quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A tradição portuguesa do fogo de S. Silvestre não justifica foguetes barulhentos

Fogo-de-artifício sem Barulho por Amor aos Animais


António Justo
Na passagem do ano, S. Sivestre, segundo as companhias de seguro alemãs, dão-se cerca de 12.000 incêndios por ano, com um prejuízo de vinte e nove milhões de euros (isto na Alemanha).

Os alemães, na continuidade da tradição de antigas crenças germânicas, gastam, na festa da passagem do ano, cerca de 120 milhões de Euros em fogo-de-artifício.

Os fogos-de-artifício, segundo crenças animistas, com barulho e luzes, tinham a função de expulsar os "espíritos do mal"; hoje exprimem a alegria ansiosa do povo pelo novo ano. A garrafa de champanhe também testemunha isso em muitos lugares.

A festa também faz parte da nossa vida e tem um custo que não tem preço. Também é interessante verificar que, geralmente, nos bairros mais pobres das cidades, se observa mais brilho no ar.

O barulho do fogo na noite incomoda, não só bebés mas também, além de outros, pessoas com necessidade de repouso.

A mim dão-me pena, especialmente, os passarinhos, gatos e cães que, indefesos, não podem compreender o sentido de tanto barulho nem da festa.

Por isso seria de recomendar, a quem quiser manter a tradição, que o faça com fogo-de-artifício sem barulho, como recomenda a lenda portuguesa.

Naturalmente que a festa ainda seria mais completa, se, parte do dinheiro reservado para os foguetes, fosse aplicado em dar alegria a algum vizinho necessitado.

A Referência portuguesa da tradição do fogo-de-artifício na passagem do ano

O lançamento de fogos-de-artifício, na noite de S. Silvestre ou passagem-do-ano, tem uma nuance portuguesa que a liga a uma lenda sobre Nossa Senhora e S. Silvestre. Segundo relata a wikipedia, nessa noite, a Virgem estaria inconsolável e muito triste a olhar para o oceano atlântico quando se aproximou dela “São Silvestre e tentou consolá-la. A Virgem explicou-lhe que estava com saudades da antiga Atlântida e então o santo disse-lhe que deviam fazer algo de alegre que ficasse na memória dos homens. Então a Virgem chorou e as suas lágrimas transformaram-se em “pérolas” no oceano, uma das quais foi a ilha da Madeira, a “pérola do Atlântico”; ao mesmo tempo, apareceram no céu lindas luzes, segundo o testemunho dos antigos”.
António da Cunha Duarte Justo
Estimadas leitoras, prezados leitores!
Saúde, paz e alegria e Votos de um Feliz 2015 ainda melhor que o 2014!

sábado, 27 de dezembro de 2014

Sem a Fé religiosa nem a Teoria científica o Mundo viveria às Escuras

FÉ É A ENERGIA DO ENCONTRO
Sem a Fé nem a Teoria o Mundo viveria às Escuras

António Justo
O céu da noite, tão ordenado e tão brilhante, tão profundo e tão convincente, não deixa dúvidas acerca da dona de casa tão esmerada. 

Bate-se à porta. Ninguém responde, apenas um rasto de luz na fechadura da razão. Não se trata de encontrar nem de explicar a existência da Dona mas de permitir a dúvida que possibilita o salto no mistério. Sem a fé religiosa nem a teoria científica continuaríamos a viver na idade da pedra. Fé e teoria possibilitam o salto para o Outro, para o diferente, para o próximo.

O facto de se querer explicar tudo, não significa que tudo seja explicável. A auto-organização da natureza e da sociedade incluiu nelas a fé. A fé humana tal como a fé “física” da natureza proporcionam a ordem e a evolução. 

A ordem divina não conhece a submissão, Deus mostra-se supérfluo, tal como a força que tudo puxa no sentido da evolução. Tudo se encontra na mesma sombra à procura da Luz que o sustenta. A natureza, a fé, a ciência não fazem mais que seguir a chamada do Outro que escusa os olhos porque só feitos para distinguir a diferença entre as sombras. 

Crenças, teorias e saberes correspondem ao tecto que os olhos possibilitam ao olharmos para o céu. A direcção determina a vista. Lembra o embrião na procura da luz, ou a criança a correr para os braços da mãe. 

A alternativa Deus ou o Nada é um problema existencial porque ao decidir-me por Deus afirmo a ordem, ao afirmar o Nada resta o caos niilista. Dietrich Bonhoefer: „Einen Gott, den es gibt, gibt es nicht" = „um Deus que existe, não há“. Bonhoefer tem razão porque um Deus a existir seria reduzido à vertente do criado, a uma lógica causal que nem sequer satisfaria a razão que é a mãe das lógicas; Deus é mais que a existência, é acontecer na relação experiencial, é o encontro a brilhar no canto da fé. Aqui, Deus é encontro de Terra e Céu como revela a sua síntese em Jesus Cristo. 

Deus não se prova, para o provar precisaria de uma inteligência igual ou superior ao que se pretende reconhecer, pressuporia uma inteligência divina, uma inteligência que apesar de grande o reduziria ao conhecível, ao visível pela nossa fita métrica da razão como se Ele se pudesse tornar quantificável. 

Como poderia o saber desconhecer que não pode saber senão o que pode aprender? Como poderia a bilha do oleiro falar do ser do oleiro, quando é apenas um seu vestígio? 

Na minha praia batem ondas de praias desconhecidos que me dizem baixinho que o que me resta é descobrir-me e que sem o abismo do mar e o marejar de outras costas nunca olharia para cima, para as nuvens no céu, para o cume das montanhas, para o seu cimo em mim.

Na desilusão e na vingança do nada tornamo-nos consumidores de nadas que o dinheiro arrasta. No reconhecimento do cristianismo pode esconder-se o eurocentrismo mas a realidade é que a natureza se organiza em sistemas como o sol que tudo une e ordena.

As crenças possibilitam ordens sociais; só a análise e estudo comparativo das ordens sociais poderia dizer algo objectivo sobre o seu Deus e o seu texto nas religiões. Mahatma Gandhi constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade conheceu“.

No universo ouvem-se as dores do parto cósmico e o ser humano sofre-as nele. A singularidade divina reflecte-se na estranheza do mundo que ecoa no fundo do nosso ser.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Igrejas alemãs continuam a Tradição de Lugares de Refúgio como na Idade Média

Asilo - Fugitivos para quem a última Âncora de Refúgio são as Igrejas
Igrejas alemãs continuam a Tradição de Lugares de Refúgio como na Idade Média

António Justo
Muitas igrejas na Alemanha tornam-se em lugares de refúgio temporário para solicitantes de asilo ameaçados de deportação (casos humanitários excepcionais ameaçados de expulsão, por vezes os “casos-Dublin” - requerentes que vieram através de outros estados europeus e cujo processo deveria ter sido feito no primeiro país de chegada e como tal sem direito a refúgio no segundo país de chegada, a não ser que se encontrem há mais de 6 meses na Alemanha)... 

Na minha região de Kassel há 11 paróquias evangélicas que albergam 15 refugiados e duas paróquias católicas com famílias que tacitamente albergam para não entrarem em conflito com as autoridades civis. 

Dar guarida a fugitivos é tradição das igrejas mas não sustentada pelo actual direito civil. As autoridades respeitam a ilegalidade deste proceder não indo buscar ninguém aos espaços da igreja para a deportação. As igrejas acolhem e ajudam os refugiados independentemente da sua crença. A responsabilidade e manutenção pertencem à comunidade paroquial. As igrejas não questionam o direito único do estado, preocupam-se e intervêm em casos individuais quando reconhecem perigo de vida ou o ferimento de direitos humanos (muitas vezes uma pausa de reflexão para as autoridades civis!). Os refugiados não podem abandonar os espaços da igreja. As autoridades têm tolerado o asilo na igreja. Até hoje os refugiados na igreja conseguiram ser reconhecidos posteriormente pela lei estatal. Aqui temos um exemplo de como a relação entre Estado e Religião funciona no sentido de uma sociedade mais humana em que a lei, por vezes não discrimina casos especiais. 

As exigências de hospitalidade do Novo Testamento, (Mt 25,35ff; Rom 0:13; Heb 13,2; 1 Pedro 4.9), obriga os cristãos a dar guarida a quem procura protecção legal junto deles, independentemente de raça, religião ou cor. Já antigamente, servos que se sentiam maltratados pelo senhor conseguiam, por vezes refúgio nos conventos, até encontrarem um senhorio mais humano.

Também Maria e José se refugiaram numa gruta onde nasceu Jesus. Andaram por terras do Egipto para escaparem à perseguição, assim reza a alegoria elucidativa. Já no AT, no Deuteronómio 4, 41 e 42 e em 19, 2 são mencionados lugares de asilo. Na Idade Média a Igreja cria lugares de amor ao próximo (pobres, doentes e estrangeiros) geralmente ligados a um convento. Por decreto imperial foi concedido o direito de asilo temporário nas Igrejas desde que o que procurava refúgio não fosse assassino. 

A prática do asilo em igrejas alemãs dá-se discretamente e só em casos humanitários especiais. Assim se serve melhor os requerentes de asilo e não se provoca o Estado.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

BOAS FESTAS!



Estimadas leitoras, prezados leitores!

Nesta época, em que mais se expressam sentimentos e temas centrados na humanidade, aproveito a oportunidade para vos desejar umas festas natalícias felizes e um Ano Novo próspero. Todos fluímos no todo.
De resto, somos mais que as ideias e crenças que expressamos. Onde se encontra uma pessoa lá se encontra um bocado do universo e certamente um vestígio do eterno para admirar.
Com amizade e reconhecimento
António Justo

MUITOS NÃO SABEM!

Muitos não sabem
Que o Menino sonha neles
Muitos não sabem
Que o infante quer acordar neles
Muitos não sabem
Que são a alva de um sorriso
Muitos não sabem
Que o sol brilha neles
Muitos não sabem
Que o Jesus quer nascer deles
Muitos não sabem
Que Cristo vive porque mora neles
Muitos não sabem
Que o Natal são eles!

António da Cunha Duarte Justo

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

NATAL NÃO É SÓ UMA “FESTA CRISTÃ “

NATAL É A FESTA DA FAMÍLIA HUMANA

António Justo
Tal como o catolicismo, num acto de aculturação e inculturação, assumiu muitos dos costumes, ritos e festas dos povos com quem esteve em contacto (p.ex.: as celebrações em torno do solstício de inverno), também o mundo secular de hoje assume festas cristãs, nas suas festas irreligiosas, como se observa no Natal onde o aspecto religioso quase não se nota. Se antes se dava uma cristianização de costumes pagãos, hoje assiste-se à paganização de costumes cristãos. Assim a nossa atenção perde-se, por vezes, no cheiro da canela, no vinho quente, nos bolinhos, rabanadas, luzes e velas. 

Como se vê, pessoas crentes e mesmo ateias aprendem umas das outras muitas vezes, seguindo a força da rotina. Nestas condições a religião corre o perigo de ser banida da vida ou relegada para um sector do cotidiano como o futebol ou o teatro, num pacote do tudo incluído na luta pela existência, pelo dinheiro e pela saúde. 

Embora o Natal continue presente de várias formas, a religiosidade é um bem humano fundamental a perseverar e não perder. 

No passado, a sociedade ocidental era determinada pela orientação religiosa, por vezes, moderada por alguns grupos irreligiosos. Este facto levava a pastoral eclesiástica a descurar estes grupos que, por outro lado, precisariam de cultivar o seu caracter religioso. 

Entretanto os grupos seculares assumem mais relevância o que obrigará a Igreja a encontrar formatos e maneiras de diálogo (por exemplo com a arte e com iniciativas locais) que sejam comuns ao mudo secular e religioso. O padre terá de sair do seu gueto para que não se formem dois grupos (o religioso e o secular), ambos a caminhar paralela e solenemente um ao lado do outro. Será preciso criar sobreposições e pontos de encontro em acções comuns. Quem não reconhece que a realidade acontece no ponto de intersecção dos diferentes interesses, passa a vida a fugir dela ou a combatê-la.

A mensagem do Natal ensina que todo o ser humano veio ao mundo por vontade divina. Deus criou o mundo e viu que o que fez era bom. Quem reconhece no cristianismo um projecto de excelência para o mundo deverá deixar o Espírito Santo actuar nele e deste modo descobrir-se e renascer continuamente. Ele é aberto e não limita, ele chama todos à comunidade da noite da consoada como o pai que não discrimina os nomes dos filhos. O fogo natalício de cada pessoa será a luz que poderá iluminar outros a descobrir o Nazareno e a iluminar a noite do mundo.

Tradição: Um Elo de União

Há tanta gente a queixar-se do estresse natalício ou do consumismo em torno do Natal. Fazem lembrar a parábola do Evangelho das sete virgens prudentes e das sete virgens loucas!

O Natal é uma oportunidade para se romper com a normalidade da vida cotidiana; é o tempo das tréguas e da paz. Depois do tempo do jejum ou do estresse, que por vezes nos divide, todos se reúnem em torno de uma mesma mesa, todos juntos não só uns com os outros mas também com as gerações passadas, unidos na tradição de comidas e bebidas e na encenação com velas, e no brilho emocional em tudo colocado na preparação da festa. A arte da rica culinária individualizada, destes dias, é também ela testemunha de carinho, dedicação e ligação às pessoas e à tradição; tudo isto nos demarca do dia-a-dia ou do consumo do supermercado. Esta magia do natal não se deixa reduzir a sentimentalismos nem a lembranças da infância, como quereriam os agentes da razão. Em Belém junta-se a luz das alturas, a luz da razão, à luz do coração.

Saint Exupéry em “O Principezinho” constata que “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. " Alguns, para não terem de chorar preferem ficar no mirante de uma racionalidade fria não se deixando cativar como dizia ainda Saint Exupéry “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar…” De facto, o presépio ensina que “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção...”.

Natal é família

As expressões familiares vão-se mudando mas a família permanece. Na família tudo se junta, passado e futuro, o divino e o humano. 

A gruta de Belém dá à luz uma nova luz. Uma virgem torna-se mãe, também para nos dizer que na gruta de cada um de nós Deus pode nascer.

Também Deus não queria viver sozinho, por isso se veio encontrar-se connosco na gruta de Belém para festejarmos e cantarmos com os seres celestes e terrestres o hosana nas alturas. Na metáfora do presépio, na origem da cristandade, participam não só pai, mãe e filho, mas também os anjos, os seres celestes, os pastores, o burro, a vaca e os reis magos. No presépio tudo se encontra e reconcilia para se tornar irmão e poder reconhecer-se no irmão Jesus. Jesus também nasce fora da família apetecida, fora da família da propaganda do chocolate.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Alemanha sai à Rua com Medo do Islamismo – uma Iniciativa que pode fazer Escola na UE



Pegida é uma manifestação popular contra a islamização da Europa

António Justo  
Em muitas cidades alemãs reúnem-se, às segundas-feiras, milhares de manifestantes protestando contra a “islamização do Ocidente”. Sob o nome Pegida (Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente) são regularmente organizadas manifestações; entre outras, a de 15.12.2014, em Dresden contou com 15 mil manifestantes, cidade onde o movimento tem mais expressão. 

Fenómeno novo é o facto de a organização e participantes advirem do centro da sociedade. Há um medo difuso que a “Alemanha se abula a si mesma” (Jardins infantis que deixaram de festejar o S. Martinho e lugares em que os tradicionais “mercados de Natal” mudam o nome para “Mercados de Inverno” supostamente para não ferir os sentimentos islâmicos). Desde que a Alemanha também começou a produzir islamistas (550 a combater pelo Estado Islâmico), a sociedade tornou-se mais inquieta, embora a polícia alemã tenha tido até agora conseguido impedir casos de terrorismo interno. É um facto que os extremistas islâmicos têm interesse em dividir as sociedades porque assim torna-se mais fácil para eles motivar e recrutar prole para as milícias terroristas do Estado Islâmico.

Segundo dados oficiais das estatísticas alemãs, em 2013 viviam na Alemanha 16,1 milhões de imigrantes (e descendentes) o que corresponde a 20,5% da população. Cerca de 4,3 milhões são muçulmanos, sendo de origem turca 2,5 milhões. 9,7 milhões de estrangeiros têm nacionalidade alemã ou dupla nacionalidade. Em 2013 imigraram 465.000 para a Alemanha. Além disso em 2013 entraram 110.000 solicitantes de asilo. Em 2014, até novembro, foram registados 155.427 solicitantes e destes foram reconhecidos como refugiados 26.842; muitos dos não reconhecidos continuam a viver na Alemanha.

Embora os alemães façam muito pelos refugiados, o povo começa a insurgir-se contra a islamização do país, também porque este é o grupo que mais exigências especiais apresenta e porque não é propriamente possível ter-se conhecimento sobre a sua vida nos guetos. Radicais salafistas apoiam o Estado Islâmico enviando extremistas alemães para a “guerra santa”.

Paralelamente às manifestações de Pegida são organizadas contramanifestações de outras organizações. Um conflito de potenciais imprevisíveis! Segundo um inquérito 49% dos alemães mostra compreensão pelas manifestações de Pegida. 

A classe política está preocupada pelo facto de se poder organizar uma corrente desestabilizadora da política e dos partidos. Por enquanto, estes apelam a que não se deixem infiltrar por forças da extrema-direita. A política tem dormido e permitido a formação de verdadeiros guetos que, também devido à criminalidade entre solicitantes de asilo leva muitos a questionar-se se entre eles não há terroristas. Para complicar, também há alemães que vivem em certas regiões e se sentem como estrangeiros no próprio país. Por outro lado a Alemanha, devido ao trauma da guerra, tem muito medo e com razão, de movimentos populistas.

Razões para preocupação causam também os neonazis que se podem sentir estimulados com manifestações do género (numa casa prevista para refugiados deu-se um fogo com prejuízo de 700.000€ e que se presume ter sido fogo posto). Medos difusos e o medo dos guetos islâmicos parecem justificar a expressão popular de uma sociedade que até ao presente não se preocupou com uma política de imigração séria e em que as muitas mesquitas (na Alemanha há 326 mesquitas e cerca de 2.600 casas de culto, bem como inúmeras chamadas "mesquitas de quintal") não têm uma panorâmica sobre os seus frequentadores. Os políticos terão de pensar mais sobre a política de imigração se querem servir melhor os imigrados e a população em geral.

A Alemanha tem um problema que a política e os meios de comunicação social reprimiram pois contentavam-se com a designação de racista para quem se manifestasse criticamente contra certas protuberâncias sociais. Com o surgir de Pegida, esta receita, tal como fazer tabu de temas não chegará. Agora que surge uma inflação de manifestações em muitas cidades, admoestando para o perigo da infiltração islâmica, a sociedade-bem envergonha-se sem saber como reagir.

Parte da sociedade maioritária sente-se ameaçada pelo desenvolvimento e pela acção de grupos extremistas muçulmanos. Tipicamente, os vários grupos sociais, em vez de encarar objectivamente o problema, no sentido de dialogar em vez de julgar, opõem-se uns como manifestantes e outros como contramanifestantes, uns contra os outros, com se cada grupo quisesse, à sua maneira, salvar a nação. Este encontro na rua de grupos contrários pode contribuir para a escalação de uma potencial de violência latente há muito reprimido, devido principalmente ao facto de a política ter dormido sem dar resposta para problemas pendentes. Seria irresponsável desqualificar as manifestações como resultado do medo perante culturas estranhas. Este é um processo que, a não ser encarado objectivamente atingirá toda a Europa e simplesmente pelo facto de antes ser um problema reduzido à classe desfavorecida e agora se tornar num problema da classe média, isto é, do centro da sociedade. O medo dos retornados da “guerra santa” excita o espírito de muitos que querem, em paz, conservar os bens e os direitos adquiridos.

Parte dos manifestantes querem ajudar os refugiados muçulmanos, outros têm medo deles devido à sua quantidade e coesão social e outros ainda da extrema-direita e da extrema-esquerda e de permeio Hooligans e fanáticos querem desacreditar as manifestações; entre eles também os há que se misturam entre os manifestantes com a única intenção de fazer barulho e desestabilizar o Estado. Expressões infelizes de representantes islâmicos onde se afirma que a Alemanha é contra o islão juntam mais fogo à chama da irracionalidade. De facto a Alemanha respeita o direito a manifestações e muitos manifestantes da Pegida são cidadãos conscientes e pessoas de boa vontade. De facto, muitos dos manifestantes em algumas cidades fazem parte do resto da sociedade, e o que move muitas pessoas é o medo do seu futuro dado este mostrar-se cada vez mais incerto para muitos e a Alemanha não ter uma política de imigração definida como acontece nos USA e no Canadá. Outros ainda não percebem a razão por que os pretendentes a asilo se dirijam sobretudo para a UE e não em direcção aos países ricos árabes. 

Pegida é um fenómeno muito complexo para poder ser equacionado em sentenças políticas. Trata-se, na sua maioria, de ”cidadãos preocupados”; muitos sentem-se estrangeiros na própria terra, ou não vêem as suas preocupações tomadas a sério pela política. Todos os grupos sociais deveriam entrar em diálogo e não só para fazer reivindicações. O facto de em Dresden ter havido 15.000 manifestantes na última segunda-feira preocupa a chanceler alemã que não quer ver “arremetidas” ou propaganda contra estrangeiros que são bem-vindos à Alemanha. Por parte da opinião pública alemã, das igrejas,  partidos e organizações há grande apreensão e receio sobre as consequências de um tal movimento que pode servir grupos extremistas.

Deste modo, os terroristas conseguem, com a sua estratégia, em nome do Islão destruir estados africanos e ao mesmo tempo começar a desestabilizar uma sociedade europeia tradicionalmente consensual.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Um golpe na eficiência dos Sindicatos e o Enjeitamento da Soberania

APT / TTIP - Uma Catástrofe para a Cultura social da Europa!?
Um golpe na eficiência dos Sindicatos e o Enjeitamento da Soberania - Único Trunfo que os Estados nacionais pequenos ainda têm

A Qualidade de Vida baixará embora se consigam Produtos mais baratos

António Justo
Consequências previsíveis em consequência do pretenso acordo APT / TTIP: As questões que aqui apresento fundamentam-se na filosofia do mercado livre e na análise de estudiosos do assunto, preocupados em defender o estandarte social adquirido, até há dez anos, na UE (União Europeia). Refiro os aspectos mais críticos atendendo à reserva da opinião pública sobre o assunto. Só informação crítica e variada pode levar à formação de uma ordem civil e elevada e acautelada.

As multinacionais obrigarão as pequenas empresas a fusões que irão favorecer as grandes empresas e provocar maior desemprego porque as grandes empresas racionalizam o trabalho. Lembre-se que as grandes empresas dão emprego a cerca de 20% do operariado. Os empregos não se desenvolverão no sentido da produção mas sim no dos serviços. As multinacionais regularão os conflitos entre si, de maneira soberana e interna, contra a soberania e interesses de estados secundários e organizações sindicais.

Padrões ecológicos e sociais elevados serão nivelados. Teremos uma outra agricultura. A agricultura de muitas nações será aniquilada. Até a agricultura latifundiária alemã sofrerá grande concorrência dos EUA, embora se encontre bastante bem preparada, mas terá de renunciar a subvenções estatais. A UE na sua política económica orientava-se pela sustentabilidade do produto enquanto a América não se interessa com isso limitando-se a tratar o produto, na fase final, com cloro. Os problemas das subvenções agrárias e outras com o caso entre Boing e Airbus serão colocados já não em prol da defesa dos empregados nacionais mas serão subordinados aos interesses das multinacionais que, em certos ramos, passam a emigrar para os países de menores níveis de vida.

Os deputados do Parlamento Europeu serão fortalecidos em consequência da transplantação das competências dos deputados dos estados nacionais para a UE. Competências político-democráticas serão centralizadas em Bruxelas. Só os deputados europeus poderão ter uma certa visão global em matérias cada vez mais complexas. Os parlamentos nacionais não terão nada a dizer, pois tudo será da competência da comissão europeia e da Comissão de Comércio onde quase só se encontram representantes da liberalização. Um mercado interno onde tudo pode fluir leva na enxurrada os artesãos, sindicatos, protecção legal, etc.; então observar-se-á que as pessoas empregadas na Comissão irão encontrar emprego nas multinacionais; será uma catástrofe para a cultura social da UE que já se encontra em declínio rápido. Só os grandes países, onde se centram as sedes das grandes multinacionais, terão margem de manobra política. Também por isso os países em desenvolvimento bloqueiam com razão a vontade dos países ricos investirem.
Um tiro no próprio pé: os EUA preparam um outro acordo com os Estados do Pacífico ficando a UE fora e em consequência disso as Filipinas e outros países do grupo ficam excluídos da possibilidade de negociar directamente com a UE; o contacto será então feito por intermédio das firmas americanas que lá se encontram.
A protecção dos investidores dá preferência à defesa do capital em desproveito do investimento. Será dificultado o fomento das firmas regionais. Os concursos públicos passam a ter de ser publicados a nível europeu quando ultrapassam os 50.000€

Razões a favor do acordo
Os peritos prevêem, como efeito do acordo, um lucro de 120 mil milhões de euros para a UE e 95 mil milhões para os EUA.

Se pensarmos em termos globais e de blocos culturais concorrentes, muitas das leis que regulam o comércio e a indústria hodierno (leis aduaneiras, leis de defesa ao consumidor e protecção de dados, regulação e estratégia sindical) provêm ainda de tempos de pensamento nacional, dos anos 80, precisando de uma adaptação à nova política e economia arquitectada em termos de blocos de interesses.

A UE fundamenta a necessidade do acordo no reforço da Agenda de Lisboa que pretende competição, desregulamentação e fomento do mercado interno. 

Os contratos obedecem a uma estratégia de afirmação e de defesa dos grupos perante a China e a Rússia.

Dar-se-á uma uniformização na indústria farmacêutica no que respeita a duração das patentes, ao diferente processo de aprovação, à divulgação de dados de teste, etc.

Quanto à vida cultural esta permanece protegida devido ao Acordo de Lisboa.
O positivo da questão na EU é que o acordo tem de passar no Parlamento da EU e no Conselho Europeu.

O único trunfo da soberania que os estados da periferia têm será descartado

A padronização do negócio tem como consequência muito menos empregados. Deste modo o trabalho e o trabalhador são nivelados e colocados ao nível dos países pobres. Haverá maior quota de desemprego a financiar pelos contribuintes. A nivelação do proletariado internacional e sua legislação disciplina o proletariado em todas as nações passando as migrações a dar-se a nível de pessoal qualificado dos países periféricos para os países fulcrais conseguindo os grandes núcleos peritos baratos que ao mesmo tempo disciplinam os peritos das grandes centros com os seus ordenados concorrenciais. Ao que tem dar-se-lhe-á e ao que não tem ainda se lhe tirará o pouco que tem. Isto criará grandes focos de descontentamento e levará à reacção natural do crescimento de movimentos nacionalistas; surgirão organizações tipo guerrilha como é próprio do Médio Oriente, se não houver e junção da política e da economia com as sociedades locais. Por outro lado a penúria dos estados marginais servirá de impedimento a protestos de exigência de melhoria da situação nos estados economicamente mais avançados. 

A concorrência que nos espera é semelhante à concorrência que os Estados do Sul receberam com os chineses e com o Euro. Dar-se-á um efeito grande de disciplinação; sem princípios jurídicos claros dado privatizar-se também a parte do poder interpretativo.

Com esta estratégia a taxa de câmbio do dólar dos EUA continua a ser co-financiada pelo estrangeiro. 

As negociações do acordo estão a ser organizadas antidemocraticamente e sem transparência porque, a opinião pública não discute, não negociam os Estados, o assunto permanece na comissão europeia. Com isto vão lucrar empresas e investidores de elite. Restam aos países as armas militares a arma do poder de compra. O único poder que ainda temos é fazer pressão nos parlamentos

Organização de Forças contra a Economia chinesa e Outras emergentes

O turbo-capitalismo passa a agir ainda de forma mais globalizada e mais garantida contra a economia chinesa que copia as tecnologias e métodos do mercado ocidental e uma vez que é regularizada de maneira central se serve, com sucesso, de uma matriz socialista-capitalista para concorrer com o Ocidente. O capitalismo ocidental e o capitalismo estatal chinês sabem aproveitar-se dos recursos de países ricos em matérias-primas, porque os capitalistas destes países investirão nas economias mais fortes através da sua participação nas multinacionais. Este sistema é perigoso porque lhe basta fomentar o bem de uma classe política provinda de uma democracia instrumentalizada bastando-lhe para isso controlar o fisco e as organizações policiais e militares e um sistema judiciário comprometido em estados onde a soberania passa a ser sonho. A massa e até a burguesia passam a sofrer a concorrência de grandes oligarcas distantes dos panoramas nacionais, agora proletarizados, porque sistematicamente lhes foi destruída a levedura da inteligência nacional antes guardada na classe média. Assiste-se a uma emigração da inteligência e do capital para os centros do poder. Interessa a rentabilidade e não a produção séria assistindo-se a uma emigração de pessoas e do capital na procura do lucro baseado no consumismo. O capitalismo serve-se da tendência humana a querer mais e a dominar.

Os países pequenos, tal como as pequenas e médias empresas, ficam sujeitos aos interesses das grandes potências e aos órgãos plurinacionais. O capitalismo estruturado em grandes centros hegemónicos passa a operar como o islão na África - de espírito latifundiário e de monoculturas - impedindo o desenvolvimento de estruturas nacionais autónomas. O capital financeiro dos bancos centrais dos EUA e EU, torna-se cada vez mais drástico fornecendo as grandes multinacionais com dinheiro quase de graça e o Estado, que por sua vez, cria as condições para o trabalho barato. Assiste-se a um canibalismo financeiro cada vez mais sistemático devido à união da força política à força do capital que se afirma à custa dos mais pequenos e dos estados.

Aos gabinetes jurídicos parasitários do Estado e servidores das classes políticas juntam-se os órgãos da justiça semiprivada paralela que regula os conflitos entre as grandes empresas. Com a APT / TTIP institucionaliza-se na UE órgãos de justiça privada passando a competência de julgamento em matérias conflituais sobretudo para as mãos das empresas. Os Estados das pequenas Empesas estarão submetidos aos interesses das grandes empresas e correspondentes direitos que se sobrepõem interesses nacionais ou políticos. Daí a necessidade da UE não assinar tal clausula que privilegiaria as decisões de mediações em que os juízes privados das empresas se encontram em maioria e muitos deles sedeados nos EUA (tenha-se presente o caso da Argentina).

 O Estado não deveria ser constituído sujeito devedor atendendo a que o fiador é o povo e ao facto corrente de os políticos se deixarem corromper pela classe financeira. Dar carta-branca ao Estado corresponde actualmente a servir a ganância internacional e o bolso dos políticos e parasitas do Estado. Tudo isto fala em benefício de uma democracia directa (ex. Suíça) e não apenas representativa. 

Quando os impostos sobre as energias, os automóveis, comunicações se torna a maior fonte de receita do Estado e não a receita proveniente do rendimento nacional, há fundamento para se temer o empobrecimento e o autoritarismo do Estado. O empréstimo financeiro a um estado obriga-o indefinidamente ao capital estrangeiro. Fomentam-se burocratas à custa da racionalização do trabalho e do emprego à custa de um desemprego a manter e à custa do parco salário.

São precisas regras globais com padrões elevados, de protecção social, ambiental e dos consumidores e não daqueles que atentam contra eles. Precisam-se regras globais que fomentem o trabalho digno e honrado e que integrem os diferentes interesses de cada grupo e sociedade.

Portugal já teve um exemplo comparável em que capitais subvencionados pela EU, passados os 5 anos de condicionamento às subvenções, emigraram para países mais baratos, tendo destruído as pequenas empresas e deixado o operariado indefeso e à deriva, como se encontra hoje, emigrando do país o cerne de Portugal. Esta é como sempre uma análise possível entre outras. A perspectiva lógica e a sua soma determina o conjunto racional.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu