quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

GOVERNO SOCIALISTA SERVE A SUA CLIENTELA A PRETEXTO DO ENSINO

CORRUPÇÃO ESTATAL EM PORTUGAL
GOVERNO SOCIALISTA SERVE A SUA CLIENTELA A PRETEXTO DO ENSINO

O que o Presidente Cavaco Silva defendia como Solução “equilibrada” revela-se como uma Catástrofe

António Justo

No Centenário da República Portuguesa, socialistas e republicanos aproveitam o ensejo da comemoração, para reforçar a secularização republicana iluminista e marxista. Fazem-no, já não à maneira do Marques de Pombal que perseguiu barbaramente os jesuítas e as suas escolas. O despotismo de cara lavada, através do governo actual, realiza os seus intentos, duma maneira discreta e sistemática, através de decretos e resoluções do gabinete do governo e duma estratégia de infiltração dos seus boys e Girls em toda a instituição de nome e de dinheiro. Criam-se subterfúgios legais de favoritismo para os seus comparsas do partido e para irmãos da maçonaria. A infiltração na administração pública e nos conselhos de empresas públicas e privadas revela-se uma boa estratégia de perpetuação das coutadas da ideologia da nova “Idade Média”, dos donos da democracia! Os dinheiros da Europa deslizam em instituições à semelhança do Parque Escolar, E.P.E., onde irmãos, camaradas e companheiros são providos em nome do serviço público. Este governo constituiu uma empresa chamada “Parque Escolar”, E.P.E. com o fim de concretizar o programa aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 1/2007 de 3 de Janeiro. Ela é responsável pela recuperação das escolas estatais degradadas e pela construção das novas. Como o Estado não lhe paga, ela endivida-se aos bancos (que estão naturalmente em boas mãos!) Mais ano menos ano todos as escolas do Estado se tornam propriedade das instituições financeiras a quem foram hipotecadas. Formam-se assim as parcerias público-privadas que extorquirão o dinheiro ao Estado (contribuintes), quanto quiserem por aluno.

Como exemplo de corrupção estruturada pode-se verificar o Decreto-Lei 72-A/2010, de 18 de Junho, que vem possibilitar concursos relâmpagos para contratos de locação ou aquisição de bens móveis ou de serviços. Este vem possibilitar arranjos de compadrio em favor da Parque Escolar (cfr. https://www.compraspublicas.com/?a=showNoticia&id=2277). Faculta-se, assim. o lançamento de concursos de obras públicas pelas autarquias com prazos de entrega que vão de 24 horas até 72 horas para empreitadas de dezenas de milhões de Euros. Nestas condições só os ‘iniciados’ têm oportunidade de receber a empreitada!

O Banco Europeu de Investimentos (EIB) faz um empréstimo, em curso, de 600 milhões de Euros, ‘em condições favoráveis’ à sociedade estatal Parque Escolar para modernização escolar como revelou Carlos da Silva Costa vice-presidente do EIB e confirmou o Presidente de Parque Escolar, João Sintra Nunes. O programa propõe-se modernizar 332 escolas secundárias até 2015.

O decreto-lei acima referido vem salvaguardar interesses dos amigos da gamela! Só numa sociedade corrupta, disfarçada e favorecedora da corrupção, se implementam práticas e decretos de concessão de empreitadas públicas tendentes a prejudicar o Estado e a favorecer prosélitos. Isto acontece em Portugal à luz da democracia partidária.

Ataque aos colégios com Contrato de Associação como estratégia de implementação de escolas público-privadas resultantes da intervenção da “Parque Escolar”

Numa acção surpresa, pela calada da noite, o Governo de Sócrates quer fazer cessar, através de resolução do seu Conselho de Ministros, a 31 de Agosto de 2011, os contratos simples de patrocínio e associação estabelecidos com estabelecimentos de ensino particular e cooperativo. O Estado tem contrato de associação com 93 colégios portugueses onde os alunos não pagam para estudar. Com esta medida os mais carenciados serão os primeiros a terem de abandonar o colégio escolhido.

O Presidente da república acaba de promulgar o Decreto-Lei n.º 138-C/2010
de 28 de Dezembro, regulamentado pela Portaria n.º 1324-A/2010.
Aquilo que o Presidente anunciara como solução “equilibrada” na revisão do regime de contratos entre o Estado e o Ensino privado revela-se uma catástrofe, sobretudo para as escolas com contratos de associação.

O grande ataque em curso é sobretudo aos colégios com Contrato de Associação, isto é, os "financiados" pelo Estado. As elites instaladas não suportam que os meninos e meninas das classes desfavorecidas, que se encontram “mais permeáveis à antropologia cristã” como revela o psicólogo J.A.Fernandes, se tornem seus concorrentes, através duma formação esmerada e concorrente transmitida por escolas privadas. O que, formalmente, se manifesta como um ataque a todo o ensino privado é, na realidade, o ataque ao ensino da Igreja. Já que não podem expulsar os religiosos pela 4ª vez, querem expulsar a Igreja do ensino, sobretudo do ensino aos pobres. A finalidade escondida, é que o ensino passe todo para as mãos de certos privados com lucros chorudos que o povo vai ter que pagar. Neste momento, um colégio com Contrato de Associação custa ao erário público cerca de 4100 € aluno/ano. Os futuros (já existentes) consórcios público-privados, resultantes da “Parque Escolar”, não se contentarão com menos de 10000€ ou mais aluno/ano. Vai ficar tudo na mão de consórcios privados a sugarem os contribuintes. Estes consórcios de escolas público-privados terão nos seus conselhos administrativos os boys e Girls dos partidos e redes supra-estruturais. Assim dão mais um passo no sentido da instauração duma matriz de hegemonia partidária sobre uma democracia nominal! Entre estes privados não pode estar a Igreja, porque se tornaria num desmancha-prazeres. A antropologia cristã não seria favorável ao deboche total.

Dinheiros públicos e da União Europeia encontram os seus canais naturais favorecidos por redes pessoais e estruturais (partidos e maçonaria) e a sua legitimação nos irmãos e companheiros do sector político através de viabilização destes por decretos e leis.

O Governo usa de duas medidas declarando guerra às escolas do ensino público privado para salvaguardar os próprios interesses na sua rede E.P.E. e decreto-lei. O ensino público de administração privada é visto apenas como recurso para suprir os défices de cobertura do sistema público de administração estatal até que os partidos, através de futuros consórcios de escolas público-privados possam garantir o parasitismo grassante em Portugal.

Oitenta mil alunos e dez mil empregados do ensino público de administração privada encontram-se em risco. Esta medida levará colégios, que se dedicam a crianças mais desfavorecidas, a terem de encerrar as suas portas. Os estabelecidos e com poder para pagar os seus colégios não suportam que haja colégios concorrentes onde os mais humildes possam participar duma educação esmerada como a deles.

O socialismo português tem-se revelado contra a liberdade de opção na escolha da escola; quer a educação nas suas mãos à maneira de Esparta. Quer-se tornar o senhor exclusivo da educação e da moral popular, reservando para os do poder, para os do dinheiro, a faculdade de meterem seus filhos em colégios da sua escolha. A Igreja, e com ela o povo português, dormem ao não saírem para a rua em defesa dos interesses do povo, não contestando massivamente o que um secularismo militante tem vindo a destruir, numa sociedade que se quer moderna e aberta.

Devido à conivência entre partidos e aparelho do Estado, onde há mais Estado há mais gastos; falta a concorrência ideológica e qualitativa. Num Estado sem escolas com projectos educativos alternativos, o povo é mais fácil de encurralar, seguindo mais facilmente a vara da ideologia estatal a dominá-lo.

A má informação criou a ideia que o ensino público de administração particular é para pessoas que querem fazer figura de ricos. O ensino, quer público estatal, quer público privado é suportado pelo contribuinte que, ao optar pelo público privado, paga duas vezes através dos impostos o público e através das propinas o privado. O estado deveria, como defensor da liberdade do cidadão, disponibilizar os dinheiros públicos em função da produtividade qualitativa e da redução de custos.

O Estado com as suas escolas é uma coisa e a sociedade livre é outra. O Estado não precisa de apoiar a Igreja nem deve favorecer esta ou aquela fundação; a sua função é defender o cidadão livre com os seus valores e possibilitar a sua capacidade de decisão. Um Estado / Administração ocupado por partidos e organizações afins, de carácter ideológico não resiste à tentação de impor a sua fé secular nas suas estruturas e de se aproveitar dos orçamentos do Estado para se servir a si próprio. Não podem ser os mais fracos nem uma ideologia a determinar a velocidade e a qualidade da aprendizagem.

Urge Estado sem parasitismo partidário e institucional! Já no prelúdio e agora na celebração do centenário da república portuguesa, as redes de jacobinos republicanos, maçónicos e marxistas dão um grande passo em frente no seu enraizamento e domínio das estruturas do Estado. Os moderados e o centro conservador contentam-se em viver das migalhas que caem da mesa daqueles.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A RELIGIÃO NA CHINA

Os Modelos da Classe Política para a Nação são agora os Imperadores

António Justo
O Partido Comunista Chinês controla as cinco “religiões” reconhecidas na China: Budismo, Taoismo, Islão, Catolicismo e Protestantismo. À frente de cada religião encontra-se uma instituição correspondente, uma “união patriótica chinesa”, subordinada ao “Secretariado estatal para Assuntos religiosos” e este depende, por sua vez, da “Repartição – Fronte da Unidade” do Partido Comunista Chinês.

Perante a constatação de que a religião é inexterminável, o partido comunista chinês procura novas saídas para poder manejar a religião. Tolera as religiões como um mal menor. Daí as andanças da religião na China:”O que hoje é permitido amanhã é proibido e depois de amanhã tolerado”! Para o regime, Marx e Mao já não são tidos como modelos do Estado mas sim os imperadores antigos. Segundo o sociólogo Richard Madsen, a política religiosa dos detentores do poder orienta-se pelo princípio: “o governo guia, a religião segue”. Já o imperador Kang-xi (1661-1722) era do parecer: “é mais económico construir templos, do que alimentar pobres”! O regime socialista reconhece que Religiões, igrejas e templos são imprescindíveis para assegurar a harmonia na sociedade. Um problema insolúvel para o regime está no facto de o seu socialismo ter sido importado, não correspondendo, no que tem de ideológico e dialéctico, ao espírito da alma asiática nem do povo em geral.

A China tem-se aberto a reformas económicas. Maior bem-estar cria condições para o surgir duma consciência aberta aos direitos e deveres cívicos. A abertura económica pressupõe a abertura política.

A política não tem acompanhado o desenvolvimento económico e social conduzindo, por isso, à instabilidade revolucionária. Partes do povo, sentem-se na dissidência, como revela o caso do Nobel da paz Liu Xiaobo. O regime socialista tem fracassado em todo o mundo porque não retribui ao indivíduo, ao povo, o que lhe rouba. Rouba-lhe a dignidade para a supor num abstracto, o povo massa, massa proletária! Nos próximos anos, o regime chinês será medido pela sua capacidade de transformar a China numa grande prisão ou de dar oportunidade ao povo de se desenvolver no processo democrático.

O partido é quem mais ordena! De momento, o Nobel da Paz é um factor de distúrbio e, como a melhor defesa é o ataque, as autoridades chinesas, pressentindo nele indícios duma doutrina social cristã, passaram a atacar mais os católicos.

O grande problema para o regime chinês está no facto da religião católica defender direitos e valores universais (liberdade de consciência individual, colocada acima do Estado e da Religião) o que vem a colidir com interesses nacionalistas e partidários. A massa não tem personalidade, tem nomenclaturas. A estas basta-lhe oportunistas, espias e o medo.

De facto a proclamação dum mesmo Deus, Pai – Mãe de crentes e ateus, vem estragar a ideologia nacionalista e questionar o negócio dos partidos que se julgam inteiros. Um Deus cúpula sobre tudo e todos e um povo de Deus rebelde, em que a última instância não é a instituição mas a consciência individual, causa muitas dores de cabeça a quem quer poder, custe o que custar. Um Deus para todos pressupõe direitos e deveres universais; este Deus revela-se um estorvo com a sua matriz de pensamento. O carácter global da religião cristã estorva o espírito nacionalista chinês, que também não tolera alguém de fora (um estrangeiro, o Papa) a fazer-lhes sombra, mesmo que apenas no foro religioso. Para governar, o socialismo só precisa de saber um pouco de pedagogia, pedagogia de caserna.

Sistemas hegemónicos não toleram o humanismo e perseguem-no, sem respeito pelo cidadão que querem súbdito!

Na China há bispos católicos confirmados pelo Papa, outros por organizações patriotas do Estado e ainda outros confirmados por Pequim e por Roma. Nos últimos cinco anos deu-se a sagração de 11 bispos católicos com o acordo comum do Papa e da “Repartição – Fronte da Unidade”. Este ano o regime Chinês fez nomear um bispo sem a anuência de Roma. A divisão em nome de sistemas prejudica a propagação do cristianismo. Na prática, mais que a discussão de lealdades importa evitar vítimas do Homem e das suas instituições como quer a Boa Nova.

Somos todos feitos da mesma massa e habitantes do mesmo universo. Vive-se num mundo tão dividido e degradado e numa humanidade tão feroz contra si mesma!... A paz é um dom a fomentar por todos para todos. Todas as formas de governo, no mundo, tal como todas as revoluções, até hoje, se revelaram anti-povo: uns poucos reservam para si o acto de governar, considerando-o um privilégio, servindo-se para isso da exploração violenta ou suave. No século XXI, Estados e religiões, regimes e ideologias, não podem limitar-se, como no passado, a administrar a carência e a viver dela; urge mudá-la, urge que o cidadão se torne senhor. Geralmente, a pobreza de espírito encontra-se em cima a governar e a pobreza económica em baixo a obedecer. A supremacia e a subordinação são contra a dignidade humana e impedem a humanização do Homem e da sociedade. A responsabilidade é individual e colectiva pressupondo um esforço de superação individual e colectivo. A missão de quem governa responsavelmente será auscultar o coração do povo todo e servi-lo. A palavra ministro vem da palavra servir! O cidadão é rei! Rei para os monárquicos e presidente para os democráticos. Até agora têm governado os filhos da ‘escrava’!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos

BENTO XVI ABRE-SE AO JORNALISMO CONTEMPORÂNEO
“Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”

António Justo
O livro, “Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”,resulta duma entrevista efectuada de 26 a 31 de Julho, onde Bento XVI em Castel Gandolfo respondia, uma hora por dia, às perguntas directas e pessoais do jornalista Peter Seewald.

Bento XVI dá assim continuidade aos livros-entrevista "O sal da terra" e "Deus e o mundo", resultantes das entrevistas que o outrora comunista Peter Seeweald fizera ao então ainda Cardeal Razinger.

Esta nova forma de abertura ao jornalismo contemporâneo possibilita a leitura a um público mais abrangente que o das encíclicas.

No livro “Luz do Mundo”, o chefe supremo de 1.200 mil milhões de católicos, toma posição no respeitante aos problemas da Igreja e da sociedade, falando, sem subterfúgios, sobre si, o seu pontificado, a alegria do cristianismo, os abusos na Igreja, o ecumenismo, a sida, mesquitas e burca, o modernismo, o progresso, a droga, a sexualidade, Pio XII, a mulher, o celibato, etc. Ao ler-se o livro acompanha-se um Papa sublime e humilde, que, no centro da vida, quer dar vida à fé e trazer fé à vida.

Dá prazer ler os escritos lúcidos dum homem sábio, fiel a Deus e à humanidade, que, neste momento crucial da História humana, constata que “é absolutamente inevitável um exame de consciência global.” Não chega guiar-se pelo ponto de vista “ da factibilidade e do sucesso.” Para evitarmos certos aspectos destrutivos do progresso “devemos reflectir sobre os critérios a adoptar a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso”. A sociedade ocidental encontra-se numa encruzilhada que conduz ou a um secularismo que não tem nada para contrapor aos grandes problemas da humanidade ou a uma nova questionação sobre Deus. Reconhece que “muitas coisas devem ser repensadas e expressas de um modo novo.”

O anúncio do Evangelho não pode ser consensual: “Se o consenso fosse total, teria de me interrogar seriamente sobre se estaria a anunciar realmente o Evangelho todo”. Reconhece porém que não se tem apresentado suficientemente o potencial libertador e o sentido da fé em Deus. “O cristianismo dá alegria, alarga os horizontes.”

Nota-se que Bento sofre pelo facto dos Media e dos críticos da Igreja condicionarem a modernidade da Igreja às questões que têm a ver com os sexos.

Torna-se nefasto e desastroso para a Europa e para o mundo o caso do modernismo europeu reduzir a imagem da Igreja católica ao seu trato do sexo e condicionar a sua aceitação à sua maneira de encarar a sexualidade. Uma Europa que deve a sua configuração ao Cristianismo e um mundo que tem no catolicismo o seu primeiro modelo implementador de globalização, não revelam carácter ao rebelarem-se como filhos pródigos renitentes na sua primeira fase de abandono e repulsa.

Estes filhos pródigos apoderaram-se de grande parte dos média, das políticas e das administrações, controlando grande parte da opinião públicada e dos centros do poder e tratando a Igreja como sua rival. Os preconceitos mediáticos e a desinformação tornam cada vez mais necessária a abordagem directa dos textos papais.

Contesta o relativismo propagado afirmando que “o homem tem de procurar a verdade; ele é capaz da verdade. É evidente que a verdade necessita de critérios de verificação e de falsificação”. E mostra o seu desconsolo sentindo-se "decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autónomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja".

Lamenta a cegueira do mundo ocidental onde muitas pessoas não distinguem entre o bem e o mal; reconhece na Europa forças destrutivas e manifesta esperanças nas pessoas fora da Europa. Questiona uma sociedade em que as sondagens se tornam “o critério do verdadeiro e do justo.” Para a Igreja "a estatística não é a medida da moral".

Preocupa-o a nova intolerância propagada por um laicismo activista que em nome da tolerância se aproveita para afastar símbolos religiosos dos espaços públicos e assim safar o cristianismo da Europa. “A verdadeira ameaça frente à qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância… Existem regras ensaiadas de pensamento que são impostas a todos e que são depois anunciadas como uma espécie de tolerância negativa…. há uma religião negativa abstracta que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir… Ninguém é obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser tão pouco obrigado a viver a «nova religião» determinada como única e obrigatória para toda a humanidade… O que importa é que procuremos viver e pensar o cristianismo de tal modo que ele absorva o moderno que é bom e está certo e, ao mesmo tempo, se separe e diferencie do que é uma contrarreligião.”

Apela à defesa da fé como catalisadora do mal num mundo secularista agressivo. Este quer o ser humano inteiramente disponível ao seu domínio e à sua ideologia reduzindo-o a indivíduo e a coisa sem dignidade divina. “Porém, a presença divina revela-se sempre no Homem.”

Para Bento XVI razão e fé não são contraditórias; vê na fé um serviço crítico e um limite razoável da razão. Doutro modo, o Homem, ao fazer-se a medida de todas as coisas, reduz e desumaniza a criação. O Homem sem Deus, destrói-se a si mesmo e a criação, sem se sentir responsável perante ninguém.

No que respeita ao sacerdócio da mulher, Bento XVI diz que o facto dos apóstolos terem sido homens levou esta prática a ser assumida pela Igreja como norma, sentindo-se ele, assim, condicionado pelo direito. Ao argumentar com a norma consuetudinária deixa o campo aberto à discussão teológica. De facto o NT também diz:”…o que ligares na terra será ligado no céu…” Bento também testemunha que “o significado das mulheres – de Maria a Mónica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.”

Quanto ao uso do preservativo o “grande Mestre” aponta para a possibilidade da casuística: um método da Tradição que faculta, em casos de conflito entre princípios morais, a possibilidade de optar pelo princípio maior (neste caso a defesa do corpo e da vida é mais relevante que a proibição do uso do preservativo para impedir a natalidade). A Igreja não se pode encostar aos adaptados que têm apenas respostas fáceis e ideologia para oferecer. Ela é acontecimento, milhares dos seus membros entregam-se abnegadamente na ajuda aos infectados pela SIDA. Bento XVI atesta que “onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. É preciso fazer muito mais”. “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias”... O uso do preservativo é legítimo “em casos pontuais, justificados… o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.” Solicita a” humanização da sexualidade”. A Igreja não pode desobrigar-se nem reconhecer o preservativo como “uma solução verdadeira e moral”, ela quer uma discussão aprofundada sobre o assunto.

Quanto à homossexualidade, ensina: os homossexuais "merecem respeito" e "não devem ser rejeitados por causa disso".

Relativamente à possibilidade de renunciar ao papado responde “Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar."

Segundo ele, também as feridas da Igreja “têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos". De facto, na Igreja como na natureza encontra-se a contradição, não fosse ela vida.

A droga "destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras".

A humanidade alcançou os limites do seu crescimento. A solução cristã, para sair da crise e para resolver os problemas do ambiente e da humanidade, não vem de iniciativas da economia de mercado mas da metanóia, da mudança da consciência individual. Bento, o Cristianismo, aposta na pessoa e crê na sua capacidade de mudança através do aprofundamento da consciência individual numa perspectiva de fé.

O Papa sublinha a esperança cristã e a necessidade de colocar Deus em primeiro lugar para que a Igreja seja a luz de todo o mundo.

A Igreja, como organismo vivo é processo e não uma instituição que se deixe regular apenas por leis externas. O Papa não pode nem deve dar resposta imediata a tudo. Ele é como a Constituição dum país. Da Constituição não se podem esperar respostas muito específicas. Para isso estão as leis, para isso há a pastoral que tentará dar respostas adequadas a situações específicas, “in loco”, tal como as leis do Estado fazem, tendo como inspiração o espírito da Lei Fundamental.

Em caso de conflito de consciência o Cristão está chamado a orientar-se pela própria consciência, como advogava já S. Tomás de Aquino. É também um princípio cristão que o amor está por cima da lei.

Resta aos cristãos e ao mundo “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do som do finito.”

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DIA DA SIDA

Hoje dia da SIDA seria importante recordar as suas vitimas e alertar para o uso da liberdade responsável.

É de recordar e louvar o trabalho abnegado de muitos membros da Igreja que entregam a sua vida na ajuda das vítimas da SIDA. Estes testemunham, com a sua vida, a dignidade e respeito pela pessoa independentemente da sua fé ou ideologia. A Igreja não tem apenas a ideologia e a desculpa do preservativo para oferecer, pois sabe que este é apenas um recurso a utilizar conscientemente.

Ainda esta semana o Papa dizia numa entrevista: "A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. (...) Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade".

O pressuposto fundamental da relação deve ser o amor. Então “ama e faz o que queres”, reconhecia a Igreja já nos seus primórdios!

António da Cunha Duarte Justo