terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Homossexuais e Heterossexuais na Arena da TV

O Carácter apelativo do Sexo

António Justo

Na discussão pública da RTP, de quarta-feira pp, sobre casamentos de homossexuais, uma jurista que arrotava a constitucionalidade, defendia a sua posição sacrossanta de maneira tão enérgica e devota que parecia confundir a sua convicção com a Constituição. Em nome desta defendia a posição minoritária dos homossexuais e excomungava para uma ilha longínqua do continente da democracia a oposição minoritária, de juízes constitucionais que ousam, no Portugal do esclarecido 25 de Abril, opor-se ao casamento homo. Independentemente dos problemas entre lei natural e lei positiva (cultural), a lógica encontrou ali os seus limites na convicção. Embora a discussão tenha atingido, dum lado e do outro, pontos altos da argumentação, restou por resolver o enigma se o problema está no homem ou nas suas convicções! De resto, uma disputa renhida entre natura e cultura, ficando-se com a impressão de que o Homem é vítima das duas. Na falta duma consciência universitária livre pode observar-se a subserviência ao “politicamente correcto”. O carácter partidário esteve tão presente que abafou a argumentação válida das duas partes. A liberdade de opinião e da palavra revelou-se difícil.



A defesa dos valores da liberdade em termos de discriminação, além de encalhar nas posições ideológicas, pareceu embaraçar-se no caso de reconhecimento do casamento entre pais e filhos e entre irmãos, atendendo à injustiça perpetrada pela ordem legal positiva que discrimina os incestuosos e os polígamos!... Refira-se que também não foi irrelevante o problema das pessoas menos esquisitas que se sentem homossexuais e heterossexuais. O progressismo e o liberalismo republicano esbarram aqui nas suas promessas de liberdades e irmandades!...



O remédio será educar a natureza para que não continue tão intolerante e discriminatória! Um desafio para os progressistas. Também a tensão entre o foro individual e social se manterá apesar do socialismo. Em abono da verdade contra os defensores do casamento como instituição perpetuadora da comunidade deve ser dito que, com o casamento gay, o Estado poupa os gastos com os contraceptivos. Uns argumentam com o casamento como lugar (casa) da família enquanto que outros vêm nele um acasalamento diferente mas engaiolado. Na realidade o que está em primeiro plano é a casa aliada a uma necessidade real humana de aconchego. Já que se não recebe o carinho social tenha-se ao menos o direito ao biberão do Estado. Com este chega aquele. E “quem não berra não mama”.



Se uns defendiam a restauração da dignidade familiar os outros queriam lá chegar! Pretende-se acabar com as feridas profundas da discriminação mas à custa das feridas ideológicas. Se uns se compraziam nas diferenças entre homem e mulher outros pareciam sofrer com elas. Um desfasamento do princípio ao fim... Apesar da Constituição portuguesa, também a natura e a cultura parecem ter de continuar desfasadas! A evolução biológica ainda não consegue acompanhar o progresso cultural. Tanto no foro natural, como político e jurídico há porém razão para um certo consolo malicioso: De facto a natureza discrimina e a Constituição também. Se uma não é comunista acentuando as diferenças, a outra, em abono do capitalismo, continua a criminalizar os incestuosos e os polígamos. Por outro lado, se a natureza manifesta uma certa liberdade e solidariedade privilegiando, no seu desenvolvimento, aquele que tem mais capacidade de adaptação, a lei positiva só reconhece essa lei para os servidores do sistema, de resto vive da dialéctica entre indivíduo e sociedade. Este sistema, só conhece a obediência de cima para baixo, numa táctica de esperteza ao contrário da natureza que, no seu processo de evolução, segue a inteligência da adaptação solidária.



Esta discussão em torno da liberdade individual evidenciou uma liberdade que pretende continuar a viver da intolerância. Já não é humano errar, o erro está em ser-se homem com opinião. Com a desculpa do “cada cabeça sua sentença”cultiva-se a opinião dos correctos publicada como opinião pública. O resto é regulado automaticamente pelo medo dos que querem ser como os outros. Esquece-se que o primeiro acto que fez do ser humano Homem foi a desobediência e este acto foi praticado por Eva contra a ordem estabelecida. Não é contudo de desprezar o odor do curral, sem ele não nos sentiríamos redil, sociedade! Por isso encanta-nos mais o contemplar duma caverna do que os espaços abertos e sagrados da campina, do que o infinito do mar. Uns e outros preferem a prisão da lei conhecida à aventura aberta do seguimento das próprias directivas.



Toda esta discussão porque o “soba” Socialista se recorda agora do casamento gay para conseguir meter no barco socialista as facções do partido e quer provocar naufrgos nos outros partidos da esquerda, a arrebanhar para a sua galé. Discussões oportunas ou oportunistas dirigidas à emoção popular. Discussões baratas para a próxima governação.



Como se vê o sexo não deixa ninguém indiferente.

Hoje é tabu a discussão em torno da homossexualidade. Quem ousar aventar a hipótese da homossexualidade como fenómeno patológico será logo colocado no tribunal dos réus pela intolerância. O mesmo se diga dos homólogos da oposição. A liberdade hoje advogada quer viver à custa da intolerância relativista. Abdica-se da procura da verdade para se apostar no discurso retórico, o discurso dos que mantêm o poder. Em vez de se apostar na verdade aposta-se na opinião. Os maus, os intolerantes são sempre os outros.



É verdade que a lei reconhece as relações de facto e até o direito a educarem filhos aos que se não declarem viver em relações de facto. Casamento não é um acto só legal, um mero contrato entre dois seres humanos, ele é também um acto litúrgico e de valor social a que naturalmente os homossexuais não querem renunciar. Antigamente acusava-se a Igreja católica de se intrometer na cama nas relações entre o casal, hoje os laicistas apelam a que o estado se meta também ele na cama das uniões homossexuais regulando-as.

Enquanto que uns correm o perigo de se apoderarem de Deus dogmatizando-o, os outros correm o perigo de se apoderarem da ciência, dogmatizando-a para os seus fins. O que está em causa não é Deus, a ciência, a Verdade, mas a verdade que se identifica com os próprios interesses. Uns servem-se de Deus, outros da ciência e ainda outros do povo para se justificarem. Como não conseguem levantar-se sozinhos apoderam-se da manada ou metem-se nela. Desde os anos sessenta temos observado que bispos, padres, professores universitários e conservadores se meteram no rebanho deixando o testemunho público aos progressistas e aos conscientes do poder. A razão e a inteligência, nalguns sectores da nossa sociedade, persistem em continuar de férias. Por isso, os oportunos do sistema pensam o que o sistema quer que pensem e os outros têm medo de se expressar. Há um clima mediático intimidarário. Na Idade Média tinha-se medo do Inferno, hoje há o medo de pensar de se não pensar como a opinião publicada quer que se pense. Hoje há o Inferno chamado fascismo ou comunismo. Os “Mullas” da democracia determinam o pensar correcto, o pensar dos eleitos. A democracia torna-se pouco a pouco numa sociedade de eunucos, incapacitados de pensar por si próprios cada vez mais dependente de vontades exteriores. Antigamente o povo lia pelo missal da religião nas igrejas, hoje lê pelo missal da democracia nas escolas e bebe, da TV, o ópio do anoitecer.



Antonio da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

1 comentário:

**Viver a Alma** disse...

Salvé!
Acho que esta sua paróquia virtual tem poucos adeptos.penso que as pessoas não estão habituadas a ler de um padre coisas tão reais, tão esclarecedoras e tão pouco ouvidas da boca de..."padres".
- peço desculpa pela intolerância. Tanho andado "nos treinos" quer para a paciência/tolerância - ainda não percebi muito bem qual a diferença entre ambas - e ainda a humildade..é que em certas coisas ainda levanto o nariz.E tanto lhe digo a si, como a outra pessoa qualquer...penso que isso já é ter a noção do que é ser humilde.
Embora nem sempre aplique...mas a vontade e a força fazem a "monja"...

O que aqui escreveu tiro o meu chapéu - embora só o coloque quando chove.
Não entendo algo:
Se o amor está em todos, e é ELE que nos vivifica/anima, e se pais amam filhos, irmãos do mesmo sexo a mesma coisa, porque razão não podem os homens amar-se entre si, sem aquela cena apenas do sexo? é isso que me tem feito pensar...eu vivi um pouco - muito tempo - nesse meio, embora nunca nada me pegasse - e creia que eles eram os meus melhores amigos. A atenção, a dedicação, a aceitação aos meus defeitos, a doação, era incrível. Desde que não sejam para além da conta - porque há pessoas e pessoas, sejam elas homo ou hetero - tudo o que não roce o grotesco, a indelicadeza, a honra e o carácter, reconheço-os como outras pessoas quaisquer.
O que posso discordar é do sexo entre eles - sejam homens ou mulheres - porque se no Universo sempre houve e há 2 pólos: negativo e positivo, masculino e feminino, para que a evolução se dê, nenhuma relação entre pessoas do mesmo sexo, pode procriar...é por isso que acho ser contra-natura, mas nunca o amor existente entre eles/elas. Dá para entender isto? Acho que o amor é um direito de todos! Porque ele vive em todos e chama-se DEUS!
quanto ao 1º, 2º, 3º, e 4º poder, não lhes ligo patavina. Tento abstrair-me de más línguas, de tretas inventadas para conseguirem audiências, etc.
Afastei-me desses patamares desde 1999.Isso ficou muito lá atrás, embora me mentenha informada...mas não me deixo dominar, nem sequer escrevo no meu blog algo sobre política, religião - posso dar uns "lamirés" numa ou noutra frase - comparativamente com o teor do post em questão, mas nada mais.
Esta paróquia virtual é mais um confessionário...porque não obtemos repostas. Mesmo que elas não estejam de acordo com o que o padre do outro lado pense...
Deixo o meu agradecimento e deixo um repto que passe por lá por casa e veja o que escrevi.Não costumo escrever nem fazer este tipo de pedidos, mas gostava de ler um comentário seu.
Acho-o o máximo! Verdade!

Abraço meu - se me permite, como faço com todos os bloguistas onde gosto mais de visitar

Sempre...
Mariz