LUSOFONIA
ECONOMIA E MERCADO
Por António Justo
Num tempo em que a Europa se
encontra em grande crise e as suas potências procuram beneficiar da sua posição
económico-geográfica para proteger e fomentar os seus vizinhos mais próximos em
detrimento dos países da periferia e benfeitorizando também as suas relações
económicas com as suas antigas colónias, seria de grande oportunidade uma união
de esforços em todo o território lusófono, não só no sentido do fomento de
projectos culturais comuns mas especialmente na elaboração e fomento de um
espaço económico comum que privilegie o parceiro lusófono tal como as potências
privilegiam os seus parceiros imediatos.
Só em conjunto se conseguirá
reagir contra o neocolonialismo das multinacionais das grandes potências
interessadas em criar estruturas de dependência tecnológica e económica que
amarram os países indefesos aos seus mercados e às suas condições. Disto
deveriam estar conscientes os países do espaço lusófono. Um pensamento criativo
conjunto, em termos de concepção e projeto futuro, podê-los-ia possibilitar
passos alargados no sentido de superar o colonialismo económico das grandes
potências, bem como o encalhe em nacionalismos fechados que uma História lúcida
já não permite.
Sem tabus, seria óbvio fazerem-se
reviver ideais formulados nos tempos do regime de Salazar – necessariamente
adaptados às realidades dos países lusófonos actuais - e ver o que ele tinha
realmente de visionário a nível de afirmação das antigas “províncias
ultramarinas” como parte de um espaço económico comum, numa consciência de
complementaridade.
Já no regime de
Salazar se concebia a ideia de uma confederação do espaço de multiculturalidade
e interculturalidade afro-luso-brasileira correspondente a um mercado comum a
beneficiar do mercado europeu: „A formação de um grande e de um só
mercado, assegurando a um tempo a comunhão de todos os territórios nacionais
sem qualquer diminuição, bem ao contrário, da autonomia de cada um, rasgará
horizontes tão vastos que neles caberá a igualdade efectiva de condições, seja
qual for o chão português onde labutem, a quantos vivam para criação da riqueza
nacional. „In http://eurohspot.fcsh.unl.pt/site/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=391 Não se
perca tempo nem se continue a adiar a História com aconteceu no regime de
Salazar e aconteceu especialmente no regime do 25 de Abril.
Numa altura em que a economia Portuguesa ainda se
encontrava ligada às províncias ultramarinas portuguesas e à EFTA, entre 1960 e
1973 o rendimento nacional por habitante crescia a uma média superior a 6,5% ao
ano! "Nos anos 60 e até 1973 teve lugar, provavelmente, o mais rápido
período de crescimento económico da nossa História, traduzido na industrialização,
na expansão do turismo, no comércio com a EFTA, no desenvolvimento dos sectores
financeiros, investimento estrangeiro e grandes projectos de infra-estruturas.
Em consequência, os indicadores de rendimentos e consumo acompanham essa
evolução, reforçados ainda pelas remessas de emigrantes", constata a
SEDES.
A EU (Zona Euro) beneficiou as
infraestruturas portuguesas (autoestradas) mas destruiu a agricultura e as
pescas e promoveu a desindustrialização do país. As mesmas consequências
sofrerão países emergentes (como os do espaço lusófono) que verão as suas
economias confrontadas e dominadas pelas multinacionais e amarrados a tratados
comerciais e de investimentos internacionais do tipo TTIP que favorecem as
grandes potências interessadas em mercados para exportação ou para
fortalecimento das suas empresas.
O espaço da Lusofonia é
extraordinariamente rico em recursos naturais, humanos e culturais e um
excelente exemplo de interculturalidade. Urge portanto, na luta selectiva dos
mais fortes, a união de forças no sentido da solidariedade construtiva entre os
países mais fracos para não deixarem definir o seu futuro da economia pelos
outros, que a exemplo dos bancos vivem bem dos “juros” que os clientes têm de
pagar ad infinitum. Facto é que o tempo das economias nacionais já faz parte do
passado; não se pode deixar a determinação do futuro ser só determinada pelo
consumo e o lucro.
Portugal deveria estar muito
interessado, como membro do grande mercado da zona euro, em favorecer o
fortalecimento da economia e do intercâmbio da imigração lusófona no espaço
europeu. A grandeza de um tal espaço e da população ofereceria a base
necessária à formação de grandes grupos económicos com capacidade de
concorrerem com os tradicionais grupos das multinacionais que hoje dominam. O
espaço intercultural lusófono poderia tornar-se num exemplo de economia social
do mercado.
Um tal projecto implicaria a
formação de grupos de trabalho ad hoc (redes de técnicos e especialistas) a
nível dos ministérios da economia e dos grandes empresários e Bancos dos
diferentes Estados da lusofonia. Neste sentido deveriam trabalhar também as
universidades de todo o espaço lusófono preparando o caminho com pesquizas,
trabalhos de doutoramento e o intercâmbio na aplicação, no lugar, de um saber
conectado e de orientação lusófona.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=3480
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