Esta história foi contada a alguns jornais e inspirou um livro de Jordi Sierra i Fabra (Kafka e a Boneca Viajante), onde o escritor imagina como teriam sido as conversas e o conteúdo das cartas de Kafka. No fim, Kafka presenteou a menina com uma outra boneca, obviamente diversa da original. Uma carta anexa explicava: «As minhas viagens transformaram-me...» Anos depois, a petiza, agora crescida, encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da boneca substituta. Em resumo, o bilhete dizia: «Tudo o que você ama irá eventualmente perder, mas, no fim, o amor regressará de uma forma diferente». “
May Benatar, "Kafka and the Doll: The Pervasiveness of Loss", publicado no Huffington Post.
Esta história brilhante
precisa de uma abordagem que tento esclarecer aqui.
A amiga de Kafka, Dora Diamant foi testemunha do encontro de Kafka com a menina. Como ela também era escritora transmitiu para a posteridade a verdadeira história. Kafka contou à amiga sua Dora o que ele escreveu nas cartas inventadas por ele para consolar a menina. Isto é a única coisa histórica que sabemos sobre ” Kafka e a boneca”.
Kafka não deu boneca nenhuma à menina. O fim
foi diferente: na última carta dele, na qualidade de boneca, ele escreveu à
menina que a boneca se tinha casado e não podia voltar mas que a amava.
Depois da segunda
guerra mundial nos jornais alemães houve um apelo dirigido à menina que tinha
recebido as cartas da boneca (Kafka) para que se apresentasse ou as publicasse. Infelizmente ninguém respondeu
ao apelo e estas cartas perderam-se.
Como não sabemos
o conteúdo exacto das cartas, alguns escritores inventaram o que poderia ter sido o conteúdo dessas cartas. Verdade,
porém, é apenas o que se encontra na narração de Dora Diamant: http://www.franzkafka.de/franzkafka/fundstueck_archiv/fundstueck/457439
Através da
aventura da boneca que Kafka escreveu à menina, (nas cartas que lhe entregava
em nome da boneca), Kafka queria consolar a menina e curá-la da sua tristeza por
causa da separação sofrida. De facto uma perda, uma separação, uma morte, um
divórcio ou um distanciamento provoca sempre dor. O importante para o caso é o
estabelecimento de relação para poder haver abrandamento da dor ou cura. Então
o amor volta embora de forma diferente.
António da Cunha Duarte Justo
http://antonio-justo.eu/?p=3717
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