quinta-feira, 27 de maio de 2010

PODER ENTRE LEGITIMAÇÃO E DESLEGITIMAÇÃO

O PODER E O DINHEIRO CORROMPEM
António Justo
A crise do sistema financeiro e político chegou ao rubro. A desconfiança nas instituições e a desilusão acerca da ordem estabelecida conduz à nostalgia duma ordem ideal.

A normalidade do dia a dia manifesta-se num jogo de forças entre potência e fraqueza de grupos e de indivíduos; poder, violência, resistência e inércia são os seus acompanhantes circunstanciais naturais. A normalidade do poder parece dar lugar à normalidade da violência.

Segundo Max Weber “ poder significa a chance de impor a própria vontade também contra resistentes, dentro duma relação social”. O poder estende-se do Estado à família, da posição económica à posição política, social ou psicológica.

A insegurança estrutural em que nos encontramos torna-nos mais conscientes para a nossa situação de impotência. A vontade quer-nos a caminho, a caminho do Sol, contra a rotina do dia a dia, à semelhança do tubérculo que estende o botão na procura da luz do Sol. Toda a natureza se encontra irmanada, a caminho, na consciência de que quem para morre, tal como a água que para apodrece, reduzindo-se a húmus para os outros. Trata-se de andar, por vezes, de seguir o impulso do movimento, como o Hamster na sua roda. “Tudo flúi”.

Poder é a força do embrião que, na sua vontade de encontrar o sol, move o que lhe oferece resistência, do caminho. Poder participa da realidade ‘instintiva’ do embrião na procura do chão através da gravidade e no erguer do tronco na procura do Sol. Na definição da própria identidade está a vontade de Sol, de saber, de verdade, de sexualidade, de transcendência. Não só é tendência e deslocação mas também sentido. O ambiente oferece-lhe resistência o que o obriga a uma certa violência e a entrar numa relação interactiva. A vontade do poder está implícita no desejo da própria vantagem (realização), da subsistência. Potência e impotência andam juntos.

Contra a inércia, contra a entropia surge uma vontade consciente ou inconsciente que resiste à apatia/letargia e desencadeia também o agir do outro. A cultura, os estados, a família surgiram de vontades contra o clima, contra o ambiente, contra a resignação individual… As relações de poder institucionalizam-se e expressam-se em diferentes modelos de ordens sociais ao longo dos tempos (chefes de tribo, reis, presidentes, imperadores, papas). Cada conglomerado social, com os seus biótopos naturais, elabora as suas normas mais ou menos elementares que possibilitam uma relação normal e habitual, com maior ou menor tolerância e capacidade para a iniciativa individual/grupal numa tendência de identificação.

Cada época tem a sua cor local e a sua expressão de poder que condiciona as consciências individuais, seus anseios, satisfações e insatisfações. Cada pessoa nasce numa situação de relação com autoridades, leis, costumes, opinião pública, ideais circundantes, procurando orientar-se e afirmar-se nela e através dela. Vive embebida na norma que o hábito torna normal e evidente num determinado espaço e tempo (biótopo). Adapta-se a esta prisão de mimetismo, do habitual/moda, justificando-a inconscientemente com a necessidade de justificar a sua existência através dum olhar crítico, pela janela do passado ou do futuro. Uma vontade de ser e aparecer afirma-se também contra o caos, contra a inércia do habitual no sentido aparentemente “futuro”, dado pela resistência a tradições ou a novos valores.

A rotina poupa-nos força; é como que o ponto morto entre inspiração e expiração. Nesse ponto se descansa mas apenas para ganhar forças para uma nova caminhada. Tudo tem um ritmo com uma orientação não explícita. As normas e as instituições são as saias da mãe a que o bebé se agarra para se erguer. Por sua vez, a tendência do erguer-se legitima o portador das saias ao exercício da autoridade e até ao abuso do poder contra aquele que as não deixa ou se contenta em continuar gatinhando. No caos dos elementos está presente uma tendência ordeira que possibilita a convivência dos indivíduos no respeito mútuo e pressupõe uma ordem de espiral ascendente. Naturalmente que o desenvolvimento no sentido duma estrutura superior subentende um novo momento de repouso, de caos que possibilita a revolução de alguns contra a normalidade.

O exagero do poder institucionalizado, a sua violência, cria, por sua vez, potencialidades e fomenta a capacidade criativa nos indivíduos, num movimento espiral ascendente de acção-reacção-acção. A actividade da liberdade, que pressupõe a capacidade de dizer sim e de dizer não, é naturalmente condicionada pela formação e informação. A capacidade de reflectir e de descobrir a normalidade distingue-nos do mundo animal e vegetal que permanece encerrado no ciclo vital, num repetir contínuo à maneira das estações do ano. Os nossos hábitos são formados na geografia das estruturas institucionais e no tempo das expressões sociais. O Sol permanece sempre o mesmo, a terra e o tempo também, o que se muda sociológica e individualmente são as estações e nós com elas, em contínuo fluir. A rotina do poder e o poder da rotina são apenas condicionadores recíprocos possibilitadores de ciclones e anticiclones, de Verão e de Inverno. A regularidade das estações traz com elas o elemento revolucionário, apenas momentâneo na preparação da próxima estação. (Os revolucionários que tivemos até hoje, com a excepção do Mestre da Galileia não passaram de árvores de folha caduca que se alimentaram do humos da carência e da ignorância do próximo.)

Temos o pretensiosismo de contradizer o Inverno com se o progresso não fosse apenas o passado visto da perspectiva dum outro momento (estação), em diferido. Todos nós procuramos segurança e orientação (ordem social) uns olhando mais para o retrovisor e outros fixando-se mais no sentido do pára-brisas, não notando porém o que se encontra para lá do retrovisor e do pára-brisas. Vivemos da luta contra a vontade alienadora do passado ou contra a vontade alienante do futuro tornando-nos assim incapacitados para reconhecer a realidade para além da perspectiva do móvel; sim porque a realidade é aperspectiva. Abdicamos da capacidade de nos transformar transformando e fixamo-nos apenas numa dinâmica do poder do passado e do poder do futuro numa linha de tempo linear ou cíclico.

Uma identidade aberta que transcenda os condicionantes rotineiros, pode abrir uma brecha na rotina através da reflexão ou de contradição, uma brecha para lá do retrovisor e do pára-brisas que conduza a uma nova identidade na complementaridade.

É natural que as diferentes estruturas de personalidades (‘boas/más’) e a sua reacção em diferentes situações não são moralmente determináveis, a nível científico; de facto personalidades mais positivas podem reagir como as mais negativas; há momentos de dissonância em toda a pessoa (“pecado original”). É difícil ter-se uma imagem realista das condições de origem do bem e do mal. Daqui a dificuldade da adequação de castigo e a questão da liberdade ou determinismo de comportamentos e a consequente dificuldade de julgar. O Homem é um ser em processo entre natura e cultura e o poder uma sua constante.


As instituições domesticam o poder ou deveriam domesticá-lo contra toda a prepotência interna e externa. O abuso dos chefes tribais, as guerras civis foram evitadas com a instituição do monopólio do poder do Estado. A justiça passou do foro privado para o público. As pessoas não são santas nem anjos precisam de controlo e de instituições com a divisão de poderes. O problema mais que nas instituições está na falta de moralidade do Estado e dos seus representantes. Estes, alheios à honra e à dignidade humana, conseguem defraudar a república instaurando nela as suas coutadas. É um dado científico que o dinheiro e o poder em regra corrompem. O Estado tem instâncias de controlo dos poderosos mas estas não funcionam. O problema maior está no facto de serem os poderosos os membros das instâncias de controlo!

O sentido do estado vem da necessidade do povo se organizar num determinado espaço para manter a justiça e defender-se de agressores. Para Blaise Pascal ”a justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica”. Uma solução de conflitos, a um nível de justiça equitativa, precisa dum espaço também para a impotência política, para aqueles que não têm voz. A impotência da justiça é a oportunidade do mais forte.

Platão desenvolve a teoria da justiça contra a alegação sofista do direito do mais forte. Poder e vontade de viver andam juntos. Platão apela para o domínio do corpo (paixões) através da alma (virtudes). Thomas Hobbes vê na condição humana o seu ser de lobo contra os outros (Homo homini lupus!). Segundo ele, este só pode ser dominado pela razão e através dum Estado poderoso. Com a criação da instituição a legitimação do poder não fica abandonada às forças da natureza, ao mais forte. A legitimação do poder através de Deus ou do povo é organizada em regras do poder estatal. Aqui o direito do mais forte ou do grupo é contrabalançado com o direito do indivíduo, com o direito privado. O indivíduo abdica do poder de fazer justiça pelas próprias mãos outorgando o poder individual no Estado. O Estado, em contrapartida, promete garantir o exercício da liberdade a todos. O abuso do poder por parte dos governantes e seus iguais deslegitima-os levando o cidadão à desobediência cívica e à formação de grupos guerrilha, como era o caso antes do estado de direito, a uma regressão aos tempos bárbaros. Para Aristóteles o Homem é o zoon politikon. Violência acontece onde não há relação, onde não acontece reconhecimento.

Rousseau contradiz Hobbes afirmando que o Homem é, por natureza, bom, e que a sociedade é que o estraga. Esta visão romântica tem um sentido apenas corrector da redução do homem a lobo. De facto uma cidadania ovina continua a desconhecer a realidade do cordeiro e do lobo no ribeiro do Estado.

Cooperação é também uma estratégia da sobrevivência e não apenas a lei da selecção natural como queria erradamente o darwinismo social. Até as plantas mostram uma certa sociabilidade na distribuição das raízes no solo. Afirmação, resistência e cooperação fazem parte da mesma realidade. Sem a aspiração para a luz, sem o poder não haveria acção. A experiência mostra-nos violência e poder, numa relação ambivalente. No poder está o reconhecimento do outro e a consciência do nós. Daí a necessidade de reconhecer poder ao outro, seja ele embora o mais pequeno. Uma árvore frondosa deve ser consciente da sombra que faz aos arbustos que impede crescer debaixo dela. Uma república adulta terá de reconhecer a realidade dos vários biótopos que tem capacitando-os para agir e não só para reagir. Aos seus representantes não chega a legitimação exterior através dos votos, eles terão de ser modelos íntegros de ética aplicada. A crise de hoje tem também a ver com uma mentalidade parasita de adaptados sem personalidades exemplares. O sistema não suporta personalidades e vive duma mediania fomentadora de oportunistas espertos e não de inteligências.

Há um abismo entre um discurso fundamental e um discurso situacional, moral prático. Ética e política aplicadas encontram-se muito distantes daquele. O direito deveria estar ao serviço do bem-comum e limitar o poder. “A confiança é boa mas o controlo é melhor”. O poder corrompe porque quanto mais se tem mais se quer ter. Urge distribuir o poder porque poder e dinheiro em demasia estragam o carácter. Actualmente, na Europa o poder político e jurídico não tem o poder de limitar os poderosos; estes apoderaram-se das instituições e adaptaram-nas ao seu formato; as nações encontram-se, por isso, a caminho do desastre. Os políticos com os poderosos não podem solucionar o problema porque são parte dele.

Apesar da situação crítica em que nos encontramos, se não houvesse instituições não haveria continuidade; elas são como que a estrada onde o móvel (indivíduo e cultura) passa. A instituição global mais antiga da humanidade, a Igreja Católica, é perita em preservar a memória e pretende englobar o tempo linear e o tempo cíclico, o espaço e o tempo, a imanência e a transcendência como prevê a fórmula da trindade. O seu problema está sempre na resistência que oferece a um presente com as suas certezas de dia a dia. Sem instituição não haveria memória e deixaria de haver a transmissão do facho cultural duma geração à outra. A percepção do presente só é possível no âmbito de percepção do passado e do futuro sem descurar a realidade em que assenta a paisagem. A instituição, tal como o poder devem estar presentes na consciência quotidiana mas só em segundo plano, doutro modo tornam-se em ameaça à liberdade do membro. A presença do poder (instituição / pessoa) deve ser discreta e nunca tornar marginal a presença do indivíduo. O poder como o indivíduo encontram-se numa relação mútua de serviço à comunidade e seus valores. A pessoa é a alma da instituição.

O indivíduo só o é no e com o grupo, precisando de quem o represente numa ordem de valores e interesses comuns. Em si o indivíduo não deveria estar acima do grupo nem vice-versa, como podemos ver na fórmula trinitária de 3=1. O Homem não é “a medida de todas as coisas” como queria Protágoras. O Homem só é todo com todas as coisas.

A complexidade social aliada à velocidade duma vida acelerada provoca nos governados e governantes incapacidades de diálogo fomentando no povo uma consciência saudosista retrógrada e na política um activismo progressista leviano. A contínua mudança não permite a reflexão da experiência feita. As mudanças das condições sociais dão-se tão rapidamente que impedem a responsabilidade política, social e individual. Uma luta pela imposição de interesses específicos distrai a nação duma ocupação objectiva e desperdiçam-se as energias em discussões estéreis pelo poder. O sucesso de uns não pode acontecer à custa dos outros, como é costume. Respeito e reconhecimento de parte a parte; um estado paternalista não possibilita uma relação equilibrada entre os cidadãos. Para uma relação integral do Homem e da sociedade não chega já o diálogo é necessária uma ortopraxia do triálogo numa relação de união eu-tu-nós! Nesta realidade nova, ninguém é igual ao outro mas torna-se através do outro.

©António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
antoniocunhajusto@googlemail.com

FAMILIE IN WANDEL DER ZEIT

Die Krise in der heutigen Familie

António Justo
Die Familie unterliegt seit ihrem Entstehen einem ständigen Wandlungsprozeß. Es gab immer schon Krisensymptome. Trotzdem hat die Familie überlebt und wird auch weiter überleben. Man kann feststellen, daß die wirtschaftliche Entwicklung die Familiengeschichte und das Bild von Familie maßgebend bedingt.
Zunächst verstand man unter Familie die Sippe als Rechts- und Schutzgemeinschaft und nicht als Lebensgemeinschaft. Ab dem 11. Jahrhundert verliert die Sippe an Bedeutung. Die Abstammungsfamilie wird immer mehr zur Haushaltsgemeinschaft, die ihr Vermögen zusammenhalten und für die Mitglieder nutzbar machen will.
Im 19. Jahrhundert entsteht die Kern- oder Kleinfamilie.


Der Ursprung der Kernfamilie im Abendland
ist begründet in
1.) einem Personenverständnis der jüdisch-christlichen Tradition und in der neuzeitlichen Aufklärung (Emanzipation);
2.) sowie in der Entwicklung des Bürgertums und der Industrie.

Der schnelle Wandel in der Familie ist eine direkte Folge des wirtschaftlichen Wachstums, das der Kapitalitsmus des 19. Jahrhunderts hervorbrachte. Die moderne Marktwirtschaft veränderte von Grund auf Werte und Verhalten. Sie führte zur Verdrängung der traditionellen Wirtschaft (Familie). Während die traditionelle Familie Treue gegenüber den Vorfahren und den zukünftigen Erben auf Kosten der Selbstverwirklichung forderte, steht jetzt in der Kleinfamilie der materielle Lebensstandard, Individualismus und Selbstverwirklichung im Vordergrund.

Der neue Staat seinerseits mit seinen Eingriffen in die persönliche Sphäre zwingt die Familie, ihre Selbstbestimmung und damit ihr Solidaritätsgefühl aufzugeben.
Die Industrie verlangt jetzt Arbeiter, die wie Soldaten rekrutiert werden. Damit entfernt sich die traditionelle Bevölkerung voneinander und wird entwurzelt. - Ein Beispiel dafür sind die Arbeitsemigranten und die geforderte Mobilität zugunsten des Arbeitsplatzes.

Die Logik des Marktes fordert zwingend den Individualismus. Das System hat nur dann Erfolg, wenn jeder Teilnehmer rücksichtlos seine eigenen Interessen verfolgt. Wirtschaftlicher Egoismus führt zum kulturellen Egoismus. Private Befriedigung wird wichtiger als sich dem Allgemeinwohl unterzuordnen.

Der Kapitalismus förderte den Wunsch, frei zu sein, den Wunsch nach persönlicher Unabhängigkeit und sexueller Entfaltung. Geschlechtsverkehr vor der Ehe und Partnerwahl geschieht jetzt auf der Grundlage persönlicher Anziehung (romantische Liebe) anstatt wirtschaftlicher Faktoren. In der Beziehung zwischen Mann und Frau taucht der Wunsch auf, frei zu sein. Interessant ist es zu beobachten, daß reiche Familien der sexuellen Revolution entgingen, weil sie die Werte der Familie über alles andere stellten. Die unteren Schichten hatten keinen Besitz zu vererben, daher konnten sie individuelle anstatt familiäre Ziele verfolgen. Die hochgepriesene "romantische Liebe" bedeutete persönliche Selbständigkeit. Der Mittelstand (Ladenbesitzer, Bauern, kleine Handwerker) klammerten sich an anti-erotische und gemeinschaftsbezogene Werte der traditionellen Gesellschaft, um den Fortbestand des Geschlechts zu garantieren. Mutterliebe war der höchste Wert. Im Adel blieben diese Werte noch bis heute erhalten.
Wirtschaftliches Wachstum ermöglichte es, daß Frauen ihre Rolle als Arbeitskraft in der Produktion mit der Pflege des Kleinkindes vertauschten.


Die Kleinfamilie

Die Kleinfamilie (Vater, Mutter, 1- 2 Kinder) wurde besonders durch die bürgerliche Revolution in der Industriegesellschaft gefördert. Folglich gab es eine Konzentration auf das familiäre Klima. Arbeitsteilung, persönlicher Wert des Ehepartners, das Vermehren des Familienaggregats begünstigt den Binnenhandel und den Konsum. Idylle und Glück zu zweit. Die Idee von der romantischen Liebe ist nur scheinbar aus einer humanistischen Überzeugung heraus entstanden, sie ist Ergebnis und gleichzeitg Voraussetzung des neuen wirtschaftlichen Systems.

Konkurrenzdenken wird immer stärker. Man strebt ein eigenes Haus an - früher das Privileg einiger weniger - und für die Kinder das Hochschulstudium. Alles Erstrebenswerte wird nur auf die eigene kleine Familie begrenzt.


Die heutige Krise der Kleinfamilie verlangt eine neue Reflexion

Überlegt werden muß, was an den Veränderungen innerhalb des Familienbildes
1. Zerfallserscheinungen sind,
2. was Änderung einer gesellschaftlich bedingten Form bzw. überholte Leitbilder,
3. und was ein Fortschritt im Hinblick auf einen ganzheitlichen, humanen Anspruch darstellt.
Die Familie weist heute eine religiöse Entfremdung auf, die uns Sorge bereiten müßte. Verursacht wird diese religiöse Entfremdung auch berechtigterweise durch unnötige Härten innerhalb der herkömmlichen religiösen Institutionen, falsche Akzentsetzung und männliche Orientierung.
Früher, als die Ehe auf der Zeugung und Erziehung der Kinder aufgebaut war, wurde keine persönliche, reife Entscheidung vorausgesetzt, sondern sie war Resultat der Entscheidung des Familienoberhauptes im Interesse der Sippe.
Während die alte Familie viel stärker durch wirtschaftliche, gesellschaftliche, kulturelle und traditionelle Aufgaben gesichert war, ist die Familie der modernen Gesellschaft viel mehr auf ihre geistigen, seelischen und moralischen Kräfte angewiesen. Dies birgt Gefahren und Chancen.

In einer modernen Welt, wo Ehe als Liebes- und Lebensgemeinschaft zwischen den Eheleuten verstanden wird, wird vom Individuum eine größere Reife und Bewußtseinsentwicklung verlangt.

Man läuft sogar in der Theologie Gefahr, die Kleinfamilie zu idealisieren. Auch der Satz des II. Vatikanums von der Ehe als Liebes - und Lebensgemeinschaft zwischen den Eheleuten kann die Idee der Familie als geschlossenem Kern fördern.

Der Glaube bindet uns nicht an ein Familienmodell oder an eine besondere Ideologie über Familie. Er hat Werte aufgrunddessen sich die Familienmodelle orientieren kann.

Vorteile der Kleinfamilie:
Die Kleinfamilie beschleunigt die persönliche Reifung des einzelnen. Die Betroffenen bestimmen ihr eigenes Schicksal, sie sind zu Selbstverantwortlichkeit und Liebesfähigkeit aufgefordert. Das Kind wird im Gegensatz zu früher als Frucht der eigenen Liebe verstanden. Lebensvorstellungen müssen von der Kleinfamilie selbst verwirklicht werden.


Gefahren und Nachteile der Kleinfamilie
Unter den Gefahren und Nachteilen der Kleinfamilie ist die Einsamkeit der Eheleute zu nennen: sie sind allein und ohne Hilfe in ihren Gefühlskrisen, aufgesaugt in den familiären Verpflichtungen.

Die Kleinfamilie, die sich ausschließlich auf der romantischen Liebe aufgebaut hat, steht auf schwächeren Füßen, weil die sexuelle Zuneigung unbeständiger ist.

Die Frau wird an den Rand gedrängt durch ihre häuslichen Verpflichtungen und sich daraus ergebende Absonderung in der Aufgabe, die Kinder zu erziehen. Dem Vater wird Verantwortung abgesprochen, da er weit weg von der Familie arbeitet in einer immer bedeutungsloseren Beschäftigung (z. B. Schichtarbeit). Es entsteht eine vaterlose Gesellschaft.
Es mangelt an sozialen Möglichkeiten, auch für die Kinder, so daß sie schon in ihrer ersten Kindheit mit Komplexen beladen werden.
Die älteren Menschen werden aus dem sozialen Leben ausgeschlossen. Das Zusammenleben der verschiedenen Generationen jedoch wäre wichtig für eine seelische und geistige Unterstützung der Jüngeren.


Nebenprobleme

a) Protest gegen die familiäre Autorität

Als Ergebnis dieser industriellen Entwicklung stellen wir einen Verlust der familiären Autorität fest. Die Jugendlichen lehnen sich gegen die Eltern auf. Während man früher sein Leben lang an die Eltern gebunden blieb, ist es heute ein erklärtes Ziel, sich von den Eltern gefühlsmäßig zu lösen. Während das Arbeitsleben früher trotz seiner Härte, den Menschen als ganzes Wesen forderte und ihm dadurch Sinn gab, reduziert die heutige Produktionsgesellschaft den Menschen zur Maschine. Dadurch verlieren die Eltern ihre Rolle als Leitbilder. In einer Arbeitswelt, wo der Mensch zu einer maschinenhaften Arbeitsweise gezwungen wird und dabei seine Persönlichkeit und seine Würde einbüßt, gerät der Vater in Mißkredit vor den Kindern und kann für sie nicht mehr Modell sein.

Die Eltern büßen ihre Rolle als Erzieher ein. Sie scheinen immer mehr zu Fremden zu werden, nicht mehr zu Vertretern des Familiengeschlechts. Das Elternpaar weist eine wachsende Instabilität auf. Der Einfluß der Familie auf das Kind geht zurück zugunsten des Einflusses der Umwelt: das Fernsehen, die Schule; die Altersgenossen wirken stärker auf das Kind ein.

Die Gesellschaft, in der alles erlaubt ist, verursacht andererseits z. T. ein verstärktes autoritäres Verhalten der Eltern als Gegengewicht. Dadurch geraten die Kinder und Jugendlichen in einen Zwiespalt.

Auch die Gesellschaft, die von Konsumdenken bestimmt ist, kann keine Modelle und Leitbilder vermitteln. Menschenbilder sind mit Weltbildern verbunden. Wenn man sie reduziert auf individuelle, subjektive Bilder, z. B. Leben ausschließlich im Hier und Jetzt, materieller Wohlstand usw. wird ein verläßliches Menschenbild ausgelöscht. Die Gesellschaft klammert sich jetzt immer mehr an Bilder bzw. Werte der Massenmedien, Werbung etc. Die anonyme Gesellschaft konfrontiert den Menschen nur noch mit sich selbst als Individuum. Die Familie wird zum isolierten Kern und wird zudem als Werkzeug dieser Industriegesellschaft benützt. Die Konsumgesellschaft hat Interesse daran, daß es überwiegend Kleinfamilien oder gar Singles gibt, weil dies den Konsum steigert, z. B. es werden mehr Häuser, Wohnungen, Einrichtungsgegenstände usw. gebraucht. Auch der Nahrungsmittelverbrauch ist bei Singles bzw. in Kleinfamilien höher als in Großfamilien.

Parteien, Kirchen und Verbände machen im allgemeinen nichts gegen den Orientierungskonflikt zwischen beruflicher Entfaltung und Familiensinn. Die Arbeitswelt verlangt ebenso wie die Familie den totalen Einsatz.


b) Frauenemanzipation:

Die Frau identifiziert sich nicht mehr nur mit der Mutter- und Gattinnenrolle. Die industrielle Revolution ermöglichte ihr Selbstbestimmung, so daß sie die Ehe auch als ein Instrument der Unterdrückung und Entfremdung erlebt. Der Mann nimmt die Frau nicht nur als Hausfrau wahr, sondern auch als Kollegin und Partnerin in sozial anerkannten Bereichen.

Im Gegensatz zu früheren Zeiten stellen wir eine Aufwertung der weiblichen Sexualität fest. Sexualität wird begriffen als Mittel des Dialogs, der nicht nur unter dem Gesichtspunkt der Familiengründung und der Ehe gesehen wird. Dies bringt die Frau auch aus ihrer passiven Rolle heraus. Sie wird zur verantwortlichen Person und eigenständigen Partnerin.

Die Frau hat nicht nur eine relative Gleichberechtigung erreicht, sondern es entstand auch eine Verwischung der Unterschiede zwischen Mann und Frau. Die Emanzipation wurde zweifellos sehr stark durch die Industriegesellschaft vorangetrieben. Hier muß die Frau aufmerksam sein, daß ihr nicht das gleiche geschieht wie dem Mann, d. h. daß die Frau nicht wie der Mann nach dem Männerbild der Industriegesellschaft umfunktioniert wird. Die unterschiedlichen Fähigkeiten von Mann und Frau sollten als Bereicherung wahrgenommen werden.

Eine wohlverstandene Emanzipation der Frau, die aus einem Personen- und Individualitätsbewußtsein kommt, würde zu einer geistigen Vertiefung des einzelnen und zu einer reiferen zwischenmenschlichen Beziehung führen. Dies könnte auch die innere Entfaltung des Mannes als Folge haben.

Konstruktive Kritik

Wir leben in gewisser Weise in einer totalitären Gesellschaft, in der die Bedürfnisse manipuliert bzw. künstlich geschaffen werden durch Industrie, Massenmedien und Politik mit dem Ziel, mehr Konsum und Abhängigkeit bzw. Zügelung des Menschen zu erreichen. Dabei soll das kritische Denken ausgeschaltet werden. Dahinter steckt die Absicht, den Menschen einfacher handhaben zu können. Der Mensch kommt dahin, daß er auf die menschliche Würde verzichtet.

Die Gesellschaft und Politik, teilweise auch die Religion werden von Technik und Wirtschaft beherrscht. Sie bedingen und kontrollieren die gesellschaftliche Anpassung der Massen. Bürokratie wird immer weniger zum Dienst und immer mehr zur Kontrolle.

Politiker sehen die Familie hauptsächlich unter wirtschaftlichen Gesichtspunkten, z. B. als Institution zur kostengünstigen Kinderpflege. Die Familie wird nicht ernstgenommen bzw. als Werkzeug benutzt durch eine falsch verstandene sozialdemokratische Sozialpolitik (Familie als Überbleibsel von Konservativismus und Bourgoisie), die sich verbinden mit den Neokonservativen, die in der Familie eine Möglichkeit sehen, ihre Mißwirtschaft zu retten. Ökonomische Defizite sollen von der einzelnen Familie ausgeglichen werden, z. B. indem sie weitgehend für die Erziehung und das Studium der Kinder aufkommen muß, ebenso bei der Kostenübernahme für Eltern oder Kinder im Falle von Arbeitslosigkeit und Abgleiten in die Sozialhilfe etc.

Die Gesellschaft lebt von der Spannung zwischen individuellem Wohl und Allgemeinwohl. Es wäre eine Täuschung zu glauben, daß das Allgemeinwohl lediglich die Summe des persönlichen Wohls aller ist.

Die Industriegesellschaft leidet an Entseelung, Anonymität, Vereinsamung, Bürokratisierung und Allmacht des Staates. Hier hat die Familie eine besondere Aufgabe zum Schutz der Persönlichkeit, Freiheit, Moral und hat eine unmittelbare Verantwortung bei der Zukunftsgestaltung. Sie ist die einzige Institution, die durch alle Zeiten hindurch bleibt. Das Wohlergehen der Person und Gesellschaft sind vom Wohlergehen der Ehe und Familie abzuleiten.

Familie könnte bewußt als Gegenpol zu einer immer gleichförmiger werdenden Gesellschaft gefördert werden. Das setzt ein anderes Bewußtsein von Gesellschaft und Verantwortung gegenüber der Gesellschaft und der Individuen voraus. Sie sollte Maßstab der gesellschaftlichen Entwicklung sein, und nicht der Entwicklung hinterherlaufen.


Vorschläge

Es ist eine kind- und familiengerechte Stadtplanung nötig, wo Lebensräume und gesellschaftliche Entfaltungsmöglichkeiten geboten werden, so daß Familien in eine lebendige Gemeinschaft hineinwachsen, wo sich Vater, Mutter und Kinder in einer Vielfältigkeit von Modellen ausdrücken können und wo Kinder die Möglichkeit haben, sich mit der Erwachsenenwelt zu identifizieren. Es ist eine Ausweitung der Familie notwendig, so daß Kinder nicht nur an die eigene Familie gebunden sind. Würde die Isolierung der Familie aufhören und in größeren Gemeinschaften, z. B. in Wohngebietsgemeinschaften tatsächlich eingebettet sein, könnte sich jeder sinnvoll mit seinen Fähigkeiten einbringen und nach außen wirken. Ein extremes Beispiel dafür wäre eine Art Kibbuz. Wenn eine solche Form des Zusammenlebens auch nicht das Erstrebenswerteste sein muß, könnte die Gesellschaft doch stärker in diese Richtung gehen. Dies würde sich auch dahingehend auswirken, daß ein familiärer Egoismus und die familiäre Abkapselung abgebaut werden. Neue Gefühlsbindungen könnten dabei entstehen mit dem Ziel einer interfamiliären Gesellschaft.
Wir brauchen ein neues Gefüge von Möglichkeiten, in dem die Familie sich entfalten kann.

Die Stärkung der Familie setzt auf der äußerlichen Ebene voraus: Arbeitszeitverkürzung und eine andere Arbeitszeitverteilung, familienfreundliche Wohnungsbaupolitik, die nicht nur die Kleinfamilie im Blickfeld hat, sondern auch ein Zusammenleben mehrerer Generationen ermöglicht, außerdem finanzielle Verbesserungen für Familien und mehr Bildungs- und Berufschancen für Frauen.


Schlußfolgerungen

In der Familie findet der Austausch der Güter und Dienste auf der Grundlage der Liebe statt. Das Ideal wäre, in der Familie einen vollkommenen Kommunismus nach der Formel zu praktizieren: Jeder gibt nach seinem Können und jeder erhält nach seinem Bedarf. Dies bedeutet Ansporn zu Selbstlosigkeit, Hingabe, Opferbereitschaft und Selbstüberwindung. Die Familie wird zu einem Ort, in dem Empfindungen und Überzeugungen gemeinsam gelebt und auf die kommende Generation übertragen und im Alltag verwirklicht werden.

Die Familie weist hinaus auf die Menschheitsfamilie, da in ihr der Grundstein gelegt wird für das Verbundensein mit anderen Menschen und sie ist gleichzeitig Symbol der Einheit.

Dom Helder Câmara sagt: "Entscheidet Euch ein für alle Mal für die Menschheitsfamilie. Lebt im Maßstab der Erde oder besser noch des Universums."

António da Cunha Duarte Justo

Vortrag in der Stadthalle Baunatal
April 1992

domingo, 9 de maio de 2010

ANTICATOLICISMO UM DISTINTIVO DO FANATISMO MODERNO

A Fé é a Razão crítica no Monopólio da Razão e das Leis da Natureza



António Justo

O jornalista Christopher Hitchens, antigo partidário do trotskismo e depois defensor da Guerra contra o Iraque, rufa, por todo o lado, os tambores contra Bento XVI. Desde que o Papa se insurgiu publicamente contra a política de Busch no Iraque surgiu nos media dos Estados Unidos da América uma campanha feroz contra o catolicismo que depois passou para a Europa. Ideólogos americanos e ingleses não perdoaram à Igreja católica o facto de ele ter condenado a guerra. A cruzada contra o papado é motivada por razões laicistas e por um certo desalento nas esperanças dos reformistas dentro da Igreja.

Ed Koch, antigo presidente da cidade de Nova Iorque, pressupõe que por trás da campanha contra o catolicismo, esteja “a atitude da Igreja contra a guerra, contra o aborto e contra o reconhecimento da união homossexual como casamento”. A Igreja, embora “semper renovanda” não pode estar dependente das ondas e campanhas dos seus adversários. Precisam-se instituições estáveis e de confiança, não dispostas a mudar de opinião como cata-ventos. Estas campanhas obrigam a Igreja a ser mais consequente no conservadorismo, o que não favorece um certo agiornamento necessário.

Opinião bota-de-elástico favorece a Demagogia

A sociedade cada vez se torna mais vítima dum facilitismo sem raízes nem precisão. Aos poderosos, como a verdade só complica, basta-lhes a opinião. Os seus multiplicadores seguem as ideologias como as folhas das árvores o sentido do vento. Os meios de comunicação social transformam-se no bombo da festa. E o povo, sem tempo nem saber para entender o canto, segue o ritmo dos zé-pereiras da praça.

Hitchens, o guru do fanatismo contra o catolicismo, vê na religião em geral um “veneno mortal”. Tornou-se, assim, o estandarte de muitos que querem ver a ideia de homem associada ao animal selvagem. O laicismo, no seu programa de paganizar a sociedade, declarou guerra ao cristianismo a partir da revolução francesa, mas com a queda do socialismo real (muro da vergonha) adoptou o fanatismo que na Europa antiga andava ligado às crenças religiosas. Os prosélitos laicistas, que ambicionam ocupar os Estados, pretendem denegrir a única instituição moral global capaz de desmascarar os poderosos da Terra. Num mundo do ódio e da desordem tornar-se-á mais fácil impor a lei do mais forte no desdém duma moral superior que defende o direito dos fracos e oprimidos a uma vida digna.

O fanatismo anticristão, pretende o absolutismo laicista, o monopólio da razão e de certas leis naturais. Não suporta que centenas de milhares de pessoas se dediquem, sem receberem compensação económica, à defesa dos pobres e oprimidos e que a instituição, também ela pecadora como todo o terreno, levante a sua voz dando voz aos outros.

No tempo da globalidade não suportam a instituição global mais antiga do mundo a fazer-lhes sombra. Atacam toda a moral para, com a ruína dos valores, ruírem também os estados e reiniciarem os tempos das barbaridades e do politeísmo favorável ao caciquismo.

Gente de formação unilateral não suporta a existência pacífica de crentes e ateus, de republicanos e monarcas, numa relação de complementaridade. Aferrados na sua crença ateia e política combatem a crença dos outros desacreditando-a, como se toda a crença não fosse um salto no abismo!

Confiantes na ditadura da opinião bota-de-elástico, implementada por um partidarismo de ocasião e por um mercantilismo e socialismo ferozes, conseguem desestabilizar, apenas com palavreado e sem obras, muitos que vivem sob a trela da opinião publicada.

A iniciativa “Preservativos” ao “Papa em Portugal” vai distribuir 25 mil contraceptivos em lugares por onde o Papa passa. Vive-se de campanhas e não duma discussão diferenciada como se fosse exigido aos crentes o uso dos preservativos contra a própria consciência. As estatísticas de estudos internacionais provam que, nos países africanos com mais católicos, a SIDA está muito menos alastrada do que onde os preservativos são distribuídos. Ideólogos não suportam instâncias que apelam ao indivíduo a pensar pela própria cabeça e a decidir ponderadamente. No cristianismo, a nível moral, a consciência individual é o juiz superior. Isto pressupõe esforço individual e responsabilidade social.

Razão Cristã contra Monopólio das Leis da Natureza

A Fé cristã integra a razão e tornou-se na razão crítica ao monopólio da razão e das leis da natureza. A Igreja é necessária. A fé orienta-se contra a exclusividade das leis da natureza. O processo da ressurreição, a vida eterna, um Deus humano em três pessoas (que não se contenta com o diálogo mas pressupõe o triálogo), a assunção, o celibato, são exemplos que não se deixam sintonizar com as leis da natureza, tal como a ideia não se deixa sintonizar com a realidade que descreve. A fé constitui um contrapeso às leis mecanicistas e deterministas da macro-física e às teorias do darwinismo social. O cristianismo segue a sabedoria do não só… mas também…

Com a fé cria-se um espaço crítico, uma dúvida contra o monopólio das leis naturais e da razão. A fé possibilita o alargamento do horizonte, ajuda a levantar os olhos transcendendo-nos dum ser reduzido a ovelha de boca na erva e de olhar no traseiro da vizinha! A fé cristã possibilita a libertação do imediato, a libertação de si mesmo, a libertação das ideologias, do Estado e da própria crença.

A igreja é uma obra de solidariedade universal para pessoas crentes e que serve os oprimidos da sociedade e também os não crentes. A luta destrutiva, a que se assiste contra a caritas que provém da fé, deve ser contrabalançada por exigências de verdade e serviço à comunidade. Toda a instituição é um mal menor a ser continuamente corrigida por cada um. A intolerância contra o cristianismo é tolerada e promovida apesar deste ser, nos tempos actuais, o grupo mais perseguido e ainda com mais mártires do que em qualquer época passada. Hoje ideólogos tornam-se milionários escrevendo livros e publicando meias verdades ou mentiras.

Também as pessoas que não se deixam orientar só pela razão têm direito a um lugar que lhes pertence e os acompanhe pela vida fora.

Pelas obras e não pelas palavras devem ser julgados. Há muitos lobos por todo o lado. Eles comem tudo e não deixam nada…

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
antoniocunhajusto@googlemail.com
http://blog.comunidades.net/justo/

terça-feira, 4 de maio de 2010

EXPRESSÕES CONCRETAS DA FEMINIDADE

MARIA – MAIO – FÁTIMA
EXPRESSÕES CONCRETAS DA FEMINIDADE

António Justo
Maio é o mês das flores (maias), é o mês de Maria (da feminidade), o mês do povo. Maria, tal como a natureza em Maio, assume as mais diversas expressões. As diferentes devoções a Maria são, também elas, manifestações da multiplicidade da realidade e das imagens da alma humana. A natureza feminina manifesta-se em Fátima, a 13 de Maio de 1917. A região de Fátima já era, antigamente, um lugar alto a nível de forças telúricas; com as aparições da cova da Iria torna-se também num altar da espiritualidade feminina.

Maria insurge-se contra a guerra e contra os extravios da Rússia. O Povo Português, tal como nos séculos XIV e XV, recorda-se da sua missão histórica de dar “novos mundos ao mundo” nos descobrimentos, e redescobre-se, pela voz de três pastorinhos, na missão de levar a Rússia ao bom caminho, através da oração. Este foi um ponto alto da consciência nacional portuguesa. Num momento em que a Portugal se alienava de si mesmo com guerrilhas ideológicas e as nações se encontravam em guerra, consegue iniciar um movimento com repercussões mundiais na luta contra o comunismo de carácter estalinista e marxista.

Maria, tal como a alma humana, tem mil rostos. Expressa-se como mãe, rainha, virgem, auxiliadora, a Senhora de Lurdes, de Fátima, etc. Nela se manifesta também a nossa geografia espiritual, o nosso ser de paisagem no tempo e no espaço. Em Maria se expressa a escrituras e a tradição, a espiritualidade e a teologia, o rito e o folclore. Nela, tal como em Cristo, encontra-se o ser humano completo.

A teologia feminista procura ver nela sobretudo a dimensão humana (1). Maria é a mulher expropriada. Ao pôr-se na disponibilidade do acto criador, Maria, e com ela a mulher, é libertada das correntes que a submetem ao homem e à sociedade. Na sua disposição e abertura ao espírito ela torna-se o protótipo da criação, da arte – o dar à luz em si. Torna-se a imagem de todo o artista cujo programa se realiza no Magnificat. Nele se revela o segredo do processo de expropriação, o programa para todo o homem e mulher na integração da polaridade, superando assim a exploração e o domínio sobre o outro.

Um pensar caracteristicamente masculino, o racionalismo exacerbado, não entende os meandros duma realidade, toda ela, formada na/da complementaridade. Por isso, nos seus excessos repudia Maria, repudia a religião, que são a força e o símbolo da realidade feminina na humanidade e no universo. O povo, com as suas exigências integrais, é um factor correctivo da história do pensamento humano demasiado elitista e selectivo, e pelo facto, não integrador.

Na teologia feminista Maria, como todos os símbolos religiosos, pode ser vista das mais variadas perspectivas. Maria é ao mesmo tempo submissa e insubordinada. O movimento emancipador das mulheres procura em Maria marcas em que se apoie. Muitas vêem nos evangélicos, na sua acentuação só em Cristo, a esconjuração dos restos da feminidade na religião

O feminismo radical, de carácter mais masculino, numa estratégia polarizante, procura conquistar terreno vendo em Maria a deusa das origens. Independentemente dos abusos masculinos, na interpretação do divino, deve recordar-se que o Cristianismo original não é de conotação sexual nem se deixa reduzir a interpretações, a perspectivas e maneiras de ver próprias do tempo. Estas dependem do desenvolvimento da consciência humana e do espírito correspondente a cada época, dando às interpretações uma certa relatividade. Fé mais que um credo é uma vivência, uma mística e só assim universal na sua integralidade.

Os Tempos estão maduros para se compreender o Significado de Maria, a Mitigação do Machismo histórico

A História profana, e em parte a história religiosa, tem sido uma história masculina, uma história de machos. Com o irromper dos novos tempos, do século XXI vai sendo tempo de integrar na sua feitura histórica o pólo feminino da humanidade.

Os tempos vão estando maduros para compreender o significado de Maria. Muitas das imagens de Maria são pré-cristãs. Maria cristianiza as deusas pagãs e assume as suas residências num processo espácio-temporal evolutivo. Nela se reúnem todas as metáforas femininas e se encontra a abertura do limiar do tempo novo. Maria é a Deusa secreta do Cristianismo e um apelo à Humanidade para reconhecer a complementaridade da vida. As suas aparições expressam também o grande poder da realidade do inconsciente individual e colectivo.

Também o peregrino, no seu caminhar, se sente como parte dum todo; o povo, a natureza respondem ao chamamento interior. Também por isso, será inútil muito do esforço de padres na tentativa de racionalizarem (masculinizarem) certas práticas e promessas dos crentes a Nossa Senhora. A razão é também ela demasiado masculina e unilateral para poder compreender a outra parte da natureza humana. Assim assiste-se a um exagero (polarização) tanto na análise como na prática religiosa: Animus contra anima.

De momento assiste-se, porém, a uma tendência de espiritualizar a natureza, num regresso aos cultos pré-marianos e a um politeísmo de carácter biotópico particularista. A masculinidade, com a sua maneira de pensar racionalista acompanhante, domina toda a sociedade e até os recônditos mais genuínos da feminilidade (“sentimento”) o que conduz a uma reacção social de fuga e de acentuação do outro extremo, a irracionalidade. O irracionalismo, em voga, favorece tudo o que está fora da tradição bíblica e da tradição católica. Refugia-se, muitas vezes, numa interpretação feminista de espiritualidade à la carte, dirigida apenas para a corporeidade e adversa à razão. O mundo da racionalidade usual não deixa espaço para imagens, ficando estas, quando muito, limitadas ao mundo da religião e da arte. A capacidade de compreensão simbólica torna-se, no dia a dia, cada vez mais difícil. A alma porém revela-se e fala através de imagens. O desequilíbrio manifesta-se no negócio com os devocionais e o esoterismo florescente. Há que reconciliar a masculinidade com a feminidade, a razão com a intuição.

Maria é a mulher fértil que transmite a vida. No princípio está a mãe original. A mulher traz a vida sem a intervenção do homem. Maria virgem e mãe é a metáfora dum novo começo. As imagens de Maria surgem da base. Ela torna-se o protótipo, a mulher, a mãe da humanidade; ela encontra-se no centro de cada mulher, de cada homem e da natureza.

O humanismo de Jesus foi em parte absorvido pela cultura. O problema é que um humanismo radical pretende abdicar da tradição, da memória, da terra que possibilita a vida: a mulher. Na memória é que se procria e se dá o nascimento espiritual.

Da Sociedade Machista para a Sociedade integral

“Aquele que faz a minha vontade é meu pai, minha mãe e meu irmão”. O mestre de Nazaré estoira com os papéis a que as pessoas se encostam, sejam eles familiares, sociais, políticos, religiosos ou de sexos; faz a revolução das revoluções. Com Jesus e com Maria irrompe o tempo do homem-mulher adulto. Homem e mulher estão chamados a integrar em si o animus e a anima, o masculino e o feminino. Para João a filiação divina (adulta) só acontece no Espírito Santo, na liberdade criativa. Supera-se a dominância do género! Maria, a pessoa, engravida por obra do espírito santo, por força do Espírito e não apenas pela obra do macho. A dimensão do espírito é reconhecida como essencial, como formadora da realidade mas não definível nem localizável numa só dimensão particular. Com Maria e seu filho, o Homem-Mulher emancipa-se da tribo e do papel sexual e social que desempenha. O seu valor acontece na ipseidade que implica uma relação já não binária (da dialéctica) mas trinária (da trindade), não já pela afirmação pela contradição (de opostos objectivantes) mas na afirmação na complementaridade (relacional personificante). Passa-se para uma estratégia/vivência já não apenas de diálogo mas de triálogo.

Para o evangelista Mateus Jesus reúne em si as esperanças dos judeus na adopção de Jesus por José, descendente da casa de David (tradição), e a esperança de toda a humanidade no totalmente novo como filho do espírito (O Homem novo surge duma virgem e não de alguém com poderes sobre ele – O Homem/Mulher da Nova aliança é o novo Adão/Eva, o Homem/Mulher em contínua recriação). Reúne a tradição e o novo numa identidade nova e própria. Ele é o esperado que através do espírito apresenta o totalmente novo, não precisando dum legitimação fora dele; é o Homem novo. Deus intervém assim, histórica e misticamente, através do espírito. A imagem judaica tradicional de Deus é superada. Maria, na anunciação e concepção, embora ligada a David, indirectamente através de José, realiza nela a aliança histórica de Deus ao povo de Israel alargando essa aliança a todo o indivíduo, a todo o cidadão do mundo, através do gerar por acção do espírito. (Naturalmente que na bíblia se trata de teologia e não de mera Biologia ou de História, como gostariam os racionalistas que sonham com uma igreja muda, ou uma forma de pensar masculina do “divide et impera”.) O acto legitimador não se reduz ao institucional histórico, ele passa a ser o Espírito que sopra independentemente de condicionamentos e condicionalismos.

No Magnificat, as vítimas tornam-se sujeito da acção. A salvação vem de baixo e não de cima, como querem os poderes/pensares racionalistas e o poder estabelecido. Hoje, mais que nunca, necessita-se de uma exegese, duma história, duma política com uma veia mística. No caminho místico dá-se a convergência da transcendência com a imanência, do masculino com o feminino.

Não podemos reconhecer só a terra como deusa, como quer o feminismo radical (lógico) infecundo nem só o céu como horizonte descontextuado como pretende a dialéctica do pensar masculino. Num processo aberto à mística conseguir-se-á reconciliar o mundo das ideias com o da realidade, o mundo do espírito com o da matéria, as elites com o povo. Seria falso desmiolar os mitos. O mito age a partir do que está escondido, na confluência da força vertical com a força horizontal. Todo o componente da realidade está integrado num todo global complementar, num sistema dinâmico relacional na interligação dos campos físico, fenomenológico e espiritual como manifesta a visão trinitária.

No mês de Maio por todo o mundo católico se observa grande actividade em torno de Maria. Muitas vezes as celebrações litúrgicas são orientadas por leigos. Nestas liturgias marianas privilegia-se a feminidade. A reza do terço é uma forma de meditação global que integra nela a inspiração e a expiração em ritmo complementar. Em liturgias, paraliturgias e actos seculares deveria dar-se mais relevo ao papel da feminidade.

Um aspecto importante que se enquadraria dentro desta espiritualidade seria a introdução de ritos de imposição das mãos em todas as paróquias. Aí, todos os participantes, em resposta à diversidade dos dons do espírito santo em cada um, poderiam criar ritos em que, também o tratamento de corpo e alma, a cura dos fiéis presentes se tornassem práticas usuais, mediante a imposição das mãos por parte dos fiéis. Isto corresponderia a uma necessidade real e cuja vulgarização poderia ter como orientação a bênção dos enfermos realizada em Fátima nos dias treze, bem como certas práticas dos movimentos carismáticos. As liturgias marianas poderiam tornar-se num exercício com expressões mais adequadas às necessidades do lugar e do tempo, num dar resposta aos sinais dos tempos. Maio é um apelo à política, à religião, à economia a integrar na sua masculinidade o outro pólo da realidade que é a feminidade. Esta encontra-se oprimida pela dinâmica dum poder e dum pensar todo ele masculino.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
antoniocunhajusto@googlemail.com
http://blog.comunidades.net/justo/

(1) Sabe-se da investigação teológica que o modo de pessoas compreenderem a bíblia depende muitíssimo da sua pré-atitude. A cabeça do leitor, formata à sua medida um texto virtual a partir do texto bíblico que tem pela frente. Também o modo de compreender o texto se processa diferentemente. Enquanto que leitores ligados à igreja compreendem o texto num contexto global bíblico, leitores sem experiência eclesial procuram o acesso ao texto através da perspectiva histórica. O mesmo se dá em relação a nível de culturas. O animus, com a sua maneira de pensar masculina polar exclui , a anima como maneira de pensar mais integral (feminina).