IDEOLOGIA DO
GÉNERO OU GENDER – CREDO ESTRATÉGIA E PROGRAMA
Por António Justo
No princípio dominava a natureza; as suas
leis eram comuns ao ser humano nos seus primeiros passos do processo de humanização
e de socialização; em seguida surgiram os grupos organizados (tribos, povos e
nações) que elaboraram uma cultura feita de costumes leis e normas em diálogo aberto
com a natureza; a cultura num acto de sublimação da natureza cria a lei/orientação
moral à imagem das leis que governam a natureza (tentativa de superar o mero
instinto para possibilitar a criação de paisagens culturais: diferentes tribos,
nações, etc.). Natureza e cultura reconhecem-se mutuamente numa orientação analógica
crescente do simples para o complexo, do elemento para o órgão e deste para o
corpo natural e social. No momento histórico de que somos também protagonistas
assistimos à inversão das leis do crescimento natural e espiritual; observa-se a
tentativa de se estabelecer uma nova matriz social que comporta um retrocesso no
sentido do órgão para o elemento (e tudo sob o pretexto da igualdade e de se
criarem supraestruturas de caracter global: quer-se um corpo sem órgãos, uma
cabeça sem membros, quer-se uma mudança paradigmática na cultura. Nesta já não
se observa a organização, definição e crescimento do simples para o complexo
mas a destruição da ordem orgânica natural e cultural no sentido da
desintegração caótica em nome de uma moral matemática desenraizada ao serviço
das leis do mercado em que o lucro é moral e o dinheiro felicidade. Nega-se a
tradição como elemento da identidade para se viver do negócio do momento
presente.
Há leis
biológicas, leis naturais e leis culturais; há duas formas de se chegar ao
saber: o saber indutivo adquirido pela experiência (leis biológicas da natureza)
e o dedutivo adquirido a partir da ideia; os dois saberes encontram-se numa relação
de feminilidade e masculinidade; um sem o outro é irreal e infecundo; a grande
mentira da ideologia do género, parte do princípio de que o que se pensa é a
realidade, dando-se ao luxo de afirmar o saber teórico (ideologia) contra o
saber experimental (biologia). Em nome de uma revolução cultural colocam a
intenção de educar o povo acima de qualquer princípio ou dado real.
UE tornou-se
no Sistema de Controlo de Valores e Normas dos Países europeus
O que se pretende para a economia já se
encontra implementado no controlo da cultura! No dia 9 de junho de 2015, longe
da população, o Parlamento Europeu aprovou a sua resolução controversa “Estratégia
da UE para a igualdade entre homens e mulheres a partir de 2015”. Esta contém orientações
a aplicar pelos parlamentos nacionais. Em nome de uma justiça necessária no
trato entre homem e mulher, procura-se desintegrar a feminilidade e a
masculinidade comuns à mulher e ao homem para as colocar em luta reivindicativa
como se partes complementares fossem opostos. Tudo isto ao serviço
não do homem nem da mulher mas do igualitarismo comunista. O Parlamento "solicita à Comissão para assegurar que
os Estados-Membros permitam o pleno reconhecimento do género preferido de uma
pessoa perante a lei". Em texto claro: o que vale não é o sexo que se tem biológico (homem ou mulher) mas o que se pensa dele. Partem do pressuposto
que o gênero não é definido com base na genética e nos cromossomos, mas que é apenas
uma construção social devida à educação e, como tal a ser repelida, no sentido
de um indivíduo que deve ser desenroupado do que constitui a sua “persona” (personalidade)
e daquilo que os pais lhe transmitiram.
Há papéis da mulher e do homem que são
aquisições ou expressões culturais mas o papel de pai e mãe é de ordem natural
da criação tal como o ser homem ou mulher. O ser humano não pode ser visto
apenas como um produto cultural; da sua essência faz também parte a natureza, o
seu caracter sexuado.
Negam os
elementos constitutivos de identidade cultural (do género) adquiridos, para
poderem legitimar a manipulação em via na confecção de um novo ser humano sob
novos parâmetros, e reduzir o elemento cultural à praxis dos animais
(animalogia) no sentido de uma revolução da sociologia. Para
isso negam o conceito da pessoa humana (identidade relacional realizada no e dentro do
relacionamento) para a reduzir a mero indivíduo, a um abstracto totalmente independente
de qualquer vínculo ou relação (um ser tabula rasa), como quer e legisla a esquerda
(maioria) no Parlamento Europeu. Tudo
isto se dá no sentido de gerar um ser sem identidade e como tal facilmente manobrável
por quem detém o poder (que se quer também oculto e anónimo). Aqui junta-se
a ideologia capitalista que quer um ser apenas indivíduo – cliente do seu mercado
– ao marxismo cultural socialista que pretende uma sociedade de pessoas
reduzidas a indivíduos iguais – proletários servidores da nomenclatura.
A Ideologia do género nega diferenças características
do homem e da mulher negando assim a sociedade, a natureza e a ordem divina da
Criação. Antes da queda começa a decadência!
A porta-voz (Beatrix von Storch) do Grupo
Europeu ECR considera que “a UE é um enorme sistema de controlo de valores e
normas”. Para isso seve-se de orientações para toda a UE em matéria de educação
sexual nas escolas, de direitos de adoção para transsexuais, abolição de
eleições livres por quotas nos parlamentos, de medidas em favor do aborto e em
desfavor da maternidade; esta é, por vezes, tida como impedimento de
emancipação e de igualdade para a mulher. O olimpo da Europa e do mundo quer
transformar os países em casas onde eles mandam. O referido documento
de estratégia serve-se da igualdade para impor ideologia. Nessa igualdade
tornam-se anacrónicas toiletes separadas, clubes de futebol só de homens ou de
mulheres.
A advogada eliminação das injustiças laborais
ou sociais que ainda existem entre homem e mulher dá-se de maneira selectiva e
masculina sem comtemplar a masculinidade e feminilidade ou papéis
característicos de um género.
Servem-se da ideia da igualdade entre homens
e mulheres, da libertação do sexo, da luta contra os indicadores de gênero
(masculino / feminino) para concretizar uma ideologia de base marxista e ateia e
tudo isto legitimado pela premissa dos direitos da pessoa.
A estratégia de afirmação ideológica é
implementada através de agendas políticas, a nível legislativo, universitário e
político com objectivo de indoutrinação ao serviço da revolução cultural em via.
Dissociar a pessoa humana da natureza e da herança cultural fora de qualquer complementaridade
torna-se dogma do momento.
Quer-se um relativismo subjectivista de tal
ordem que sujeite a lei natural à lei cultural. A ideologia do Género, ao prescindir dos dados biológicos para fomentação
da nova ordem teria como consequência lógica matematizar até os nomes das
pessoas e terras. De facto, também neles se expressam vestígios culturais mais
ou menos sexuados: assim uma consequência da ideologia do género seria substituir
o meu nome demasiado testemunha de socialização e aculturação (António da Cunha
Duarte Justo – com vestígios de domínio e de sujeição) num nome livre e
emancipado que se expressaria no nome “Um de Dois Três e Quatro”.
Meteram mãos à construção de uma nova
sociedade e de uma nova identidade individual sem especificidades e sem
referência como se o género não tivesse nada a ver com a diferenciação sexual
nem com a biologia reduzível a uma opção individual que torna arbitrária a
definição de homem ou mulher tal como a união homossexual ou heterossexual. Chega-lhes
a ideia cópia de que a necessidade cria o órgão. O que não recai sob o metro da
igualdade é considerado discriminação. Para a ideologia do género tudo se reduz
a uma questão de escolha: sobrevaloriza a opinião e a intenção à margem do
factor natural. A ideologia do género dá grande relevo à opção homossexual por
testemunhar a afirmação dos iguais contra a afirmação do diferente que a
natureza pretende mas deve ser contrariada pela estratégia radical do género. As
forças da masculinidade e da feminilidade inerentes a toda a natureza, à
sociedade e à pessoa humana mereceriam uma outra impostação.
Mudança
da Matriz linguística sobretudo ao Serviço da Mentira
A ideologia do
género, a ponta avançada do marxismo cultural, pretende uma mudança
de matriz antropológica e criar uma nova consciência social através da manipulação da matriz linguística à
imagem da manipulação genética. Através da manipulação da linguagem consegue-se
manipular a consciência individual e social. Tudo isto acontece sob o pretexto de libertação da mulher (mais uma vez
instrumentalizada) como se fosse possível desintegrar da biologia e da
sociedade a masculinidade e feminilidade na qualidade de elementos distintivos e
de energias complementares.
Hoje o pensar correcto assume de forma
acrítica a ideologia gender na linguagem corrente (exemplo: a senhora
“presidenta” em vez de a senhora presidente, como se a palavra presidente não
fosse comum aos dois - S.m. e f. - (tal como a doente, o doente, etc). Na
sequência da ideologia seria consequente introduzir o neologismo “presidento” também
para o masculino)…
Parentalidade
contra Paternidade e Maternidade
Em vez da complementaridade/subsidiariedade
de sociedade e natureza de mulher e homem querem deles seres abstractos mais
desencarnados e como tal mais facilmente reduzíveis à ditadura de ideologias. Manifestam-se contra as funções reais de
paternidade e maternidade querendo-as ver reduzidas ao conceito tribal de
parentalidade, numa tentativa de voltar ao caos original em que a
individualidade se perdia numa massa anónima desorganizada.
A insistência da luta ideológica contra o
sistema ético actual, contra a família, contra uma sexualidade integrada (com
lugar para a regra e para a excepção), contra o fundamento bíblico do humanismo
cristão, mais que uma tentativa de valorização da pessoa tenciona disponibilizar
o ser humano para uma nova matriz civilizacional que terá como cúpula metafísica
a economização da sociedade (mercado) e a mercantilização do ser humano (proletário
ou cliente).
Projectam uma antropologia alternativa
servidora de ideologias internacionalistas, globalistas e economicistas. Como consideram
a mulher e o homem como produtos ou meros papéis culturais à margem da biologia,
pretendem afirmar um género para lá do sexo e da natureza. Consideram como
adversas às suas intenções ideológicas as matrizes culturais passadas que se
conexavam à maneira de biótopos culturais numa relação entre cultura e natura. Querem
o divórcio destas.
Uma ligação da ética e dos comportamentos
sociais a uma metafísica do deus dinheiro e lucro com a consequente redução da
pessoa (com toda a carga cultural de contextos sociais e geográficos que traz)
a um mero indivíduo desprovido de enraizamento simplifica a administração e
“comercialização” de produtos e indivíduos. Esta estratégia pensa melhor servir
a organização de um governo mundial. Querem espíritos sem corpo e corpos sem
espírito numa estratégia do divide et impera. Querem ignorar a masculinidade e
a feminilidade da pessoa, os dois princípios que possibilitam a abertura e o
desenvolvimento. Afirmam a igualdade contra “uma abertura recíproca à
alternidade e à diferença” de caracter bíblico e natural. Arbitrariamente, toda
a experiência milenária é lançada a bordo para a sociedade ser submetida a uma
ideologia do género que quer subordinar a natureza a uma nova cultura aleatória.
O facto de a mulher ter sido enquadrada num
patriarcalismo cultural que a tornou vítima de uma masculinidade social que a
relegava à categoria de criança (exemplo, a criança como a mulher eram tratadas
pelo nome e os homens pelo nome de família) deveria ocasionar uma
consciencialização de reacção inclusiva e não reactiva; doutro modo reagem
aplicando o parâmetro masculino de que se dizem vítimas.
A afirmação
ideológica aninha-se a nível universitário legislativo e político na sequência
das estratégias das instituições da EU e dos EUA e praticamente fomentadas pelas
famílias políticas de esquerda.
Directrizes europeias obrigam os países
membros à implementação de leis escolares reguladoras do ensino sobre a
actividade sexual, a regulamentação da família, o aborto, etc.
Aquilo que a natureza, a cultura humana e a
tradição cristã conseguiram tornar compatível e complementar através dos
séculos é agora separado à força e em nome de uma ideologia abstracta que pretende
formatizar o homem e a sociedade por princípios matemáticos, como se a pessoa
fosse só intelecto e prescindisse do corpo e do espírito.
Se partíssemos da realidade natural e cultural
do ser sexuado homem e mulher, em que ele e ela reúnem na mesma pessoa e de
forma diferente os princípios masculinidade e feminilidade, a discussão e
estratégia de se criar mais justiça individual e social entre homens e mulheres
seguiria um outro caminho menos masculino e agressivo e tornar-se-ia mais pacífico
(feminino) porque inclusivo. (A não ser que se parta do princípio que a luta é
a única maneira de se desenvolver!). A consequência desta luta cultural
fomentará os vícios dos dois polos.
Não reconhece os princípios complementares da
evolução (a selecção e a colaboração) como forças complementares. Não reconhece
que toda a natureza e toda a sociedade são construídas a partir da diferença
numa tensão de afastamento e aproximação à imagem das ondas do mar; o movimento
cria a tensão criadora que mantem “as águas” da vida vivas e possibilita o
desenvolvimento de cultura/sociedade e natureza. Toda a natureza aspira pela
comunhão do sol do universo e do sol do amor que se incarna em cada pessoa. A
sociedade com a correspondente cultura é como a floresta na resposta à
geografia e ao clima possibilitadores de biótopos diferenciados. Nem a
geografia pode abdicar do clima tal como a natureza humana não pode abdicar da
cultura que lhe confere identidade própria, o mesmo se diga em relação ao
indivíduo e à cultura envolvente.
Concluindo
A
masculinidade e a feminilidade não podem ser reduzidas a um masculino e a um
feminino limitado a circunstâncias de papéis e funções de um só polo nem
consequentemente a uma sociedade de matriz masculina. O domínio do homem sobre
a mulher são deficiências a ultrapassar na base da sua imagem divina.
Naturalmente que não há sol sem sombra nem sombra sem sol; somos limitados,
resta-nos compreender e embarcar com corpo e alma para admirar e louvar o sol e
a sombra no sentido de criar mais justiça e relação equilibrada.
Masculinidade e feminilidade realizam-se e desenvolvem-se
nas relações interpessoais numa visão a-perspectiva que reconhecendo a
realidade vital da tensão interpolar aspira a sempre novas sínteses (ao
encontro dos polos que mantem em si a força do regresso a si para de si retomar
nova força para se reencontrar de novo). A ideologia do género encontra-se em
contradição com a natureza e com todas as culturas e religiões. Pode porém, na
força da reacção contribuir para o desenvolvimento no momento em que foge do
outro polo. Mas na luta em via, instigada pelo marxismo cultural, o que está em
jogo não é tanto a beneficiação da mulher mas sim a instrumentalização dela
para sub-repticiamente se conseguir um ser humano e uma sociedade segundo o
paradigma marxista comunista.
As premissas
da ideologia do género partem da neutralidade do sexo e não da
complementaridade: distingue entre o sexo biológico do indivíduo (homem ou
mulher) e o género ou sexo psicológico da pessoa (culturalmente adquirido), uma
espécie de carapaça psicológica obtida (uma segunda criação) determinada pelo
ambiente. Pretende negar a natureza humana tal como Deus a criou na sua
complementaridade de homem e mulher (Gn 1,27), menosprezando a uma realidade onde
a feminilidade e a masculinidade são partes constituintes da pessoa humana/natureza.
Quer fazer de pessoas distintas mas complementares (homem e mulher) apenas indivíduos
iguais de modo a perverter a natureza. Partem da realidade homem e mulher como constructos
sociais.
Em geral, nascemos com um sexo biológico
definido (homem ou mulher), não é sexualmente neutro; a sociedade
acrescenta-lhe características próprias segundo o meio em que se insere. Isto
porém não pode anular o sexo biológico em favor do sexo psicológico ou género. Apesar das influências
sociais não haverá alternativa ao desenvolvimento da mulher e do homem como
seres naturais.
António da Cunha
Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In “Pegadas do Tempo” www.antonio-justo.eu
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