Morreu Mário Soares - um homem
com muitos defeitos e virtudes; não tinha medo dos defeitos e sabia o que
queria conseguindo erguer-se da mediania fazendo muito de bem e muito de mal.
Reproduzo aqui uma frase de Mário Soares que diz muito, hoje citada no jornal alemão HNA: “Eu sou um pobre homem, que teve a sorte de ter assumido cargos e, assim, ter razão " („Ich bin ein armer Mann, der das Glück hatte, Positionen zu beziehen und damit recht zu haben"!
Junto o ultimato de Fernando Pessoa por ser histórico, sempre actual e dar que pensar
"ULTIMATUM
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas,
charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
e a todos que sejam como eles,
todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
inútil luxo, megalomania triunfante
e tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular,
que confundis tudo!
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vós que representais o mundo,
homens altos,
passai por baixo do meu desprezo.
Passai aristocratas de tanga de ouro,
passai frouxos.
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
descascar batatas simbólicas
fechem-me isso tudo a chave
e deitem a chave fora.
Sufoco de ter somente isso à minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova,
a sensibilidade nova.
O mundo tem sede de que se crie.
O que aí está a apodrecer a vida,
quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar
porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto,
braços erguidos,
fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.” Álvaro de Campos – 1917
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas,
charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
e a todos que sejam como eles,
todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
inútil luxo, megalomania triunfante
e tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular,
que confundis tudo!
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vós que representais o mundo,
homens altos,
passai por baixo do meu desprezo.
Passai aristocratas de tanga de ouro,
passai frouxos.
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
descascar batatas simbólicas
fechem-me isso tudo a chave
e deitem a chave fora.
Sufoco de ter somente isso à minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova,
a sensibilidade nova.
O mundo tem sede de que se crie.
O que aí está a apodrecer a vida,
quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar
porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto,
braços erguidos,
fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.” Álvaro de Campos – 1917
O ultimato de Fernando Pessoa
apresenta a parte sombria de quem brilha na praça pública sorvendo o brilho dos
outros. Os crentes laicos/seculares arruínam a democracia e exageram também na
veneração e culto dos seus “santos” que querem impor, a todo o custo, a toda a
sociedade. Hoje a opinião pública portuguesa não tem possibilidade de sair de
uma mentalidade que festeja a mediocridade dos seus “heróis” porque nas mãos de
feitores não interessados em dar a conhecer os seus actos. A Soares se deve a
existência do partido comunista quando na Europa estes já desapareceram. Na França
ele negociou com o partido comunista a entrega incondicional das colónias
portuguesas aos guerrilheiros. A formatização maçónica-esquerda dos Media
nacionais e da opinião pública é de tal ordem que torna incompatível qualquer
discussão objectiva séria. Na formação diária não temos um jornal de cultura
popular geral que se possa afirmar contra os interesses corporativistas, a não
ser a bola para a formação clubista. Causa tristeza, como a morte de Mário
Soares é utilizada pelos políticos e pelos Mídea de maneira tão absorvente,
unilateral e devota: uma verdadeira lavagem ao cérebro que a continuar assim
não fomenta espíritos com capacidade de discernir e a continuar assim, o país
nunca sairá da cepa-torta.
Independentemente dos aspectos
positivos e negativos do regime de direita de Salazar e do regime de esquerda,
iniciado com o 25 de Abril, o grande problema da sociedade portuguesa está em
delegar a consciência nacional na consciência partidária e num culto de
pessoas. De facto demos a independência aos outros e atraiçoamos a nossa.
Marcelo Caetano, ao falar sobre o
25 de Abri, citado em Portugal da Loja profetizou: “Em poucas
décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações,
pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação
que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o
princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza
crónica e a emigração em massa.”
“Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
É natural e legítimo que em política se tentem fazer valer os diferentes interesses partidários e as diferentes ideologias. O que não é natural é que um país tão multifacetado não saia da mediocridade continuando a dançar à volta dos seus bezerros políticos que actuam sem vergonha à custa da honra do povo. Não quero com isto estragar o humor ao socialistas e ao seu direito a festejar; “Em terra de cego quem tem um olho é rei”; -estão de parabéns num país onde o poder dos cargos é razão. Que Deus tenha Mário Soares em eterno descanso e ilumine o povo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4028
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