QUARTA FEIRA DE
CINZAS INICIA A QUARESMA
Também
há uma Vida depois do Carnaval
Por António Justo
Vivemos numa sociedade esgotada –
uma sociedade avozinha cuja fertilidade se extingue nela (1). Construímos uma
sociedade livre mas pobre de sentido. Daí assistirmos a uma insatisfação
generalizada de uma sociedade livre de sentido que proclama a libertinagem
egoísta como estilo de vida.
Quarta-feira de cinzas inicia os
40 dias da renúncia ao supérfluo para se refletir sobre o sentido da vida e
preparar o espírito para a Páscoa.
A Quaresma segue o exemplo de
Jesus que jejuou 40 dias no deserto para resistir às tentações da vida. O
número 40 tem um caracter simbólico e neste caso prepara para melhor se fazer
face à vida. Também Elias fez uma caminhada até ao monte Horebe e Moisés andou
40 dias em torno do monte Sinai. Monte é símbolo de algo mais elevado, de algo
a atingir e a caminhada é o símbolo da vida. Através da ascética purifica-se o
espírito do pó da caminhada preparando para a Páscoa, símbolo e festa da morte
e ressurreição.
Em conventos havia o hábito de
monges e monjas, na prática do seu jejum, distribuírem-no pelos pobres o fruto
(os produtos alimentícios) da sua renúncia e do que tiravam ao corpo. Assim se
exercita o estar presente também para os outros. Muitos cristãos renunciam ao
vinho, às guloseimas, à carne ou a outra comodidade durante a quaresma. Jejuar
é mais que fazer uma dieta; Jejuar promove a saúde do corpo e da alma; é
renunciar para que outros tenham mais da vida ou para a vida; na medida em que
os outros têm mais também eu terei porque deles a vida transbordará também para
mim.
Quaresma é tempo de metanoia
(cada um terá a sua), é a fase da mudança para melhor se poder ver através da
poeira e da intoxicação do nosso tempo e melhor entender o ruído à nossa volta.
Não se trata apenas de uma cura de emagrecimento para aperfeiçoar o corpo mas
também para se perscrutar também o sentido dele e o sentido da vida. Todos
temos a experiência de que um estômago demasiado cheio impede a ideia e o
sentimento.
Vivemos num tempo que nos leva à
auto-exploração, num tempo de forças que nos querem ver na falta de noção, na
inexperiência coletiva!
Muitos cristãos vão à igreja na
Quarta-feira de cinzas e recebem na testa um sinal da cruz com cinza. A cinza
recorda a transitoriedade lembrando-nos que também há uma vida depois do
carnaval.
A quaresma com o seu apelo ao
jejum tem uma componente individual, social, política e religiosa. A nossa
sociedade precisa de momentos que nos recordem da necessidade de moderação.
António da Cunha Duarte Justo
(1) Francisco
I, no seu discurso ao parlamento europeu em 2014, denunciou a falta de
vitalidade do continente europeu comparando europa com uma avó “que já não é
fértil”.
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