sábado, 27 de dezembro de 2014

Sem a Fé religiosa nem a Teoria científica o Mundo viveria às Escuras

FÉ É A ENERGIA DO ENCONTRO
Sem a Fé nem a Teoria o Mundo viveria às Escuras

António Justo
O céu da noite, tão ordenado e tão brilhante, tão profundo e tão convincente, não deixa dúvidas acerca da dona de casa tão esmerada. 

Bate-se à porta. Ninguém responde, apenas um rasto de luz na fechadura da razão. Não se trata de encontrar nem de explicar a existência da Dona mas de permitir a dúvida que possibilita o salto no mistério. Sem a fé religiosa nem a teoria científica continuaríamos a viver na idade da pedra. Fé e teoria possibilitam o salto para o Outro, para o diferente, para o próximo.

O facto de se querer explicar tudo, não significa que tudo seja explicável. A auto-organização da natureza e da sociedade incluiu nelas a fé. A fé humana tal como a fé “física” da natureza proporcionam a ordem e a evolução. 

A ordem divina não conhece a submissão, Deus mostra-se supérfluo, tal como a força que tudo puxa no sentido da evolução. Tudo se encontra na mesma sombra à procura da Luz que o sustenta. A natureza, a fé, a ciência não fazem mais que seguir a chamada do Outro que escusa os olhos porque só feitos para distinguir a diferença entre as sombras. 

Crenças, teorias e saberes correspondem ao tecto que os olhos possibilitam ao olharmos para o céu. A direcção determina a vista. Lembra o embrião na procura da luz, ou a criança a correr para os braços da mãe. 

A alternativa Deus ou o Nada é um problema existencial porque ao decidir-me por Deus afirmo a ordem, ao afirmar o Nada resta o caos niilista. Dietrich Bonhoefer: „Einen Gott, den es gibt, gibt es nicht" = „um Deus que existe, não há“. Bonhoefer tem razão porque um Deus a existir seria reduzido à vertente do criado, a uma lógica causal que nem sequer satisfaria a razão que é a mãe das lógicas; Deus é mais que a existência, é acontecer na relação experiencial, é o encontro a brilhar no canto da fé. Aqui, Deus é encontro de Terra e Céu como revela a sua síntese em Jesus Cristo. 

Deus não se prova, para o provar precisaria de uma inteligência igual ou superior ao que se pretende reconhecer, pressuporia uma inteligência divina, uma inteligência que apesar de grande o reduziria ao conhecível, ao visível pela nossa fita métrica da razão como se Ele se pudesse tornar quantificável. 

Como poderia o saber desconhecer que não pode saber senão o que pode aprender? Como poderia a bilha do oleiro falar do ser do oleiro, quando é apenas um seu vestígio? 

Na minha praia batem ondas de praias desconhecidos que me dizem baixinho que o que me resta é descobrir-me e que sem o abismo do mar e o marejar de outras costas nunca olharia para cima, para as nuvens no céu, para o cume das montanhas, para o seu cimo em mim.

Na desilusão e na vingança do nada tornamo-nos consumidores de nadas que o dinheiro arrasta. No reconhecimento do cristianismo pode esconder-se o eurocentrismo mas a realidade é que a natureza se organiza em sistemas como o sol que tudo une e ordena.

As crenças possibilitam ordens sociais; só a análise e estudo comparativo das ordens sociais poderia dizer algo objectivo sobre o seu Deus e o seu texto nas religiões. Mahatma Gandhi constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade conheceu“.

No universo ouvem-se as dores do parto cósmico e o ser humano sofre-as nele. A singularidade divina reflecte-se na estranheza do mundo que ecoa no fundo do nosso ser.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo

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