terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TRÊS PRESIDENTES AMERICANOS NO PARAÍSO

Quando, George Bush, Barack Obama e Donald Trump morreram apresentaram-se a Deus para serem interrogados.

Deus pergunta a Bush: “George Bush, em que crês?”
Bush respondeu: “Creio numa economia livre, numa América forte.
Deus ficou impressionado com Bush e disse: “Muito bem! Senta-te na cadeira à minha direita”

Depois Deus dirigiu-se a Obama e perguntou-lhe: “Barack Obama, em que crês?”
Obama respondeu: “Creio que conseguimos tudo!
Deus ficou realmente impressionado com as palavras de Obama e disse, ‘Ok, senta-te na cadeira à minha esquerda ”

Finalmente Deus encontra-se com Trump e pergunta: “E tu Donald Trump, em que crês?”
Trump respondeu: “Eu creio que você está sentado na minha cadeira.”

Para desenfastiar coloco aqui esta anedota que vi em francês e mudei um pouco.

António Justo

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O ESTADO ALEMÃO NÃO HONROU AS VÍTIMAS DO ATENTADO DE BERLIM



O factor medo na política de informação pública e na atitude política

António Justo
Só um mês depois do ataque terrorista islâmico perpetrado em 2016/12/19 junto à Igreja da Memória num Mercado de Natal de Berlim, o Parlamento Federal conseguiu comemorar os mortos e outras vítimas do atentado e isto devido ao incentivo das muitas críticas na imprensa e nas redes sociais. O Estado alemão não honrou oficialmente as vítimas do atentado islâmico: um atentado cheio de simbologia contra o Estado e contra o cristianismo.

O medo encontra-se enraizado na coluna vertebral

A classe política alemã tem medo de dar demasiado espaço público a assuntos como a criminalidade porque desbeneficiariam a imagem pública dos estrangeiros e em especial a dos muçulmanos que se salientam pelas suas exigências à sociedade acolhedora e também pela organização de extremistas em torno de mesquitas e de clãs árabes em Berlim e noutras cidades. Uma censura camuflada da informação revela-se de resultados positivos a nível social; assim a Alemanha não se tem visto confrontada com o nacionalismo como acontece em França que segue uma política de informação mais liberal, neste sector.

A Ministra do Trabalho prometeu compensação às vítimas que seriam pagas pelo fundo para vítimas de acidentes rodoviários. Deste modo relega a questão para "acidente de trânsito". 

O presidente do Bundestag, Lamert, no discurso proferido no parlamento, referiu que um Estado, que garante a liberdade religiosa como um direito humano, "pode e deve exigir dos muçulmanos uma discussão com a sua religião e a conexão fatal entre fé e violência fanática, de forma vigorosa", disse ele.

Com o atentado terrorista de Berlim a classe política revelou uma atitude cobarde para com as vítimas. A Alemanha é o único país que depois de um atentado terrorista evitou celebrações públicas.
A gravidade desta omissão assenta no facto de um atentado terrorista com fundamentação política ser politicamente ignorado pela classe política. Estamos em ano de eleições na Alemanha e a classe política quer evitar tudo o que faça lembrar os seus erros. O medo do medo chegou à política legitimando o ataque de certos grupos que dizem que ela apenas reage e não age. Há razões objectivas para se ter medo de se viver em cidades que habitamos que levam muitos cidadãos a sentirem-se estrangeiros no próprio país. Não se trata de tomar opções drásticas como faz talvez levianamente Trump mas de convencer os muçulmanos a serem mais moderados e contidos na sociedade que lhes permite elaborar um futuro mais digno do que teriam na própria sociedade.

Hoje a opinião do mainstream autocensura-se evitando ou banindo perguntas críticas com o argumento de poderem fomentar a xenofobia e o populismo. Falta a coragem de argumentar em público com sinceridade e parte-se da consideração de uma sociedade imatura em que não se pode confiar a verdade em vez de a preparar para a multiplicidade e para o dever da interculturalidade.

O medo tem as suas origens sobretudo numa desigualdade social que cresce. A sociedade média encontra-se cada vez mais instável; poucos sobem na sociedade isolando-se em elites e outros vêem que seus filhos, embora nas mesmas condições de formação, estão condenados à depravação. 

Muita da camada social decadente sente-se injustiçada e desfavorecida em relação aos refugiados que, por vezes, recebem maior apoio do Estado do que os necessitados nacionais. 

Os terroristas combatem o modelo de sociedade ocidental e esta limita-se a construir fossos de combate entre si ou a meter a cabeça na areia. Estabilidade interna e liberalidade encontram-se em tensão alta.

O luto recusado

As vítimas de Berlim encontram carinho e empatia cordial por parte dos cidadãos mas não na sociedade política donde seria de esperar um gesto público de respeito do Estado pelas suas vítimas. Familiares das vítimas queixaram-se do “luto excluído” e da falta de cultura do luto. De facto não houve imagens das vítimas. 

Tal é o medo dos partidos e de um Estado perante um povo que, em parte, os responsabiliza pelo acontecido e por um Estado que perdeu o controlo sobre os refugiados que albergou em 2015 (cerca de um milhão). O culto da culpa praticado na Alemanha não parece conveniente nem oportuno para vítimas alemãs. “Vítimas alemãs não se enquadram no conceito do culto da culpa – em que só pode haver delinquentes alemães e não há vítimas alemãs”, relata um desiludido. Uma certa benevolência de tratar pública e politicamente os muçulmanos na Alemanha fomenta em muitos a inveja de serem desfavorecidos.

A república mudou a partir dos acontecimentos de Colónia

Os cidadãos das potências europeias e, por empatia, também os dos países pequenos encontram-se movidos por uma onda dos sentimentos que em certos meios toma a expressão de uma guerra civil de moral contra moral. 

O poder da emoção pública aumenta e mete medo também aos políticos que, em tempos de eleições, se deixam determinar mais pelo medo. Em vez dos factos surge o poder das emoções e das ideologias que determinam um espírito irritado e irritadiço na sociedade. 

Nas conversas domina a preocupação e a falta de orientação. O eu individual e o eu social não se encontram em harmonia. 

Na passagem do ano de 2015 Colónia e outras cidades alemãs congregaram grupos de refugiados principalmente do norte de áfrica com a finalidade de apalpar, roubar e abusar de centenas de mulheres alemãs reunidas em torno da Catedral para saudar 2016. Este fenómeno repetiu-se na mesma noite noutras cidades. A informação sobre o assunto foi, em parte, manipulada e adiada para não causar aversão contra os muçulmanos. A partir daí a sociedade deixou de ser a mesma; a desconfiança tem vindo ocupando os espaços da confiança. Diminuiu imenso a confiança na imprensa e nos políticos. A ideia que a sociedade tinha em surdina, já desde há muitos anos, de que as informações relativas a abusos e criminalidade de pessoas de cultura árabe eram branqueadas, viu-se confirmada na manipuladora política de informação dessa noite e nas hesitações dos dias seguintes. Depois de Colónia essa preocupação encontra-se mais velada na prática de se procurar justificar a maior criminalidade árabe com problemas de meio social e de precaridade económica como se nas mesmas cidades não vivessem outros tantos ou mais alemães nas mesmas condições sociais. Às vezes a explicação de um fenómeno ainda o agrava mais por substituir a tomada de apoios para os grupos sociais concorrentes.

O medo na Alemanha tem uma certa legitimação, dado o povo estar atento e reagir aos acontecimentos. Era tabu ter medo de expressar o medo ou crítica a uma sociedade hóspede que se comporta, por vezes como se fosse senhora da casa. A sociedade aberta não é consequente ao evitar uma cultura de conversação aberta. 

A sociedade ocidental, de uma maneira geral, tem uma atitude complacente para com o delinquente (mesmo a nível de tribunal) e uma atitude indiferente para com a vítima, independentemente de ela ser nacional ou estrangeira. Talvez esta atitude corresponda a uma projecção da própria sombra recalcada no sentimento inconsciente de que o próprio bom viver se deve à exploração.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4082

PORTUGAL ENTRE OS MELHORES PAÍSES EUROPEUS NO SISTEMA DE SAÚDE



O Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal ocupa o 14°. lugar na Europa. A Holanda ocupa o 1°., a Suíça o 2°., a Alemanha o 7°., a França o 11°., o Reino Unido o 15°., a Espanha o 18°. e a Roménia o 35°.

Se desejar informação mais detalhada em inglês consulte a fonte:
Muito bom dia.

domingo, 29 de janeiro de 2017

ALEMANHA REVOGA O § “CRIME DE LESA-MAJESTADE” (DIFAMAÇÃO DE SOBERANOS ESTRANGEIROS)



EM TEMPOS DE PAZ PREPARA A GUERRA
António Justo
A sociedade atravessa tempos de guerra ideológica, política e económica. Os diversos grupos pensam e agem convencidas de possuírem a visão global da realidade, muito embora percepcionada apenas sob uma perspectiva de gueto; como consequência temos a guerrilha civil; acabou-se com as nações para se prosseguir numa marcha de protestos e de toque a finados das civilizações; o descontentamento interno não se limita às fronteiras das nações. Já não chegava a instabilidade europeia, criada pelo fascismo turco, pelo Brexit, pela política de refugiados, pelo desemprego, para nos vermos ainda mais divididos pelas águas revoltas sopradas por Trump. Resumindo: uma sociedade ocidental dividida parece viver os tempos muçulmânicos de jihad (guerra santa) ad intra e jihad ad extra.

“Se queres paz prepara a guerra”

Política e socialmente debatem-se interesses contrários em jogo, e em ano de eleições relevantes na Europa (Alemanha e França) cada grupo procura tirar proveito da demonização do outro: de um lado, os que querem o poder a todo custo e, do outro, os que têm medo de o perder a defender-se com unhas e dentes. 

Na era do pós-facto já não interessa a realidade nem o pensamento fundado sobre as coisas porque o poder da opinião chega para ir insuflando os factos e as coisas. É tempo da guerrilha calada e interiorizada na defesa de interesses construídos à custa do domínio dos outros. Nesta guerra geral de uns contra os outros, em que verdade e mentira se igualam e transformam em ameaça, já não se pode descansar no travesseiro da paz porque, na realidade concreta, “si vis pacem para bellum”!
Assistimos a uma sociedade dividida nos que vivem bem do sistema e nos que se sentem económica e culturalmente atacados interior e exteriormente. 

O presidente turco perdeu o processo de crime de lesa-majestade

A 17.03.2016 um canal da cadeia de TV pública NDR difundiu um vídeo em que o humorista Jan Boehmermann criticou Recep Tayyip Erdoğan , presidente da Turquia, com uma poesia satírica. Erdogan considerou a poesia como um insulto, o que deu origem a um caso jurídico de estado entre a Alemanha e a Turquia. 

A acusação levantada em tribunal alemão por Erdogan contra Böhmermann por este o ter apelidado de "Saco pateta, covarde e atolado"("Sackdoof, feige und verklemmt") foi considerada sem efeito pelo tribunal porque isso não é suficiente para poder ser apreciado como insulto. Segundo o Ministério Público não constitui crime dado "a caricatura de fraquezas humanas não conter difamação grave da pessoa".

Foi curioso também o facto de o ministro dos negócios estrangeiros, futuro candidato à presidência da Alemanha, ter qualificado publicamente Trump como ”Pregador do ódio”.
Nos USA a liberdade de opinião não contempla crime de lesa-majestade baseando-se no argumento de que todas as pessoas são iguais perante a lei.

Governo alemão determinou acabar com o § 103 que defende dignatários estrangeiros 

É considerado crime de lesa-majestade não respeitar a dignidade de reis ou de chefes de estado (§ 103) estrangeiros. O parágrafo 90 StGB regula a mesma matéria em relação achefes de estado alemães. 

Para o § 103 ser aplicado, o governo alemão cedeu ao pedido da Turquia e emitiu autorização para os advogados de Erdogan poderem apresentar acusação nos tribunais alemães e ser aplicada a lei. 

Os Média alemães discutiram de maneira controversa a questão mas na sua maioria criticaram Merkel por não se ter colocado ao lado de Böhmermann e ainda ter comunicado ao governo turco que considerava a poesia satírica "deliberadamente ofensiva". O povo alemão não gostou nada desta posição de Merkel, acusando-a de rastejar (se ajoelhar) perante a Turquia, certamente devido ao facto de se encontrar dependente dela devido ao acordo para conseguir o estrangulamento dos refugiados para a Europa.

O Gabinete de Merkel decidiu a supressão do parágrafo 103 do Código Penal em 2018. Os insultos de chefes de Estado permanecerão puníveis mas serão tratados como os de qualquer outra pessoa.
A decisão tem um senão: porque não suprimir também o parágrafo 90 StGB que penaliza o insulto ao presidente alemão?

A dignidade humana é um bem cultural a defender universalmente. O respeito pela pessoa humana, independentemente do cargo ou ocupação não abule a crítica justa. Por vezes também se assiste a críticas baratas e ultrajantes que revelam mais sobre a dignidade ou indignidade (e a civilidade) de quem ataca ou ultraja do que sobre o ultrajado.
©António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4077

sábado, 28 de janeiro de 2017

É injusta a sociedade que só comemora os heróis

CULTURA DA RECORDAÇÃO – LEMBRANÇA DO HOLOCAUSTO

António Justo
Ontem, 27.01- Dia Internacional da Lembrança do Holocausto - o parlamento alemão dedicou uma hora comemorativa às vítimas do socialismo nazi. Em Buchenwald também houve um evento comemorativo. Também foram lembradas as vítimas nos campos de concentração de Auschwitz (Polónia) e Theresienstadt (Chéquia).

Sempre admirei na Alemanha a cultura da memória; não recalca nem faz por esquecer as partes sombrias da sua história para assim manter vivo o perigo de violação da dignidade humana. Nua sociedade adulta, a lembrança não só dos heróis mas das vítimas e dos humildes não prescreve com o tempo. Quem recorda apenas os heróis prolonga o culto mas não desenvolve a cultura.

O potencial negativo e positivo. Sem uma cultura da recordação torna-se mais fácil justificar actos de desumanidade que se encontram sempre latentes em cada pessoa e em cada sociedade. Num tempo em que um nacionalismo exagerado se espalha é importante lembrar-se que das palavras se passa às obras e palavras da violência e da segregação transformam-se facilmente em armas.

Os factos

A 27.01.1945 soldados das brigadas vermelhas libertaram 7.500 prisioneiros sobreviventes de Auschwitz-Birkenau. 

Até à libertação, através dos americanos em 11.04.1945, o regime nazi tinha deportado 250.000 pessoas de 36 países para Buchenwald. Cerca de 56.000 morreram de fome, frio, ou na sequência de trabalhos forcados e outros foram assassinados em experimentações médicas ou morreram nas marchas da morte. 21.000 conseguiram a libertação. 

De 1946 até 1950, as tropas da ocupação soviética usaram este campo de concentração para 28.000 funcionários nazis e mais tarde também para denunciados e anticomunistas; cerca de 7.100 morreram (HNA 28.01). 

De lamentar é o facto de tais celebrações serem usadas para atacar alguém ou alguma organização.
Uma sociedade que só comemora os seus heróis é injusta. Sofreria de cinismo uma sociedade que recordasse apenas as vítimas do nazismo e recalcasse as vítimas do estalinismo. É imoral um regime que mistifica os seus actos e eleva as suas virtudes à custa da afirmação dos defeitos dos outros.
©António da Cunha Duarte Justo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

ESQUERDA DESORIENTADA



TRUMP ACABOU COM O TPP QUANDO ABANDONARÁ COM O TTIP?

Os EUA são os maiores clientes da Alemanha que é o maior parceiro comercial europeu. Os EUA exportaram em 2015 mercadoria no valor de 49,9 mil milhões de dólares para a Alemanha e a Alemanha exportou para a América 124 mil milhões. Trump quer proteger a economia americana e por isso sofreria também a concorrência forte da Europa. O TPP (tratado comercial com a ásia) seria o que mais concorreria com os americanos. Por isso Trump ordenou o impedimento da preparação do TPP, (tratado regulador das relações comerciais com os países asiáticos).  Actualmente os EUA encontram-se altamente endividados em relação à China pois devem-lhe 19,8 bilioes de dólares. 

Consequentemente deveria acabar com as conversações TTIP (que regularia as conversações comerciais com a Europa), o que seria um rebuçado para a massa crítica que teme que esse tratado facilite a entrada na Europa de alimentos americanos processados sem o rigor a que estão sujeitos os europeus.

Trump critica a globalização, critica o establishment americano e europeu e quer aumentar o investimento do Estado e reforçar o protecionismo da economia. A esquerda encontra-se baralhada com a sua política pois ela defende alguns interesses e temas de que a esquerda se achava proprietária.  

Para agravar a situação vem o facto de as fontes ideológicas polares, a opinião europeia de insígnia esquerda, considerar os democratas americanos como direita e os republicanos como extrema-direita e ter de constatar agora que um Ronald Trump nacionalista ocupa alguns dos seus temas e assim perturbar a ordem política e social estabelecida.

A esquerda precisa de um inimigo claro para poder subsistir, tal como a direita precisa da economia como o pão para a boca. Agarra-se à cassete de frases feitas (a jaculatórias piamente distribuídas nos Média como, populismo, racismo, fascismo, etc. ) independentemente de se interessarem e descreverem as preocupações e interesses que movem as facções estabelecidas de um lado e as que se querem estabelecer do outro: Trump, Le Pen, UKIP, AfD. Importante parece ser manter a opinião pendular do povo, não a ocupação com os problemas!...

A luta da sociedade americana por uma sociedade mais justa e pelos direitos humanos não se deixa reduzir aos interesses sejam eles republicanos ou democratas. O problema está mais para os que vivem do sistema, seja ele de caracter mais democrata ou mais republicano, mais dos interesses da esquerda ou da direita europeia que o povo terá sempre de manter.

Há muita gente engravatada a viver das ideologia e a quem não interessam mudanças onde se tenha de arregaçar as mangas e sujar as mãos!
© António da Cunha Duarte Justo

domingo, 22 de janeiro de 2017

TRUMP UM INCÓMODO PARA A ESQUERDA E UMA INSEGURANÇA PARA A DIREITA

Trump mete medo às elites do poder favorecidas pela unidade de opinião

António Justo
São mais as vozes que as nozes! O discurso de Trump abriu-nos uma panorâmica a preto e branco! Assistimos ao irromper de uma era histórica da privatização e emocionalização da política e ao bulevardismo do poder mediático.
 
O que está em jogo?

Trump manifestou-se contra as elites que vivem encostadas ao Estado, quer iniciar o proteccionismo económico e assim opor-se principalmente à concorrência chinesa, não pretende a guerra fria com a Rússia, quer destruir as bases do “Estado Islâmico „na Síria e no Iraque, põe em questão a causa das alterações climáticas, é contra a imigração ilegal, considera o islão como “potencial de risco” querendo proibir a imigração de muçulmanos, é também contra o aborto e contra o casamento homossexual que hoje são legais nos EUA. 

De momento encontram-se dois poderes em luta na opinião pública: a dos que defendem os interesses do estabelecimento político e a dos que alegam a defesa do povo mais precário ou em derrocada: num extremo os que vivem melhor da ideologia e no outro os que vivem pior do trabalho. 

Contra uma cultura da abertura que favorece as culturas fechadas

Os EUA são de todos: de republicanos e de democratas; a Europa é de todos: de conservadores e de progressistas, de religiosos e ateus; neste contexto é óbvia a moderação e o equilíbrio e o reconhecimento da intercultura provocada pela imigração que vai mudando o rosto americano.

O trunfo Trump assusta principalmente as elites que vivem em torno do poder estabelecido habituado à unidade de opinião pública de timbre vermelho e numa política do continue-se assim! Uma grande parte da população na América e na Europa não têm nada a perder, pelo que, qualquer experimentação no palco da política não a levará a pior.

 Os apoiantes de Trump, tal como parte do povo europeu, contesta a prática política de uma cultura aberta desenfreada que tem beneficiado a afirmação das culturas fechadas (privilegiando mesmo a formação de guetos com mais força de organização e afirmação do que o povo precário nativo) e consequentemente o ressurgir do proteccionismo e do nacionalismo. A Europa tem fomentado a abertura da própria cultura e a formação de guetos cerrados no seu meio: uma contradição! 

Esta onda irrita de sobremaneira uma certa elite do poder europeu que tinha apostado na desestabilização económica da classe média e da própria cultura em favor da globalização e do rejuvenescimento social através da imigração e da afirmação do islão, mais adequado à execução da sua ideologia e interesses.

Compromisso: Primeiro América e os americanos

O aparecimento súbito de um homem representante de valores machistas a dizer “Primeiro América e os americanos” desperta esperanças naquela parte da população que se sente há muito como alma penada da nação e como tal a sapata de um regime político que a leva a julgar-se estrangeira no próprio país. Segundo a revista Forbes nos últimos quarenta anos os salários dos gestores cresceu mil por cento e o dos trabalhadores onze por cento. 

A vitalidade das nações pode medir-se pelo crescimento sustentável do seu pib (produto interno bruto). O crescimento do pib previsto para este ano nos USA é de 1,5% e na China é de 6,6 %. Isto mete medo a Trum que quer manter de maneira sustentável a economia norte-americana à frente do mundo sem pensar que os outros países também trabalham no seu sentido. Em 2016 o pib americano foi de 17,9 biliões de dólares e o pib da China foi de 10,9 biliões.

Nesta perspectiva a América não é Europa e a Nato também não; esta mensagem de Trump, aliada à intenção de proteccionismo económico, mete medo a uma UE habituada a viver encostada aos EUA e que se abriu tanto em nome do capitalismo e do socialismo liberal que se encontra mergulhada em problemas sem fim.

O proteccionismo da economia nacional e a introdução de direitos comerciais aduaneiros significaria  o fim da globalização e prejudicaria sobretudo nações exportadoras como a Alemanha que são beneficiadas pela globalização.

Trump quer poupar na Nato para investir nas infraestruturas

Trump quer restringir a política externa e o planeamento militar e para isso reduzir os lugares de inserção  e operações militares. Os EUA gastam com a defesa 600 mil milhões de dólares por ano (tanto como a China, a Rússia, o Reino Unido e a França juntos) e têm um exército com 1,5 milhões de empregados. A tesoura entre ricos e pobres é maior que noutros países industriais. O topo da população americana (0,1%) ganha em média seis milhões de euros por ano, enquanto 90% da população ganha em média apenas 33.000 dólares por ano. A expectativa de vida dos norte-americanos desceu há dois anos de 78,9 anos para 78,8. Vinte e nove milhões de norte-americanos não têm seguro de saúde; as infraestruturas do estado, estradas e electricidade, são piores que as europeias.

Enquanto os gastos com a Nato em 2016 corresponeram a 3,61% do pib dos EUA, na Alemanha corresponderam a 1,19%, na França a 1,78% e no Reino Unido a 2,21%. O objectivo da NATO combinado em 2002 para os seus membros tinha sido 2%.

Só a aragem de Trump talvez obrigue a Europa a unir-se e a estender a mão à Rússia, seu natural e vocacionado vizinho, se não quiser perder-se em gastos imensos de armamento.

Uma elite do poder renitente 

O medo do terror dependurado no pescoço americano (desde11.11.2001) legitima o governo a tornar-se mais autoritário. Na Turquia que, se encontra perto e dentro da Europa, o fascismo e a ditadura afirmam-se sem manifestações públicas nem medidas da EU que considerem isso perigoso embora 60% dos turcos na Alemanha apoiem Erdogan.

O poder estabelecido treme já só em ouvir o soar da trompeta de Trump. Há muito a perder de um lado e talvez algo a ganhar do outro. Em democracia os interesses revezam-se no poder e, como a sociedade está dividida, reveza-se também na dor. Muitos cidadãos não se se dão bem com a bipolaridade da realidade colocando a verdade num só polo esquecendo que partido é parte e, como tal, representa apenas uma parte da verdade e dos interesses populacionais.

Independentemente dos Erros de Trump, é triste o facto de uma Europa com uma consciência política semelhante à das elites do partido democrático americano não se aproveitar da lição da eleição de Trump para se virar para o povo e analisar o que realmente faz de mal. 

Do nosso lado temos a soberana dívida, o Brexit que questiona a EU e a que se soma uma taxa de desmprego nos paíse europeus horrenda de desemprego (de 23,1% a 7,6%: média europeia 9,8%),  um capitalismo feroz que tomou conta da política e a crise dos refugiados. 

Uma Europa aberta mas de patriotismo envergonhado e pródiga em relação ao esbanjamento de interesses económicos arma-se em tribunal da sociedade americana dividida que agora vê ganhar a parte instável em Trump. Em vez de análise da situação ouve-se por todo o lado uma indignação arrogante de uma opinião pública massificada que se arroga o direito do monopólio da interpretação, como se em democracia só tivesse uma facção razão e a verdade fosse determinada pelo barulho da rua ou dos Média. Trump não gosta dos jornalistas e os jornalistas não gostam dele. O poeta e dramaturgo Bertold Brecht (1898-1956) alertava para a cegueira do quotidiano e da opinião pública publicada dizendo: ”Não aceitem o habitual como coisa natural, pois em tempos de confusao organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar”.

Talvez o exagero de Trump ajude a Europa a mais realismo e, com o tempo, a menos ideologia política de modo a poder voltar à Europa a política económica social de mercado e o respeito pelos interesses da sua população desprotegida ou mantida à mão da esmola do Estado. Esta, estruturalmente desdignificada e desonrada, cada vez se sente mais como peso morto num Estado sem sol para ela e que lhe não oferece perspectivas. 

Islão como factor de risco

A eleição de Trump alerta também para o facto do preço da abertura da Europa ter sido proveitoso para as elites que participam do poder e prejudicial para a camada social desprotegida, com mais concorrência e mais negação da própria cultura em favor da árabe: esta dá-nos petróleo e imigrantes em troca da expansão da sua religião. Trump tocou também este ponto sensível ao considerar o islão como “potencial de risco” sem diferenciar entre islão como ordem social e muitos muçulmanos que a nível individual distinguem entre poder religioso e poder secular.

Temos uma classe política europeia cúmplice, crítica em relação ao cristianismo, fraudulenta no que toca ao futuro da juventude e implementadora do islão por razões económicas e estratégicas. Enigmático na política da EU, que se preocupa tanto com a defesa dos valores ocidentais permanece o facto de nunca um governo ocidental ter defendido os perseguidos cristãos nos países islâmicos e por outro lado os políticos virem para a praça pública dizer que o islão pertence à nação e que o sistema dos países islâmicos e o terrorismo islâmico não têm nada a ver com o islão. Em vez de se procurarem medidas para resolver os problemas de maneira equilibrada e bilateral, assiste-se também aqui a uma política semelhante à seguida nas dívidas soberanas que apenas se juntam e aumentam à custa da insegurança das gerações futuras. Nos USA há 5 milhões de muçulmanos, na Alemanha vivem 4,02 milhões.

Na hora dos malcomportados

Trump, tal como Costa em Portugal, conseguiu assumir ao governo embora o partido adversário tenha reunido mais votos (Clinton 61 milhões e Trump 60). 

Nestas eleições reúnem-se os malcomportados: Trump que não respeita a classe dominante nem as minorias; Obama que vai contra a tradição fazendo um discurso de despedida contra o da tomada de posse de Trump e dirigido ao eleitorado dos democratas; na rua, vencidos revoltam-se contra vencedores como se não tivesse havido eleições; tudo isto parece dar vida à democracia que não quer ver todos os cidadãos reunidos debaixo das suas saias: ela vive da disputa de valores e interesses. Trump poder-se-ia vingar em parte do “estabelecimento político” que, há cinco anos, através de Obama, o humilhou publicamente. Tal atitude prejudicaria o restabelecimento da unidade nacional. Naturalmente Trump não governa sozinho; ele tem a seu lado instituições democráticas que o não deixam isolar-se. 

Penso que o que está aqui em jogo é a volta dos nacionalismos e correspondentes proteccionismos dado também a política europeia das portas abertas ter falhado e ser um perigo para um continente dividido que não tem os mesmos pressupostos históricos nem a independência política que podem ter os EUA. Penso que a situação da esquerda e da direita é tão novelada em torno de um polo e do outro que, de momento, domina demasiadamente o medo e um espírito político carnavalesco. 

Trump quer governar o mundo como se este pudesse ser governado tal como se gere uma empresa; neste sentido parece equacionar o mundo em termos de cálculo de custo e de utilidade (lucro). Por outro lado personaliza e privatiza a política conotando-a mais de povo. A um extremo seguido até agora segue-se talvez um outro, num movimento pendular de épocas, ideologias e tempos.

No reino das projecções e das sombras

A indignação exagerada ou uma fixação na crítica contra Trump ou contra outra personalidade pode ser indício de caracter fraco e correr o perigo de procurar e combater inconscientemente fora de si os defeitos que traz dentro de si e consequentemente vê-os (projecta-os) como sombras em Trump ou em alguém que odeia. Muitas das pessoas que odeiam deixam-se reduzir a meras portadoras de sombras. Exigem que os outros sejam exemplos de luz, portadores da luz que corresponde à sombra que não reconhecem em si mesmos. A América sempre serviu de espaço da sombra para a esquerda europeia e para os nacionalistas. 

Este é um conceito de C.G. Jung que tudo o que não aceitamos (vícios) em nós, o oprimimos e banimos para as sombras que são o nosso inconsciente. Então inquieta-nos o que não queremos admitir em nós para o combatermos nos outros. Quando nos irritamos muito com algum defeito nos outros isso é um sinal de que esse defeito é algo que faz parte da nossa sombra invisível (combatemos os próprios defeitos oprimidos!).

No sentido do pensar positivo americano

Uma vantagem da América e da Rússia sobre a Europa na qualidade de povo e nação vem do facto de darem importância à religião cristã como factor de substrato nacional e de identificação. Trump é um aviso à esquerda materialista dominante na sociedade para que se torne mais humilde e não tão determinante e poder-se-ia tornar também num apelo aos americanos de cima para que se comportem de modo responsável para com os de baixo.

Concedamos-lhe 100 dias para governar e então saberemos mais! De resto, até agora, pelo que pude observar, Trump tem a vantagem de ser um homem igual a si mesmo! Quanto ao resto, os factos o dirão.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4059