Governo ordena
que o Aeroporto de Lisboa se chame Aeroporto Humberto Delgado
Por António Justo
A partir de Maio o aeroporto da
Portela/Lisboa passa a chamar-se Aeroporto Humberto Delgado, por decisão
do governo. Num accionismo apressado, a governação cria mais um facto consumado
no sentido radical. Actua, em medidas ideológicas, com tanta pressa que até
parece contar cair em breve!
Sem discussão pública e sem o
mínimo de respeito pelas sensibilidades nacionais, o governo excede as suas
competências, aproveita-se da situação para pôr nos lugares altos da nação os
ídolos de sua veneração.
Uma lógica racional isenta - não
sedenta de ideologia - manteria o nome que indica o ponto geográfico, ou seja
Aeroporto de Lisboa.
Se é verdade que Humberto Delgado
teve um papel na fundação da TAP também é verdade que temos personalidades mais
expostas e oportunas ligadas à aviação com renome internacional como Gago Coutinho e Sacadura Cabra. Estas duas personalidades,
figuras de integração nacional, não têm a desvantagem de terem sido arrebatadas
por nenhuma confissão política, o que já não se poderá dizer de Humberto
Delgado, símbolo da oposição ao regime de Salazar mas, o que é pena,
açambarcado pelas facções da esquerda. Estas talvez esqueçam a participação de
Delgado no golpe de estado dos militares em 1926 que instaurou a ditadura
militar (acção talvez lógica para acabar com a anarquia democrática da primeira
república!). Só se candidatou nas eleições para presidente da República em 1958
com a divisa de depor o 1° ministro Salazar e depois ter contestado o resultado
eleitoral de apenas 23% dos votos alegando ter havido fraude nas eleições; foi
despedido do exército em 1959 (A sua mudança de atitude ficou-se a dever à sua
experiência com a democracia dos USA na qualidade de diplomata).
Do exílio no Brasil apoiava
actividades da oposição, entre outras, o sequestro do navio de passageiros
Santa Maria e fundando em 1964 a Frente Patriótica de Libertação Nacional –
FPLN; em 1965 foi assassinado, num acto cobarde, pela PIDE.
A
sociedade portuguesa instalada vive bem da controvérsia, mas só entre ela,
contando com a ignorância, o desinteresse ou o não pensar do resto da nação. A
História de Portugal não começa nem acaba no 25 de Abril.
Uma vez
que o assunta é devocional e se trata de escolher e elevar um nome olímpico
sagrado, certamente seria mais venerável o nome de Aeroporto Gago Coutinho e
Sacadura Cabral. Haja porém tolerância e comam todos, independentemente dos
nomes das capelinhas; importante é termos lugar também para os que se contentam
em ficar no adro do templo nacional, o tal povo infiel e indiferente a
baptismos ocasionais que continuará a chamar pelo nome Aeroporto de Lisboa. De
resto, para todos os nomes, o “eterno” descanso, numa democracia cada vez mais
incrédula e por isso mais necessitada de almas justas e santas nos lugares
altos do seu mercado!
António da Cunha
Duarte Justo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=3494
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