António Justo
A crise do Coronavírus
vai apressar a possibilidade de se começar a contrariar a desigualdade entre os
países membros da União Europeia (EU). Esta é a oportunidade que a Europa
tem para acordar, se redescobrir e entender a sua missão humana no mundo.
A salvaguarda da paz
entre os países europeus e o novo papel que a EU terá de assumir no século XXI,
são os principais motivos que impulsionam a Chanceler alemã a intervir, num
momento axial da História em que se forma uma nova orientação política mundial
com base nos polos EUA e China.
À EU nada mais restará
que a África como possível zona de influência directa (apesar de, neste
assunto, dormir em relação à China muito activa em África porque também precisa
de votos que apoiem a sua política na ONU.
Depois dos litígios com
Trump, Ângela Merkel sabe que a Europa se encontra abandonada a si mesma e que
o destino da Europa e da Alemanha são comuns e dependem do relacionamento
alemão.
No debate, se a União
Europeia deve ou não assumir a responsabilidade de uma dívida conjunta
(comunitarização da dívida pública) em benefício dos Estados com economias mais
débeis, parece surgir no horizonte social alemão consenso positivo.
O plano Corona de ajuda
(de 500 mil milhões de €) proposto pela chanceler alemã Angela Merkel (CDU) e
pelo chefe de Estado francês Emmanuel Macron é apoiado pela presidente AKK da
CDU; ela vê no Plano um esforço conjunto em prol da coesão europeia.
O Plano Corona, permitirá
à Comissão Europeia contrair empréstimos nos mercados financeiros e possibilitar
um fundo de reconstrução com um volume de 500 mil milhões de euros. O
dinheiro será então utilizado como subsídio não reembolsável do orçamento da UE
para os países da UE mais afectados pela crise do Corona.
Há também muitos cidadãos
alemães que torcem o nariz porque consideram o pacote financeiro como um
presente à França e aos membros vizinhos do Sul. Veem nele a agravante do
pacote não condicionar contrapartidas dos países beneficiados e não haver
restrições ou influência sobre a sua utilização. Outro ponto de crítica é que
as autoridades concordam em algo e só depois é iniciado o processo democrático
de consulta; processo este já sob a pressão de que a chanceler não pode ficar à
chuva.
Esta iniciativa revela
mais uma vez a inteligência e a vontade da Chanceler se manter orientada, nas
suas decisões, por princípios de solidariedade cristã, que se encontram nos
estatutos do seu partido (CDU) e necessitam de vida. Certamente sente-se nas
pegadas de Carlos Magno, o pai da Europa.
A Chanceler alemã aposta no Euro e no mercado comum como factores
determinantes de uma EU que não pode abdicar da sua missão mundial. Isto apesar do factor político europeu se encontra num
estado muito problemático.
Angela Merkel não tem uma tarefa fácil atendendo a duas
tendências europeias extremas: de um lado um norte de elites políticas
poupadoras forretas e do outro, um sul de elites políticas esbanjadoras; de um
lado um norte de mentalidade de cunho protestante e do outro um sul de
mentalidade de cunho católico!
Penso que Angela Merkel procura, com a ajuda de Macron (e
ajudando Macron), obrigar a França a assumir maior responsabilidade para
que a União Europeia consiga subsistir aos desafios dos USA e da China
(no futuro serão eles a tocar a música!). A Chanceler sabe que a Alemanha, só
ajudando a Europa poderá salvar a Europa e deste modo salvar-se a si
mesma.
Merkel é uma mulher política que não encontra na Europa
homem do género que se assemelhe. Não é suficientemente valorizada por se
encontrar num mundo de matriz masculina. Ela tornar-se-á no símbolo de tentativa de uma
política feminina numa matriz politico-económico-social masculina. É um símbolo
de governante em que a energia da feminilidade se poderia começar a afirmar
numa nova matriz em que os polos da masculinidade e da feminilidade entrem numa
melhor complementaridade.
Portanto, europeus, na
discussão partidária política, menos ideologia e mais sentido do real em
relação à política de Merkel na coligação governamental (GROKO)!
Permitindo-me um pouco de
euforia no meio de muitos ainda amarrados ao preconceito contra os alemães,
atrevendo-me a dizer: quem ainda não compreendeu Merkel não compreendeu Europa
nem o sentido da União Europeia! O modelo federal alemão terá de ser mais
objecto de observação por estudiosos interessados numa EU fiel ao espírito de
Carlos Magno que apostava no fomento da cultura cristã e não apenas na
economia.
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