quarta-feira, 20 de maio de 2009

O PAPA CAMINHA EM TERRENO MINADO

A Viagem do Papa à Palestina deixa vestígios de paz
António Justo
Ainda antes de Bento XVI iniciar a viagem à região da Palestina já a imprensa problematizava tal intento. Uma viagem que honra israelitas e palestinianos ao mesmo tempo torna-se incómoda para grupos que apostam numa política de trincheiras. Como cristão, o Papa sabe porém que a verdade nunca está só dum lado.

É sintomático que uma pessoa que só usa da palavra em função da paz se encontre em tanto perigo. Israel disponibilizou cerca de 80.000 polícias e pessoal de segurança para proteger o hóspede.

O governo de Israel intitula o papa de “ amigo autentico de Israel e do povo judeu”. O Rabino de Jerusalém disse: ”O caso Williamson já não é ponto de discórdia. O facto de se ter chegado a isso não foi intencional, mas uma questão de falta de managemment no Vaticano”, afirmando também que as relações entre judeus e católicos eram boas e cordiais.

O calvário, não é alheio ao papa. No seu caminhar entre Deus e a política, tropeça de crise em crise. A cruz que traz tem dois mil anos de carga histórica, a carga duma instituição global com seus problemas. Os ventos contrários actuais obrigam-no a caminhar na defensiva em actos de reparação em mesquitas ou com declarações explicativas de interpretações tendenciosas das suas palavras. Porque é humilde, procurando seguir o Mestre, todo o lixo da estrada lhe é atirado. Os Kommenis, esses são compreendidos, explicados e aceites!... Um mundo atrevido e presumido que vive bem de mal-entendidos não aceita que Bento XVI ponha o dedo nas feridas da vida, que fale dos pontos fortes e fracos das religiões como foi no caso de Ratisbona. Não lhe dão uma chance, só lhe põem pedras no caminho: o discurso de Ratisbona levanta a aversão de muçulmanos e seus aliados contra ele, a questão propagandista dos preservativos falsifica o seu pensamento, o levantamento bem-intencionado da excomunhão a quatro bispos, um deles negador do holocausto é usada para questionar a sua amizade para com os judeus. Tudo questões acidentais mas que encobrem o essencial e enchem os bolsos dos que vivem de especulações tendenciosas. Um papa intelectual não habituado ao cálculo político, que, com humildade popular, não procura a simpatia das pessoas, que coloca as questões prementes da actualidade na ordem do dia, vê-se obrigado a fazer de bombeiro, e a apagar incêndios na sua via estreita entre o relativismo e o fundamentalismo.

Bento XVI embora diga o mesmo que dizia João Paulo II, não é beneficiado pelo seu carisma reservado e humilde. A publicidade fixa-se apenas em aparência e em superficialidades e num simplismo redutor depois ampliado em letras gordas dos jornais e da TV. O Papa não se preocupa apenas com o contexto mas com o texto. No texto o papa dirige-se não só às maiorias mas também às minorias, o que torna mais difícil uma leitura séria.

Parlamento Europeu o Cemitério dos Elefantes?
O Papa é um cartaz o que leva muitos a quererem perfilar-se à custa dele. Também partidos do Parlamento europeu se agarram a pretensas afirmações sobre anticonceptivos para embrulharem a sua propaganda e promoverem nos Media a própria imagem. Certos ideologias sabem que ao tocarem o sino do ressentimento contra o Papa dão satisfação aos seus votantes motivando-os a alinhar-se nas suas fileiras. Isto deu-se também agora no parlamento europeu que procurou interpretar mal as palavras do papa que ao ser questionado, antes da viagem a África sobre o uso de preservativos, diz:”Eu diria, o problema Sida não se pode resolver apenas com slogans de propaganda. Se falta a alma, se os africanos não se ajudarem a si mesmos, este flagelo não pode ser eliminado com a distribuição de preservativos: pelo contrário, corre-se o risco de aumentar o problema”. Estas palavras proferidas em 2009 foram suficientes para fracções do parlamento europeu (liberais e outros) requererem uma moção parlamentar para condenar as palavras do papa e para o colocar ao lado de criminosos de guerra no Relatório dos Direitos Humanos do ano 2008. Por aqui se vê o oportunismo político e o desejo ideológico partidário de se aprumar neste ano de eleições. “Com palavras e bolos se enganam os tolos” diz a sabedoria popular. A moção parlamentar foi rejeitada com 253 votos contra, 199 a favor e 61 abstenções. Aqui se nota a política como a arte de deturpar. E o Zé-povinho engole tudo como se tratasse de comida sadia. Come o que lhe dão depois de mastigado!

Depois não querem ouvir, a queixa da província ou ideológica de que “o parlamento europeu é um cemitério dos elefantes”! Verdade é que, por vezes se empenha demasiado na difusão de redes de ideologias e insuficientemente na solução de problemas reais de povos reais.

É triste constantar-se tanto ressentimento, apresentado na bandeja pública, baseado geralmente em preconceitos ou em supostas posições sempre reduzidas e deturpadas do seu conteúdo. Ao observarmos este Papa tem-se a impressão dum cordeiro entre lobos. É atacado pelo que diz e atacado pelo que não diz, ou pelo que outros quereriam que dissesse. Uma sociedade que tão maltrata os símbolos dos seus valores parece seguir um impulso de autodestruição.

Naturalmente que a igreja e todas as instituições são formadas de pessoas carentes passíveis de crítica mas também de mútuo respeito. Toda a instituição tem os seus cadáveres na cave! Que a Igreja seja tão atacada e difamada é duvidoso, atendendo que as suas organizações são as que mais apoios caritativos no mundo fazem e quando há tanto mal real no mundo que poderia beneficiar do bem que os críticos poderiam, além de desejar, fazer. O ataque à Igreja parece tornar-se num substituto da crítica ao próprio egoísmo e às instituições cuja subsistência depende da guerra e do mal contra o próximo. A má consciência faz falar!

Naturalmente que o papa não é só pessoa, é também símbolo e plano de projecções alheias, o que leva o mundo a reagir com hipersensibilidade sobre tudo o que ele diz, faz ou deixa de fazer. Cada gesto, cada visita, cada palavra ganha uma dimensão política. Por isso qualquer terreno que pise se encontra minado pela ideologia e hostilidade de uns para com os outros. Da discussão sai naturalmente a luz! O problema está para aqueles que não podem ler as entrelinhas ou não têm tempo para ir às fontes da informação, tornando-se vítimas do que ouvem ou lêem. As palavras podem provocar verdadeiros incêndios e devastar florestas virgens.

Diálogo não pode ser uma estrada de sentido único
Em Amman na Jordânia, o Papa apelou para uma reflexão sobre as raízes e valores comuns das religiões e defendeu-as dos ataques da crítica radical dizendo: “nós religiosos somos solidários”. E continuou: “os críticos não se contentam só em levar a voz da religião ao silêncio, mas querem também colocar a sua voz no lugar dela”.

O diálogo religioso não se pode comparar com um diálogo político. O diálogo entre partidos trata de ajustamento de interesses e de aspectos culturais. O diálogo religioso e o compromisso dão-se ao nível cultural mas não no característico religioso das convicções religiosas. Aqui cada um deve procurar entender o outro. O diálogo realiza-se, como diz o papa, ao nível das “consequências culturais”. Alguns queriam ouvir um papa falar dum Deus à la carte e por isso chamam-no de conservador! Quanto à concepção de Deus, cada cultura tem a sua.

Cada cultura ou civilização é fruto da sua concepção implícita ou explícita de Deus. O cristão é livre de adorar a Deus com imagens ou sem elas. Cada um entra numa relação com o Todo, com Deus, à sua medida, sabendo que Deus transcende todas as medidas. Esta liberdade é típica cristã, porque o seu Deus é incarnado e como tal deixando-se venerar através de analogias ou protótipos. O mesmo não é permitido no judaísmo e no islão, que não permite imagens. No cristianismo o Homem é imagem de Deus e da realidade possibilitando assim um contínuo esforço de compatibilização de imagem e modelo, uma discussão entre religioso e profano.

A própria palavra traz atrás dela sempre uma sombra!... O problema do diálogo não está nas religiões nem nos ateus. O problema não está nas diferentes concepções mas na afirmação dumas à custa das outras, na culpabilização do outro pelos problemas do mundo e pelas inimizades entre os grupos; em desconfiança mútua, cada um atira as próprias minas para o campo adversário, sem notar que o faz numa atitude instintiva de auto – afirmação. O diálogo pressupõe fidelidade a si mesmo e à própria fé mas sim em diálogo com os outros e na abertura de integrar em si o que anda por fora e de se descobrir fora também.

Uns e outro reconhecem Deus como “razão criadora”. O problema é a ideologia alvorada como custódia à frente da cabeça. Se o Homem não governa o mundo com a razão então regê-lo-á a religião, a emoção seja ela religiosa ou laica.

António da Cunha Duarte Justo

1 comentário:

**Viver a Alma** disse...

Salvé Pd António Justo
Como vai?
Ainda não tive oportunidade de passar por aqui, porque a net está deveras vagarosa.

Permita-me discordar de si quanto a este papa!
Humilde era João Paolo II
Não me parece que um homem que calça sapatos do Prada e deixou de ser vestido pelo antigo alfaiate do Vaticano, mas sim por costureiros italianos, seja tenha a prioi uma imagem de humilde - bastava só isto...mas há mais...
não gosta de aproximações em relação ás multidões que se atropelam para lhe tocar, como se ele fosse "um santo"!
Não vejo nele nada que me comova, com acontecia com o anterior papa.
Este veio a reboque. A começar pela sua eleiçao...bem antes, já se viam t-shirts com o seu nome, lápis, canetas, canecas e outros objectos...até tinha na net um clube de fans...mas o que era aquilo ?
alguma eleição política para a presidência?Ele é essncialmente um
papa de cátedra! de Gabinete!

Pessoalmente nao me inspira confiança...nem o seu sorriso me parece franco; sou sensível a certas coisas...uma sensação esquisita quando o vejo e me faz mudar de canal ou desviar o olhar! Estranho não?
Nada disso acontecia com Joao Paolo II que vezes houve, as lágrimas brotavam dos meus olhos e tive alguns sonhos com ele...belíssimos!
Ele sim..humilde, homem das massas, viajante do mundo, terno, quase santo...levou até ao fim do seu calvário...a sua cruz!

Por onde caminha esta igreja que se diz de Cristo?
Como sabe não sou católica nem de qualquer religião. No entanto tento seguir o que a Biblia diz e fico atenta aos sinais que o céu me
envia.
Rezo e há algo que me propus desde que tive o meu despertar de consciência:
os 5 1ºs sábados de reparação que a nossa mãe Maria nos pediu e que a grande maioria dos católicos nem sabe o que isso é!

A determinada altura, deixei de ter quereres. Eu quero o que o PAi quiser e vou para onde Ele me indicar. E não sou fanática por nada nem por ninguém nem sigo seitas, grupozinhos, ou do que quer que seja.
Tenho Deus, Jesus e MAria por companhia. Sempre que me sinto adontada invoco a Santissima Trindade. Não desespero face á adversidade. apoio-me no salmo 23.Recebi ensinamentos Indys e sou receptiva ao que o Dalai Lama diz e faz...nada que se compare com o líder da religião católica.
A humildade do Dlai Lama é bem diferente da do papa!
Estive com alguns monges do Tibete aqui em Sintra foi uma maravilha o que eles disseram!....e no alto da serra numa cerimónia onde enviaram par todo o Portugal orações (mantras) e cantares er tudo tão harmonioso e belo, mas de uma vibração tal, que eu tive dificuldade em me manter de olhos bem abertos...comecei a ter um sono quase incontrolável.
Este papa não tem esta vibração de certo.? - como poderia isso acontecer, se vive no meio de tanto fausto e inflexibilidade?
Peço desculpa de contrarear as suas palavras...e mais ainda as suas opções e processos de vida, mas sinto-o uma pessoa diferente...até mesmo daquilo que as suas palavras indicam.

Afirmo com toda a segurança que Jesus nos quer livres e nada que nos aprisione, a começar pelos pensamentos,mas também pelas religiões.
Neste meu trajecto, recebi alguns sinais nesse sentido.
Apenas para segui-LO...nada mais!
As religiões servem para nos acompanhar nos primeiros passos..mas logo que consigams caminhar sózinhos, devemos largar as bengalas!
E assim venho mantendo esta postura nestes 10 anos...quase 11de caminhada.
Por isso para que necessito eu de líderes que eles não cuidam do seu rebanho nem imitam Cristo?
O meu líder é Jesus como tenho um PAI que tudo pode e me creou e uma mãe a quem devo montes de Graças.para que necesito de homensa comandar e por vezes a impecilhar o meu trilho?
Isso seria não pensar pela minha cabeça e agir em função de outrém!

Acho que não estou errada.
Deixo as minhas saudaçoes fraternas em forma de abraço. Posso?

Sempre...
MAriz