terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Solidariedade na Nova Sociedade – Uma Democracia da Diferença

No Prelúdio da Era global urge a Mudança radical
António Justo
A coesão da sociedade ameaça fracturas que só podem ser reparadas com uma solidariedade aberta entre os diversos grupos.

O desenvolvimento científico e tecnológico tem proporcionado grandes passos no sentido dum maior contacto e dum maior diálogo no caminho da união e da realização duma verdadeira globalização. A ciência política começa a dar-se conta da interdisciplinaridade de todas as matérias e interesses na construção do globalismo.

O processo dialéctico da afirmação do mais forte constrói-se e baseia-se na precariedade do outro, na banalidade do factual. Este modelo da filosofia grega tornou-se eficiente nas épocas da individuação cultural, nacional e individual. Agora que nos encontramos no prelúdio da era global seria a altura da mudança do modelo grego para o modelo judaico – cristão subjacente nas mitologias doutras culturas como a chinesa e a indiana. O modelo trinitário ainda se encontra debaixo das cinzas da civilização. Este modelo integral, já não só do diálogo, mas especialmente do triálogo implicaria uma mudança radical na prática da solidariedade cívica e natural. Assim a nova estratégia a desenvolver nas relações interpessoais, nas nações e nas culturas, não esquecendo porém a força dialéctica e a asseveração dos contrários na afirmação do ser, terá de optar por uma nova fórmula relacional a que chamaria trilógica ou trinitária. Uma mudança da ortodoxia para a ortopraxia do logos inicial.

Iniciamos a era do triálogo num processo de comunitarização que leva à comunhão no processo relacional trinitário no respeito e reconhecimento mútuos. Não se dá o encontro de produtos estáticos mas de sujeitos em processo criativo que implica ao mesmo tempo a mudança e a consciência de se encontrar e querer a diferença criadora. A procura comum, já no seu processo comunicativo, produz um sentimento de solidariedade que estimula o caminhar comum. Assim vão desaparecendo as conotações egoístas de raça, nação, cultura, sistema político ou religioso, conotações, estas, dialécticas e não trilógicas (trinitárias). Na nova era trilógica, a solidariedade seguirá o processo da inclusão e não o da exclusão. Será a era da solidariedade da nova democracia, a solidariedade do amor ao próximo. Já não se pretende a solidariedade dos iguais mas a solidariedade dos diferentes. O bem-comum, a felicidade já não se afirmará em nome do eu, em nome do partido, em nome da nação, mas em nome do nós integral. Então, não é a classe, o indivíduo, o partido que ganha, mas cada um como povo peregrino em marcha a desaguar na humanidade global. A meta não é a vitória de umas classes sobre as outras, do capitalismo sobre o socialismo nem vice-versa; a meta, mais que uma sociedade, é uma comunidade sem classes em que todos actuam numa dinâmica de incarnação e espiritualização no seguimento do chamamento. A meta é a construção da cidade de Deus, a cidade do Homem na dinâmica da realidade solidária trinitária. Nela espírito e matéria complementam-se em processo criativo. Nela não reina a ideia da vitória ou do “quem manda, quer e pode” mas a relação amorosa que produz o Espírito. Dá-se uma nova compreensão da vida humana e natural em comum. O que recebemos oferecemo-lo, de novo, enriquecido na dinâmica duma entrega mútua. Consequentemente, em vez do ressentimento surgirá o agradecimento como forma de expressão dum sentimento de vida, duma vivência social.

No exercício da solidariedade de co-criadores sofremos na alma a prisão da carne pelos que vivem à margem da sociedade. Porque aceitamos sistemas de injustiça social tornados normalidade e que geram tantos Cristos abandonados? Na nova vivência não se trata de me tornar miserável com os miseráveis mas de me aproximar da minha humanidade neles maltratada e ameaçada. Não se trata de, em nome do bem, perpetuarmos o mal, como temos praticado eficaz e persistentemente até agora, em todos os sistemas e regimes políticos, económicos e sociais. Todos os que nos sentimos mais responsáveis pela situação teremos de nos levantar para pensar e agir em comum. Não é suficiente divertirmo-nos ao faz de conta falando contra as injustiças dos outros. Nós todos estamos comprometidos no sistema e somos todos injustos. Quanto mais ricos e mais sábios somos mais injustos somos.
Solidariedade é dar e receber em comunhão. A comunhão transcende a solidariedade económica, científica ou social.

A tarefa de criar uma razão solidária não é fácil. Faz parte do ideário e da praxis cristã empenhar-se pelo outro mesmo que ele seja mau. O ideário cristão tem falhado e desesperou no marxismo. Em cada pessoa há um núcleo bom. A dinâmica do amor ao próximo, uma característica do cristianismo, ainda não encontrou acolhimento nas estruturas suportes das sociedades. Solidariedade baseia-se na reciprocidade progressiva

A indiferença pressupõe estar-se preso nas próprias sombras.
A nova solidariedade ultrapassa as fronteiras da própria comarca. Cristo entrega-se por toda a humanidade indiferentemente de ela ser ou não cristã e proclama a moral superior do amor ao próximo e o amor aos próprios inimigos. Deus é pai de todos fazendo de nós irmãos, Cristos em potência. Solidariza-se não só com os necessitados mas também com os culpados. O ideário cristão define o ser humano como ser para os outros com uma missão individual, global e cósmica.

No sentido cristão não há programas fixos ou já completos, não há dogmas no verdadeiro sentido da palavra. A solidariedade acontece em todos os sentidos. É a realidade pai-filho-espírito, no sentido do divino e do humano, dando primazia ao humano, na prioridade do mais baixo, do mais fraco. O sol surge de baixo para cima e a luz dos iluminados deve ser reflectida para baixo. A solidariedade a implantar chega aonde outras solidariedades não chegam: abandonados, pobres do espírito…

A defesa da dignidade humana de cada pessoa constitui programa para todo o homem – mulher de boa vontade, de irmãos na mesma origem e na mesma situação comum.
Implica uma ética da solidariedade prática baseada numa nova consciência e atitude perante o Homem e a natureza. Esta mudança, que passa pela renúncia, para podermos ser uma oportunidade para os outros, é mais que óbvia, também no sentido de possibilitarmos futuro aos que vêm depois de nós.

Daí a necessidade de tornarmos as ideologias solidárias e não estanques ou exclusivas. Do mundo mecanicista e estático do século XIX daremos o passo para o mundo do mistério, o mundo Trinitário, já pressentido e verificado na física por Einstein, Planck , Chardin e outros. De facto a física já chegou ao mistério apesar de muitos continuarem a persistir no fanatismo religioso e no fanatismo científico. São necessárias todas as forças e todos os esforços na procura de respostas abertas e ajudas para todos, na realização dum mundo melhor. Uma abertura contínua torna-se então gratificante na experiência do mesmo espírito que a vivifica. A conexão do todo não nos deixa cair no vazio nem no desespero.

A solidariedade é o caminho seguro para mais liberdade. Não se trata de nos igualarmos mas de entrarmos na relação libertadora. Todos temos andado perdidos em ideias, sentimentos ou missões cada vez mais vazios e distantes de nós e dos outros. A solidariedade não pode continuar enterrada dentro dos diversos grupos; ela tem de destruir os muros que nos separam uns dos outros, o erro da afirmação dialéctica selectiva.

A pluralidade duma sociedade verdadeiramente livre permite riqueza e variedade sem a determinação de um grupo sobre outros. A sociedade precisa dum teto metafísico que a cubra, necessitando este do trabalho construtivo e solidário de todos os grupos sociais. O direito e a tradição judaico – cristã, numa dinâmica trilógica, poderão ser os grandes pilares do grande do tecto metafísico duma sociedade com passado presente e futuro.

Naturalmente que toda a pessoa precisa de ligação a algum grupo da sua confiança, doutro modo correrá risco de cair em depressão. Toda a pessoa precisa de comunicação autêntica de permuta de experiências e ideias. Esta comunicação terá de ser aberta, numa sociedade aberta e num mundo aberto. Uma sociedade civil será tanto mais viva quanto mais grupos tiver. Direitos e deveres são evidências no reconhecimento da sociedade e dos cidadãos.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

Solidariedade

O eco do outro possibilita o meu falar
António Justo
O ser do ser é relação. Esta relação dá-se duma forma imanente e transcendente, tomando a sua melhor expressão na fórmula trinitária. A Trindade (Eu-tu-nós), a Realidade toda, revela-se como relação de forma protótipo na sua relação criador – criatura e criatura – espírito. Nela se manifesta o nosso ser processo de condicionados e condicionantes, de mundo e espírito. A aspiração a uma autonomia isolada revela-se mais como desgaste na relação. Ao contrário, uma autonomia trinitária integra a realização na solidariedade. A experiência do dia a dia revela-se interdependência. O pressuposto, de “ser de” e de “ser para os outros”, fomenta um sentimento de agradecimento, alegria e confiança no outro que é pressentido já não como impedimento mas como realidade fomentadora do eu no nós. As necessidades individuais passam então a ganhar uma nova perspectiva. O projecto de vida traçado é participativo e participante e a sorte é comum. Abertos à relação mudamo-nos e moldamo-nos continuamente.

O outro torna-se o meu chamamento que me leva a descobrir-me nele. A partir de mim falo e a partir do outro ouço-me. O eco do outro possibilita o meu falar. A exigência dum tu ouvida dá hipótese ao outro e faz de mim a sua possibilidade. Aí eu ganho-me e reconheço que sou mais que eu mesmo. Descubro-me como filho da solidariedade. O ser do outro está presente no meu agir; a partir daí começa a acontecer a construção do nós. Aqui já não há só posições ou objectivos a atingir, não é apenas uma força externa que me guia ou puxa. Descobre-se um chamamento comum na responsabilidade não só ética mas constitutiva do nosso ser comum de condicionados na resposta a dar, já não só, por um tu mas por um nós realizado no amor. Solidariedade é o nosso destino.

Irmanados na solidariedade de “ser no” e no “ser para o outro” poderemos chegar a ter de aguentar o momento do abandono e até mesmo o momento de ameaça do outro. Nele se esconde também a chance do meu tornar-me, do meu devir! “Pai, afasta de mim este cálice”, apesar de tudo “em tuas mãos encomendo o meu espírito”. Não quero abandonar-me aos sentimentos que me separam do todo, que me separam da relação. A chamada do Amor não permite a minha retirada, não me deixa evitá-lo. É mais forte o que nos une: o amor teleológico e existencial. Ele é o suporte de tudo e leva a suportar o processo doloroso da relação eu-tu num contínuo gerar e ser dado à luz.

A solidariedade é solidariedade para e não solidariedade contra. Dela surge a mudança não do outro ou de mim, mas do nós em processo criador aberto. Somos processo aberto ao infinito. A entrega na cruz pressupôs o silêncio de Deus. Doutro modo poderia não passar dum auto-engano, dum enganar o outro, duma solidariedade falsa, presa em mim mesmo. Então passo a ver já não com os meus olhos, mas com os teus olhos em mim. Aí sou aceite e aceito, aí me vejo, eu e tu, nos vemos, ao mesmo tempo, no mesmo espelho. Em ti me gero e tu me trazes e me dás à luz. Contigo sei quem sou!... Também eu me torno o chamamento que te interpela no nosso caminhar. Se, neste andar, tu és um pé para mim, eu sou o outro pé para ti. Estou consciente da minha entrega na nossa aventura comum. Unidos vemos juntos, com os olhos de Deus para nos realizarmos na comunidade de vida com ele, a nossa realização completa. O chamamento divino humaniza-nos e conduz-nos à divindade através da solidariedade. Este dá coesão à fidelidade que provém da confiança no outro, na realização comum. A caminhada é árdua e por vezes sombria. O sol do perdão ajuda a clarear os buracos negros do outro, também em mim sentidos. Então de amor movido, no reconhecimento, e não por interesse, dou o primeiro passo e com ele avanço facultando a oportunidade à verdadeira solidariedade. Trata-se de ver as coisas já não duma perspectiva, mas de uma forma aperspectiva, ou seja, de todas as perspectivas. Da conexão trinitária não chega já o simples diálogo (não só através da palavra) mas um triálogo que tem como modelo as três pessoas e das quais estamos processualmente a tornarmo-nos uma. Através do Pai somos irmãos, somos todos um. A isto estamos chamados, crentes e ateus!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Entrevista

Jornalista Isabel Guerreiro do Semanário O DIABO:


«Deus provavelmente não existe, de modo que deixe de se preocupar e goze a vida». O inusitado slogan está a decorar 30 autocarros de Londres, no Reino Unido, durante todo o mês de Janeiro. Os ateus britânicos apelam assim ao lema para tentar convencer as pessoas de que Deus é uma invenção. A iniciativa é da British Humanist Association (BHA) e do seu presidente, o professor Richard Dawkins — reconhecido teórico da evolução, catedrático na Universidade de Oxford e autor de vários livros de divulgação científica, como «A Desilusão de Deus» (Casa das Letras).

Jornalista — A polémica campanha foi copiada por Espanha e pode, em breve, chegar a Portugal, já que foi feita uma proposta para importar a iniciativa. Referindo-me a este e outro casos pergunto: Na sua opinião, nos dias de hoje existe uma investida ou um fulgor de recusa do divino?



Antonio Justo: Antes de mais, o slogan revela uma imagem dum Deus desmancha-prazeres, dum Deus ciumento e vingativo. Manifesta uma imagem dum Deus adquirida numa educação infantil restritiva ou no folclore religioso superficial. Muitos querem-se libertar desta imagem de Deus e em vez de corrigirem a sua imagem de Deus deitam, com ela, Deus ao lixo.

O slogan que citou implica um medo inerente à existência de Deus. Porque é que se deve ter mais medo pelo facto de Deus existir? Não há lógica. Se não houver uma condução do acontecer do mundo e da vida individual, o medo será logicamente maior porque o acaso poderia atropelar-nos a cada momento. A crença tem, para muitos, a vantagem de dar sentido à vida. É como a réstia de sol em dia enevoado. A publicidade é enganosa atendendo que racionalmente é mais provável a existência que a não existência de Deus. Ao slogan negativista ateu poder-se-ia contrapor a máxima cristã: “Deus existe! Por isso, não te preocupes e goza a vida”. O padre da Igreja Santo Agostinho já dizia, no sentido de Paulo e de João: “Ama e faz o que quiseres!” Pressupõe-se a responsabilidade pelo mundo e com o próximo.



Sim, tornou-se moda o ataque ao Deus cristão e à sua mitologia quer em certos meios da arte quer em meios de política prosélita. Em momentos de crise e de mudanças históricas, é comum a luta entre os deuses ou contra eles. O que aconteceu na sociedade grega e romana é paradigmático. As transformações históricas e a concepção de Homem e sociedade andam sempre ligadas às mudanças da concepção do divino. O desespero da ideologia materialista depois do fracasso dos países socialistas tem-se manifestado num militantismo cada vez mais agressivo em grupos materialistas e racionalistas que se escondem, muitas vezes, sob o disfarce da capa “Humanista” e de “pensadores livres”. Assiste-se ao recrudescer do azedume e fundamentalismo antigamente inerentes à religião e à política laica iluminista da revolução francesa e dos socialismos do século passado. Sócrates com a sua política laicista tem contribuído para o renascer dum certo jacobinismo político e cultural.



Até nos Estados Unidos, um país mais crente que a Europa, já houve quem pusesse uma queixa em tribunal contra Deus, responsabilizando-o pelas guerras existentes. O trágico é que a recusa do divino acompanha, muitas vezes, a recusa do humano.

Tanto a abordagem ateia como a religiosa são tentativas de acesso à realidade encoberta. Daqui que uma e outra deveriam pôr-se ao serviço da descoberta da verdade e ao serviço do Homem sem recorrerem à difamação mutua.



Jornalista — Depois de episódios como a retirada dos crucifixos das escolas públicas, de abundância de obras de literatura que defendem o ateísmo… de que outros casos se consegue lembrar que pretendam lutar por uma sociedade onde predominem os valores laicos ou que pretendam atacar os crentes? Na sua opinião a quem interessa o regresso do ateísmo militante? Quem ganha com este regresso? E como se explica esta tendência?



Antonio Justo: Numa perspectiva cristã valores laicos e religiosos complementam-se. O mais grave em Portugal é o tom geral dos Media e da cultura e a violência do político e culturalmente correcto. Na Alemanha isto seria impossível. A preparação do centenário da república portuguesa encontrava-se inicialmente sob os auspícios dum laicismo feroz, vamos ver o que sai de lá. A fronte contra o ensino privado e a divinização do ensino estatal é uma outra constante. O organismo “República e Laicidade”, que não se sabe quem é, encontra-se na trincheira laicista. Os Media apresentam, na época do Natal, exposições sobre assuntos religiosos de carácter alegórico como se se tratasse de factos históricos para assim os poderem desacreditar. Constata-se também uma política contra a família com a respectiva privilegiação económica do divórcio.



A religião constitui, na evolução da sociedade, um fenómeno barreira contra a lei da selecção natural e um obstáculo à mais valia do mais forte, preocupada em articular também os interesses dos mais fracos. Isto incomoda muita gente porque questiona tanto a prepotência estatal como a individual. Forças marxistas e racionalistas cumplices dum internacionalismo encoberto procuram desestabilizar os biótopos culturais nacionais. Infiltram-se no Estado e nos Media. Intervêm nas escolas através da elaboração de programas relativos à educação sexual, às disciplinas de formação cívica, de literatura (fomento de autores de cariz ideológico) e de história, usando-as como meio de mentalização na sua ideologia. Infiltram-se em instituições estatais para daí agirem de forma camuflada. A estratégia de infiltração e influência através do aparelho de Estado tem grande tradição nos sistemas materialistas socialistas. O estado socialista sempre usou com sucesso agentes provocadores subtis. Na discussão usam a táctica de ignorar a própria crueldade e atacar a crueldade religiosa que vêem como subjacente às religiões de Abraão no seu espírito de entrega, sacrifício, obediência, e na sua concepção linear da história.



O regresso do ateísmo militante interessa a quem está empenhado na defesa do mais forte e na declaração do egoísmo como força motriz na luta pelo ser. Querem o Homem indefeso e à disposição. Nos limites da civilização Deus despede-se e o Diabo ri-se; é o tempo da superstição laica e religiosa. Sem a divindade o ser humano deixa de ser divino, passando a ser mercadoria ou mero factor económico à disponibilidade do mercado e do Estado como querem um socialismo e um capitalismo exacerbados. O prazer espiritual não parece fomentar tanto o consumismo.



A liberdade de negar Deus e de optar pela determinação do futuro através do acaso não é liberdade nenhuma. O acaso não fundamenta ética nenhuma, fortalece sim a arbitrariedade. Uma sociedade que se deixe guiar apenas pela lei do acaso e da adaptação cai no ciclo vicioso repetitivo das sociedades primitivas e entrega-se gratuitamente nas mãos da tirania dos mais fortes.


O regresso do ateísmo militante interessa aos do costume, às lobbies e a um certo infantilismo do público. Interessa a certas forças progressistas materialistas que se encontram em concorrência com o poder religioso e com o poder conservador. Há que não esquecer o que Agostinho dizia: ”Todo o poder é usurpação (presunção) ”. Esta mundivisão cristã incomodou muito o existencialismo de Friedrich Nitzsche que contrapõe a “moral dos senhores” deste mundo à “moral dos escravos” cristã, optando por aquela. Hitler e Estaline acreditavam na moral dos senhores; nunca houve barbaridade semelhante na História.



A afirmação duma visão dualista da realidade, seja ela espiritualista ou materialista, tem o seu fundamento numa percepção da realidade em termos antagónicos. O cariz específico cristão é integrar razão e fé, inteirando os pólos extremos fazendo-os convergir, tal como se pode constatar no teólogo Teilhard de Chardin ou na teologia trinitária.


De resto, na fuga à realidade complexa e escura do presente, cada qual pode cair na tentação de apregoar o seu “paraíso” como o melhor ou na aberração de o julgar como único. A força e hombridade para aguentar a incerteza são moeda rara em tempos de crise.


O DIABO publicou a entrevista na sua edição de 20.01.2009 sob o título: "Dois teólogos analisam o regresso do ateísmo militante" «Tornou-se moda o ataque ao Deus cristão»

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ateus em Campanha publicitária contra Crentes

António Justo
No princípio de Janeiro, em Londres, a associação “Cristian Voice” apresentou queixa contra uma campanha ateia financiada pela Associação Humanista Britânica (BHA) e lançada nos meios de transportes públicos do Reino Unido com o slogan “Provavelmente Deus não existe”. A “Christian Voice” argumenta que a campanha viola o código da publicidade, tendo sido aceite a sua queixa.

Como da polémica se vive bem, e a Europa se repete em avalancha, também em Barcelona, associações ateístas espanholas publicaram anúncios em autocarros públicos com cartazes com a afirmação: “Provavelmente Deus não existe. Deixa de te preocupares e goza a vida”. “

Grupos cristãos respondem à batalha publicitária com anúncios como “Deus existe. Goza a vida em Cristo”.

Outros slogans vão surgindo na net como:
“Porque descansas aos Domingos se Deus não existe?”
“Como vais gozar a Vida sem seres SENHOR dela?”
“O dia do SENHOR também é teu – Goza os domingos oferecidos desde há 2 mil anos!”

É engraçado verificar como na União Europeia se originam vogas por trás das quais estão certas internacionais que se aproveitam duma logística coordenada na guerra cultural. O mesmo se dá na política. Problemas debatidos nas nações mais relevantes são repetidos, quase textualmente, passados dias, semanas ou meses, pelos políticos de países da periferia.
Os assessores não precisam de grande trabalho para apresentar serviço. Basta-lhes saber línguas para poder traduzir.

Narradores do poder, no romance da vida, procuram impor o seu próprio conto.

Vive-se em e da mobilização. As enxurradas civilizacionais do pensamento são fáceis na era da comunicação. Na fome do futuro, cada qual procura mobilizar a sua história propagandista.

No fim de contas não há ninguém que não seja crente!...

Precisa-se duma nova gramática que saiba conjugar fé e razão!

António da Cunha Duarte Justo