A Maçonaria portuguesa perdeu um dos seus grandes
activistas: Almeida Santos
António Justo
Almeida Santos Morreu; seu corpo esteve em camara ardente na Basílica da
Estrela sendo enterrado no Alto de São João no dia 20.01.2016. Certamente
deixou-nos uma grande personalidade maçónica da esquerda portuguesa mas
demasiado parcial para poder ser uma personalidade portuguesa. Como empenhado
na defesa de um grupo de interesses fez muitas coisas boas e más, servido assim
em demasia uma só parte dos interesses republicanos portugueses e como actuante
no processo da descolonização seguiu mais os interesses soviéticos que os de
Portugal, atraiçoando também os interesses de Timor como atraiçoou os
portugueses (retornados).
O cardeal-patriarca de Lisboa D. José Policarpo, para se precaver contra abusos da maçonaria como se deram no funeral do mação Luís Nunes de Almeida na Basílica da Estrela, avisa através de uma carta: "Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação". A nível teórico a argumentação do Cardeal é lógica e a experiência com a maçonaria portuguesa é em grande parte muito negativa se tivermos em conta a sua actuação através do Marquês de Pombal, o seu papel escuro nas invasões francesas na perseguição à Igreja e na condução da implantação da república.
De facto, a Maçonaria portuguesa contrapõem-se ao catolicismo, contrapõe-se
a um humanismo cristão empenhado no sentido de uma síntese de sentimento e
razão, de uma irmandade entre elite e povo. A maçonaria contribuiu para um humanismo
gnóstico e iluminista da humanidade, mas caracteriza-se especialmente pelo seu
caracter elitista-secreto com a pretensão de serem os arquitectos do
livre-pensamento por eles controlado nas instituições estatais, como se fossem
os arquitectos guardiões da grande liberdade fraterna com uma desigual
repartição da igualdade para assim bem viverem num mundo abstracto ao terreno.
A estratégia da maçonaria de se dedicar apenas ao fomento e forja de pessoas
que aspiram a assumir funções de poder politico-económico-jurídico, oferece
futuro especialmente a pessoas que numa sociedade se quer ver dirigida por
alguns alumiados que pressupõe a grande massa dos obscurecidos, quando seria
desejável trabalhar-se no sentido de uma massa iluminada.
A Maçonaria, ideologicamente, está mais próxima do Deus árabe, um
deus ideia, fundamentador do poder pragmático ao estilo de Maquiavel do que do
Deus cristão a viver no meio do povo. Não trabalha no sentido de um Portugal
conjugado pela complementaridade de interesses mas apenas no sentido do poder
da própria irmandade e correspondente ideologia. Sabem que quem puxa o povo são
alguns por isso preferem ir em cima do cavalo do que a seu lado!
Com o pretexto de se erguer contra os interesses do rei e da instituição
igreja infiltrou-se nas infraestruturas do estado português, tendo mais
influência hoje nelas do que tinha antes a religião na coroa (Uma espécie de
alta burguesia em torno de uma ideia a substituir o poder da velha nobreza).
Encontram-se em posição vantajosa em relação a outros concorrentes do poder
por operarem a partir de trincheiras secretas e invisíveis e, pelo facto de
praticarem a solidariedade no bem e no mal entre os irmãos e estarem
organizados em redes de lojas locais, nacionais e internacionais de tráfico de
influências e cumplicidade consistente porque a alto nível.
Não quero com isto condená-los mas até compreendê-los e felicitá-los pelo
facto de saberem bem o que querem e estarem conscientes de que este mundo é
governado por estruturas de poder em que o oportunismo, a hipocrisia e o
cinismo são condições sine qua non! Como instituição secreta de poderosos para
poderosos também têm sentido e até fascinam pessoas que querem alcançar o poder
e sabem que a alma do negócio é o segredo.
Não dá para entender o facto de defuntos maçónicos quererem passar os
últimos momentos sobre a terra num templo católico; assim até se chega a ter a
impressão, que para serem mais completos e universais, precisam da
extrema-unção católica.
Como vivemos num mundo em que o que importa é o poder, ficando o resto para
inocentes, pessoas de boa vontade e distraídos, será de perguntar como é que
Dom Policarpo pode impedir que católicos que querem alcançar poder a todo o
custo devam renunciar a tal meio! Num sector da vida pública em que a
hipocrisia e o oportunismo têm as maiores oportunidades de determinar o
decorrer da História, e a maçonaria é perita nessas questões, talvez pudesse
torna-se uma boa estratégia em benefício da classe dominada deixar essa
questão, à discrição dos pretendentes a poder; talvez deste modo a maçonaria
portuguesa se pudesse tornar mais mitigada!...
Da experiência pessoal que tive com maçons penso que o que os movia não era
este ou aquele humanismo; no seu agir mostravam que o seu humanismo era um
pretexto para afirmação do próprio ego e meio de ascensão ao poder! Penso que o
que a Maçonaria poderá aprender da História é que quem serve apenas um
determinado grupo ou uma ideia não serve toda a humanidade. O imaginário
maçónico serve-se de uma ordem-obediência aliada a uma certa mística de ritos
bem observados e assumidos pelos arquitectos das antigas catedrais e que
souberam empacotar na sua deusa razão de tal ordem que fascina todo o
interessado no poder ou quem estiver interessado em viver nas suas sombras. A
maçonaria portuguesa é grande responsável pela ideologização empobrecedora da
sociedade portuguesa; naturalmente como elite interveniente activa na política
não deixa de apresentar obra. O que essa obra brilha na ponta deve-se em grande
parte ao impedimento do desenvolvimento das massas atendendo à estratégia
seguida no discurso público de caracter ideológico e não virado para uma
argumentação da coisa em si.
Têm uma maneira de pensar separatista. Separam o sentimento da razão como
se estes não soubessem um do outro; parecem reservar-se ad extra a razão que
lhes facilita uma maneira de ser sobranceira como se fossem a razão de cima e o
povo o sentimento de baixo; o pensar separatista segue a tradição de um
jacobinismo francês bem empacotado que na qualidade de elite sabem bem manusear
sob o manto de uma esquerda que prega solidariedade mas que vive. Conseguiram
entranhar-se no Estado moderno seguindo despotismo iluminado à maneira do
estilo da democracia grega que era privativo de uma oligarquia privilegiada com
o resto do povo a servi-los. Estão mais habituados a servir-se do povo e não a
misturar-se com ele, por isso odeiam tanto o catolicismo institucional que com
a sua miscelânea popular lhe fazia sombra na concorrência do poder.
Eu penso tal como a maçonaria, mas precisamente ao contrário. A sua
estratégia solidária do poder de cima deveria passar pela solidariedade com o
poder de baixo. Uma nova consciência de um tempo novo deveria unir o sentimento
à razão numa consciência de que toda a vida é uma soma de interesses e que
todos os interesses devem ser complementares no sentido da criação da
convivência solidária num arraial em que todos celebram a festa.
Desculpem-me os maçónicos bem-intencionados porque gente boa e boa gente há
em todo o lado e os maçónicos, como tudo o que é grande, fizeram muito bem e
muito mal. Desculpem-me aqueles que se sentem incomodados por não apresentar um
texto no estilo de uma política de "Paz, panquecas alegria" , para se
ir vivendo, como costumam gracejar os alemães.
António da Cunha Duarte Justo
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