdade na consciência de que não a temos (eu estou consciente que apresento apenas uma perspectiva da realidade) e por isso também estarmos conscientes das estratégias de manipulação política que podem estar em jogo tanto da parte da NATO como da Federação russa no emaranhado geopolítico em que estamos metidos e que faz prever grandes desgraças mesmo a nível mundial.

O que as parte contrárias dizem são aspectos importantes a ter em conta numa reflexão política, mas sem a necessidade de desfazer a validade de outras perspectivas!  Escrevo, não com a intenção de criar prosélitos de uma ou outra facção rival, mas para que todos participemos no discurso político público de maneira a poder-se garantir que a política seja conduzida de forma justa e responsável.

A busca de informações de fontes confiáveis exige de todos nós espírito crítico e a consciência das estratégias de manipulação política em jogo usadas pelos contraentes para imporem os seus interesses, quer de um lado quer do outro. Não se trata aqui de bagunçar a política, mas de estarmos preparados para a lermos nas entrelinhas.  Os subterfúgios de divulgação de factos manipulados (apresentados e interpretados com um objectivo em vista) e a criação de configurações simplicistas e eventos simbólicos fazem parte do negócio político.

Isso pode ocorrer através da divulgação de notícias falsas, discursos enganosos ou mesmo por meio de aparências simplistas, como ações simbólicas que parecem demonstrar comprometimento com certos valores ou questões.

Não há política de cara lavada. Não se trata de lavar a sujidade do bloco NATO com a sujidade da Federação russa, nem vice-versa. O pretendido é apresentar aspectos ou reflexões que nos nossos meios de comunicação se evitam numa meada da interpretação dos factos de tendência utilitária perspectivista.

Quanto à guerra justa trata-se de uma questão que pertence à controvérsia e não satisfaz nem a ética nem os interesses das populações porque se dá à custa de desumanidades e do preceito de vencer. Guerra justa será uma procura de justificação para uma intervenção. Costuma-se dizer que há guerra justa quando acontece em autodefesa ou em defesa de uma população oprimida o que na Ucrânia torna a coisa mais complicada do que se quer fazer crer. Um outro déficit é o facto de o povo não poder decidir de uma guerra justa, mas os poderosos movidos de interesses próprios.

Quanto à guerra geopolítica a desenrolar-se na Ucrânia é uma guerra injusta também porque, no meu entender, não haverá hipótese de haver um vencedor de mãos limpas e as consequências (tidas como justas!)  serão uma guerra mundial. O que na Ucrânia aconteceu desde 2014 com a guerra civil em que foram mortos 14 mil civis e 4 mil soldados e de que não se falava e que eu em artigo de  2014 previa tornar-se num conflito mundial,  só mostra a barbaridade das partes envolvidas (Rússia, EUA, EU e os interesses de certos oligarcas ucranianos e outros a eles unidos) sem ter em conta os interesses das populações ucranianas. Segundo afirmações de políticos responsáveis ocidentais (Ângela Merkel) os acordos Minzk 1 + 2 (1) foram apenas para a EUA e a EU ganharem tempo e não para se criar paz; por isso não foi cumprido! O sofrimento humano e a destruição em via deveriam levar a parte mais humana a fomentar compromissos de paz!

Guerra só cria mais violência e injustiças; neste sentido os governantes andam todos de cara suja. O poder, o negócio e os interesses económicos são os impeditivos de iniciativas de diplomacia e de mediação. O resto resume-se em discurso hipócrita para desviar as atenções do que verdadeiramente se encontra em jogo.

António CD Justo

Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=8676

 (1) Minzk 1 + 2  abkommen https://www.bpb.de/themen/europa/ukraine-analysen/205903/analyse-faktencheck-die-umsetzung-der-minsker-vereinbarungen-zum-donbass-konflikt/

 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

A França produz mais Trigo que a Ucrânia

 

NÚMEROS CLARIFICAM PRECONCEITOS TRANSMITIDOS COM AFIRMAÇÕES GERAIS


O acordo de grãos entre a Rússia e a Ucrânia fracassou. Pelo que os Media informam tem-se a impressão que o mundo vai morrer de fome sem culpa nossa!

Para que se tenha uma ideia do comércio de grãos no mundo, apresento os números que o Prof. Dr. Maria Finckh disponibilizou no HNA.

Nos anos 2017-2021, a Ucrânia produziu uma média de 27,23 milhões de toneladas de trigo, o que representou 3,6% da produção mundial (759 milhões de toneladas) naqueles anos.

De referir ainda que a Alemanha produziu em média 22,2 milhões de toneladas (2,9%) e a França 36,3 milhões de toneladas (4,8%) da produção mundial.

Sabe-se que 60% do trigo alemão vai parar na ração animal e outros 20% na produção de etanol, e apenas 20% vai parar na mesa. E depois tem-se o desplanto de se lamentar a fome no mundo.

Na imprensa, muitas vezes, fala-se de factos de maneira a fomentar equívocos e assim se poder levar avante os próprios intentos.  "Se fôssemos honestos, finalmente enviaríamos os nossos animais para as pastagens ou pelo menos dar-lhe-íamos forragem verde provinda da rotação de culturas pelo menos de dois anos sem pesticidas e fertilizantes. Com isso, a Alemanha podia proteger o clima, usar menos pesticidas e fertilizantes - e mostrar verdadeira solidariedade com os mais pobres dos pobres, colocando trigo na mesa em vez de no cocho".

Este é um exemplo de como se criam alarmismos falsos na população apresentando-se em vez de factos uma sua interpretação deles com objectivos de enganar os destinatários da informação.

Na informação pública, como geralmente acontece, informa-se de maneira a poder-se ordenhar a mama do sentimento e deste modo criar-se sentimentos preconceituosos em vez de se alimentar a inteligência com dados que tornariam possível uma mente mais cultivada e mais discernimento na opinião geral. A manipulação destina-se em geral a culpabilizar alguém para se ilibar da própria parte de responsabilidade no assunto. Embora a hipocrisia seja umaestratégia mais fácil para os governos imporem os seus interesses, penso que as populações mereceriam mais respeito, mesmo que se complicasse um pouco mais a tarefa de governar! De boas intenções e de meias-verdades está o Inferno cheio!

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8669

terça-feira, 18 de julho de 2023

A politização do Discurso religioso falsifica os seus Conteúdos e viola a Fé

 

IGREJA EM DERROCADA NA ALEMANHA


Na Alemanha, 522.821 fiéis abandonaram a Igreja Católica, em 2022, conforme relatado da Conferência Episcopal Alemã (DBK) e no mesmo ano abandonaram a Igreja Evangélica 380.000 protestantes. De notar que em 1979 49% dos alemães eram evangélicos, hoje são 21%. A declaração de abandono da igreja não ocorre na própria igreja; é declarada à cidade ou município de residência (por causa do imposto) sem precisar de fundamentação.

Actualmente a Igreja Católica conta com 21,6 milhões de membros registados e a Evangélica com 19,73 milhões, numa população alemã de 83,1 milhões em 2022. Do total de 83,1 milhões, 59,278 milhões são sem histórico migratório (1) e 23,825 milhões com histórico de migração (2), o que corresponde a uma parcela de 28,7% da população total.

A Igreja Católica e a Igreja Protestante empregam cerca de 1,8 milhão de pessoas e cerca de 1,3 milhão delas trabalham nas duas instituições de caridade: Diaconia e Caritas!

Entre os factores que contribuem para a diminuição dos cristãos na Alemanha contam-se: a obrigação dos membros da igreja pagarem imposto (entre 8 e 9%) para a igreja (3) , a politização do discurso religioso, o escândalo dado por padres pedófilos; a secularização, o individualismo e a luta cultural contra o cristianismo propagada por ideologias,  agendas, ONGs e por forças globalistas interessadas em criar uma nova ordem mundial que vê no cultivo do humanismo e dos biótopos culturais um obstáculo à centralização do poder que aspira à criação de um humano de caracter meramente funcional para poder ser mais facilmente governável e entretido por valores em torno da subsistência no dia-a-dia.

Segundo a Igreja Católica em Fulda as razões da desvinculação devem-se sobretudo ao " fenómeno social geral que está diminuindo as forças vinculantes de grupos, forças e iniciativas relevantes”, isso afeta tanto as igrejas, como partidos e associações. “Além disso, há uma crescente secularização da sociedade, bem como conflitos internos da igreja e uma contínua perda de confiança em conexão com o processamento de abuso de poder e violência sexualizada”. Depois de uma propagação anti cultura e anti instituições precisamos de "uma nova cultura de união... rumo a uma igreja inclusiva em diálogo com a diversidade de seus membros e da sociedade secular". Como consequência concomitante, também é preciso adaptar as estruturas da igreja nacional ao menor número de membros e dinheiros.

A diminuição dos membros das confissões católica e protestante e correspondente diminuição das receitas dos impostos implica consequências muito graves para a sociedade alemã. A rede especial de pontos de contacto e de serviço das igrejas, desde o trabalho comunitário com todas as gerações até ofertas de trabalho social diaconal e hospitais, escolas, ajuda a refugiados e creches, é insubstituível. Com a perda das igrejas, perde-se um importante pilar humano da nossa sociedade. A jornalista Katja Rudolph adverte que a “nossa sociedade continuará a precisar de uma posição ética equilibrada em muitos debates no futuro. Apenas uma igreja que tenha uma base significativa ainda será ouvida aqui”. Merece nota de registo constatar-se que mesmo aqueles que não estão ligados a igrejas frequentemente manifestam grandes exigências com respeito a eles. Segundo os resultados do inquérito da NDR sobre os motivos de saída, cerca de 62% dos entrevistados disseram ter diferenças ideias dos da igreja e 51% referiram os casos de abuso na igreja como razão para deixar a igreja.

Especialmente na Alemanha observa-se uma luta na Igreja Católica entre bispos conservadores e bispos progressistas na discussão sobre a renovação da Igreja e também entre leigos e bispos no Caminho Sinodal, onde a discussão é muito cerebral e política. O fator demográfico também desempenha um papel relevante e o espírito alemão mais inclinado para as teorias cerebrais (crenças) do que para as questões do coração (fé) sente-se estimulado mais a dividir que a unir! Assim uma sociedade totalmente dominada pelo discurso político-secular faz com que as igrejas percam sua importância. Por isso os esforços de reforma pouco ajudarão. Não são apenas as demissões ativas que desempenham um papel, mas também os casos de eutanásia. Por outro lado, há batismos e reentradas pelo lado positivo.

Andamos todos comprometidos na procura das melhores e mais acertadas ideias para resolver os grandes desafios sociopolíticos. Isto pressupõe maior abertura a pluralismo de ideias e métodos e a prontidão para uma atitude de inclusão e abertura à interdisciplinaridade e ter a coragem de dizer não à unilateralidade de equacionar a sociedade só em termos políticos e de sistemas lógicos, mas unilaterais.

Apesar de tudo não há razões para desesperar! A razão acompanha as pessoas de fé. A nossa cultura que agora se encontra em perigo devido às ideologias e guerras dos dois últimos séculos reconhecerá um dia que para subsistir terá que redescobrir o seu tecto metafísico judaico cristão e os seus alicerces greco-romanos da filosofa do direito e da administração sempre numa atitude de sociedade peregrina, tal como a Igreja. Só a virtude envolve o agir integral da pessoa humana; o resto são ideologias acompanhantes ao serviço do tempo e dos que se aproveitam dele.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8663

(1) Em 20 de abril de 2023:  https://www.destatis.de/DE/Themen/Gesellschaft-Umwelt/Bevoelkerung/Migration-Integration/Tabellen/migrationshintergrund-geschlecht-insgesamt.html

Com fundo migratório em 2005 eram 14,421 milhões e 23,825 milhões em 2022. A população estrangeira na Alemanha de 2015 a 2022 foi de 13,4 milhões. O número de "estrangeiros" - ou seja, residentes sem cidadania alemã em 2021 situava-se entre 10,6 e 11,8 milhões.

(2) https://www.destatis.de/DE/Themen/Gesellschaft-Umwelt/Bevoelkerung/Migration-Integration/Tabellen/auslaendische-bevoelkerung-staatsangehoerigkeit-jahre.html

(3) Muitos imigrantes não acham muito católico terem de pagar imposto para a Igreja: https://antonio-justo.eu/?p=3105