sábado, 24 de maio de 2008

Jejum e Abstinência Quaresmal


O sentido contra os sentidos e os sentidos contra o sentido - Qual a alternativa?

Jejuar está cada vez mais na moda. Além do significado psicológico, social e religioso tem uma grande importância estética. Na Alemanha, muitos, crentes e não crentes, aproveitam a época da Quaresma para se relacionarem melhor com o seu corpo e com o seu espírito. Este período corresponde também a uma necessidade de calma e silêncio, de reflexão sobre o sentido da vida. Nele procura-se o equilíbrio e uma consciência de mais respeito pelo corpo e pelo espírito.

A sociedade de consumo necessita duns tempos de desprendimento, atendendo a que a prosperidade não é suficiente e não dá resposta à necessidade de orientação. A renúncia proporciona também a identificação com os pobres do mundo que não têm outra opção que não seja a abstenção.

Nos 40 dias da Quaresma – período que vai de Quarta-feira de Cinzas à Páscoa – muitos cristãos e não cristãos procuram jejuar para se disciplinarem e verificarem se o espírito consegue afirmar-se em relação aos instintos. A religião procura contrabalançar a fome da vida com a fome interior, a fome de Deus, ou simplesmente o desejo de ser com o desejo do ter, a vontade contra a entropia.

A abstinência faz bem ao corpo e ao espírito e torna uma pessoa forte. Depois do jejum uma pessoa sente-se mais leve, atingindo um sentimento de entusiasmo e por vezes mesmo de exaltação. Muitos querem sair da rotina do consumo e aproveitam para meditar sobre o próprio comportamento e outras coisas da vida para que normalmente não têm disposição.

Pessoas religiosas praticam a sobriedade durante estas 7 semanas como preparação para a ressurreição de Cristo.

Aqui na Alemanha na escola há uma grande abertura para a renúncia durante este período. Fazem-se propósitos. É comum as crianças renunciarem a rebuçados e a lambarices.

O jejum e abstinência expressam-se de muitas formas: renúncia a alimentos durante algum tempo ou redução dos mesmos, abstenção de carne, de TV, do tabaco, do álcool... Para outros expressa-se no silêncio, treino da capacidade de ouvir os outros, escrever cartas e diário, fazer exercícios espirituais, treinar a solidariedade, etc.

O apelo da Igreja: “lembra-te que és pó e em pó te hás-de tornar” é uma constatação que vale para crentes e agnósticos. Se é verdade que a fé, por vezes, não dá sentido a muita gente crente, roubando-lhe até os sentidos, também o ateu corre o risco de se perder nos sentidos sem encontrar o sentido.
António Justo
2006-03-03
António da Cunha Duarte Justo

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