Complementaridade contra Imperialismos de Esquerda e Direita
A civilização ocidental assemelha-se hoje a um Filho Pródigo obstinado, que, seduzido por quimeras de liberdade, trocou a segurança do lar paterno pela errância dos caminhos perdendo-se a olhar para as estrelas (1) ...
A questão mais gritante que se põe hoje a toda a humanidade reduz-se a como superar o conflito esquerda-direita (tradicionalistas-progressistas), ocidente-oriente e OCDE-BRICS, de maneira a servir-se a humanidade e não agrupamentos de interesses. Povo, governantes e intelectuais têm de desenvolver um projecto comum de paz.
A crise ocidental, marcada pelo vazio espiritual do turbo-capitalismo e pelo radicalismo do socialismo ideológico, exige uma reintegração da tradição humanista cristã, mas sem nostalgia tradicionalista nem progressismos desintegrados.
As elites políticas, falhadas em conceitos e vontade, insistem em modelos anacrónicos, alimentados por uma cultura belicista que manifesta cada vez mais os desvios geopolíticos da Europa e do Ocidente (2). A democracia, sabotada por dentro, clama por uma reorientação urgente: um modelo sustentável, humanista e pacífico, que harmonize os valores cristãos ocidentais com eficiência económica adaptativa e uma diplomacia de poder suave, inspirada, mas não copiada, da estratégia chinesa, e enraizada na nossa tradição cultural (modelo católico aberto). A solução, ético-humanista, passaria por resgatar a Doutrina Social da Igreja...
A alternativa aos imperialismos de direita (neoliberalismo globalizante) e de esquerda (hegemonia progressista transnacional) pressupõe um Humanismo Integral Geopolítico não imperialista. Nesta fase da História tratar-se-ia de elaborar um projecto que implicasse:
- Recuperar a Ética Política: Reintegrar no debate público princípios como dignidade humana, subsidiariedade e bem comum, articulando-os com as exigências da pós-modernidade, sem dogmatismos. Um exemplo inspirador é o Projeto Ética Global de Hans Küng (3), que, adaptado à geopolítica, poderia fomentar um novo diálogo entre as nações.
- Criar-se uma Economia Social de Mercado com alma; contra o turbo-capitalismo e o coletivismo autoritário, urge uma economia enraizada em valores transcendentais, próxima da Doutrina Social da Igreja, integradora de contribuições laicas.
- Poder complementar de Co-Criação pacífica: O Ocidente deve aprender com a China que exerce uma projeção cultural não impositiva (Confúcio, infraestruturas globais), mas substituir o pragmatismo chinês por um soft power de complementaridade e humanismo: universidades (Modelo Erasmus), ONGs e media que promovam diálogo intercultural e não monocultura ideológica; a nível de Media seria de, para isso, substituir CNN por plataformas como Arte (canal franco-alemão de cultura profunda que mantem uma certa neutralidade)...
Um multilateralismo civilizacional nas pegadas da tática cultural de Carlos Magno, pressuporia uma reactivação das redes académicas com colaborações entre culturas e blocos geopolíticos e a nível regional colaborações de lusofonia (4), luso-hispânicas, anglo-americanas e europeias, destacando a herança greco-romana, judaico-cristã e moderna, sem eurocentrismos ou hegemonismos...
O Ocidente não precisa de se tornar China, mas a China pode lembrá-lo de suas raízes humanistas cristãs. Purificando os excessos materialistas (capitalistas e socialistas), ambas as civilizações podem construir um Poder suave de cooperação...
Resumindo: humanismo integral geopolítico não significa um retorno ao passado (5), mas uma reconstrução seletiva contra o imperialismo liberal e o imperialismo progressista.
As diferentes economias e os valores de uma cultura não devem ser usados como escudos contra a outra, como, lamentavelmente, a NATO tem feito. Vai sendo tempo de regressar a casa!
António da Cunha Duarte Justo
Artigo completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10137
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