O
Homem sofre devido à sua própria imagem e às ideias que o prendem
Por António Justo
Jesus, no seu caminhar, revela-se
não só como médio (união com Deus) mas também como mensagem (caminho, verdade e
vida). O segredo da via crucis está em superar a dor sem a transmitir a
outros, uma vida sem a necessidade de bodes expiatórios, uma existência como
processo de transcendência e inclusão. Deste modo Jesus quebrou com a
prática comum da cadeia da violência. Com o exemplo do calvário inicia-se assim
uma nova idade, a idade da paz. Esta perdeu-se pelo caminho encontrando-se
soterrada sob a folhagem da história. As estruturas do poder realizaram porém
uma regressão à maneira antiga do exercício do poder como violência e a
repressão.
Nele encontra-se um modelo de
vida para lá dos habituais dualismos, racionalismos ou morais; a dimensão da
sua actividade não se perde nos meandros de explicações porque a dimensão da
sua actividade é a fé, a relação interpessoal, a relação mística, a única que
implica transformação profunda.
Jesus mostrou a absurdidade de a
imagem de um Deus vingativo, violento e mesquinho, que a sociedade civil e
religiosa usa muitas vezes para melhor legitimar o seu poder e a sua violência.
Deus não precisa de vítimas nem de sacrifício. Jesus ao assumir a qualidade de
vítima desmascara a violência e torna supérfluo o recurso à vítima que amarra a
alma humana quando Jesus lhe deu asas para voar. Nele se revela a possibilidade
de nos mudarmos. Em Jesus Cristo, Deus revela-se o misericordioso que
deslegitima qualquer violência (Mt 9,13; 1Cor13,3.13); o JC, ao assumir o
ser de vítima, acabou com todos os sacrifícios e questionou a realidade do
dia-a-dia baseada numa mentalidade que se movimenta entre o crime e o castigo,
o criminoso e a vítima. Jesus acaba com a violência como meio de resolver os
problemas; revela a fragilidade e maldade de uma vida e de um poder baseados
numa mentalidade dual-polar legalista (que menoriza a realidade a: de um lado o
bem e do outro o mal!).
Numa visão,
verdadeiramente cristã, a realidade não é bipolar; ela implica uma terceira
dimensão integrante inclusiva e integrante da vida na fórmula trinitária. À
dimensão polar acrescenta-se uma outra dimensão: a dimensão da liberdade, da
graça e do amor: o contrário da polaridade da obediência, do espírito legalista
e justiceiro.
No JC todas as contas estão
saldadas e em vez da teoria ou da moral inicia-se um novo reino que é encontro,
relação directa com Deus (o tal Reino de Deus). O caminho do calvário é tão
largo que leva nele vencedores e vencidos, maiores ou menores pecadores,
acabando com a concorrência e com o prémio e o castigo; a cruz só conhece
vencedores porque a sua força impulsionadora é a misericórdia e o amor. A
via-sacra (caminho da cruz) acaba com o ciclo circulatório da violência (poder)
e da repressão (Rom 12,21), supera também uma visão intelectualista redutora da
vida. Já Platão dizia: "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem
medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da
luz."
O sofrimento
assumido torna-se no método alternativo, o único capaz de fomentar saúde e
salvação, o único capaz de libertar do sofrimento provindo das próprias
imagens. O caminho da cruz é um outro modo de perceber as
coisas, uma solidariedade sem limites nem extremos e, como tal, não responde a
um mal com outro mal; de facto também o mau é vítima do mal. A via crucis é
a alternativa à história humana em que a violência se alterna em nome de ideais
e a pretexto da revolução. O único verdadeiro revolucionário da História é
Jesus mas a sua revolução só se encontra activa em diferentes biótopos sociais
que integram a doutrina com a mística (conventos, crentes e grupos que procuram
concretizar na sua vida a realidade do JC).
VIA
SACRA
Na seguinte texto vou reflectir
um pouco no sentido da espiritualidade da via crucis. Inicialmente meditava-se
sobre as 8 estações do calvário referidas nos evangelhos; posteriormente mais
ampliadas.
A semana santa, tal como a cruz
do calvário são vias de espiritualidade. Na observação da cruz não se trata de
fomentar um sentimento masoquista mas de se descobrir o Cristo que é salvação e
afirmação da vida alegre, independentemente do caminho-cruz. Jesus é o
companheiro de vida que ajuda a integrar os opostos e as incongruências no de
correr da vida.
1.
Jesus é condenado à morte
Ao ser condenado à morte, Jesus
não abre a boca; ele sabe que perante quem se arma em juiz não há argumento
profundo porque o juiz segue uma visão dualística que não permite um diálogo ao
nível de sujeito para sujeito (de caracter inclusivo).
Em todo o
interrogatório das autoridades romanas e do sinédrio Jesus apenas responde a
Pilatos dizendo que é o „testemunho da verdade”). Pilatos pergunta “o que é a
verdade?”. Jesus não responde certamente porque sabia que Pilatos, não
entenderia uma resposta que desse porque só a equacionaria no sentido do
discurso de direito (racional, na tradicional mentalidade exclusiva do
ou… ou); este discurso não conhece pessoas nem relação, apenas conhecem
objectos e interesses, prémio ou castigo.
Jesus dos interesses que se
juntam em torno dos juízes, do direito da política e da religião, muitas vezes
à custa da relação humana e de uma verdade mais profunda. A verdade é
processo e, a nível real-místico, só se encontra na relação pessoal, na
inter-relação do eu e do tu com o nós.
O caminho do calvário é a
resposta do silêncio a uma sociedade empedernida, incapaz de compreender o que
é a Verdade dado esta ser relação e nunca uma abstracção intelectual a serviço
deste ou daquele poder. Por tudo isto Jesus emudeceu! Só tinha a hipótese de
calar, mesmo perante a boa vontade de Pilatos que perguntava num cenário de
mentalidade dualista do poder, a mentalidade ordinária do dia-a-dia; uma
resposta a nível de justiça só poderia contribuir para o barulho e confusão de
que a lei vive.
2. Jesus toma a cruz aos ombros
Depois do encontro com as
autoridades Jesus pegou na cruz aos ombros, não uma cruz culpabilizante nem
justificadora; era a cruz da vida e dos males acumulados pela história da
vida…. Foi então desprezado pela multidão do povo, porque também este só
repete o que os chefes pensam, dizem e mandam… O povo fraco, geralmente
coloca-se ao lado dos fortes, numa reacção compensatória da própria impotência.
Mas Jesus não vinha para os fortes da sociedade nem para os que tinham
adquirido o mérito de bons à custa da objectivação do que é sujeito, do
inobjectivável…
Os dirigentes e o povo não
aceitam reconhecer em Jesus as próprias feridas porque inconscientemente sabem
que se tivessem a nobreza de alma de Jesus teriam de questionar a vida leviana
a que foram acostumados e em que investiram…
Os soldados vendam-lhe o rosto,
para lhe poderem bater; estão habituados a não encarar a vida de rosto no rosto;
contentam-se com viver uma vida em segunda mão, uma vida de outros que é a
negação da vida. Jesus, na tradição do servo de Deus (Is 53,33 s) suporta os
pecados dos outros.
Não o querem na cidade, querem-no
extramuros; numa reacção inconsciente querem-no nos caminhos fora dela onde se
encontram os excluídos da sociedade (esquecem porém que lá é que se encontra
Deus a incluir toda a humanidade). Ao colocá-lo fora dos muros fizeram
inconscientemente como manda o dia-a-dia da normalidade… Carregam-no com as
traves (uma símbolo da horizontalidade a outra da verticalidade; Jesus leva o
mundo às costas no que ele tem de pesado; transporta o peso da própria cruz não
o deixando para os outros; com uma consciência superior assume também os males
dos outros.
Querem-no fora porque, no seu
entendimento, um messias teria de andar pelos seus caminhos e seguir a
obrigação de perfeccionismos e de virtude passadas a ferro pela sociedade,
teria de seguir a ordem social e familiar como qualquer outro… Nem tão-pouco os
amigos aguentam a realidade de um homem adulto que encara a vida de frente sem
culpar ninguém. Eles querem Deus, à sua maneira, pelo que Jesus terá de ir
morrer como o enforcado fora do povoado e, longe dos homens e de Deus; Jesus
porém segue o caminho sempre em frente em silêncio; ele sabe que na mentalidade
do povo um condenado pela lei é considerado um amaldiçoado de Deus (Dtn 21,23).
Deus permite tudo isto porque
assim mostra que uma vida vivida só orientada pela lei é destrutiva, individual
e institucionalmente… Jesus encontrava-se repleto de Deus e mostrava, no seu
andar, quão diferentes são os caminhos da Verdade em comparação com os caminhos
da normalidade de povo, governantes, religiosos e políticos. Como se mantêm
prisioneiros de uma visão dualista da vida pensam que Deus se vingou em Jesus
como se Ele fora um amaldiçoado de Deus.
Não, aqui não se trata de
castigo; aqui está em jogo o assumir de uma nova consciência, de uma nova
maneira de ser e estar no mundo que integra o mundo todo em si. No calvário não
se trata de realizar uma pena devida à humanidade; Deus não é nenhum justiceiro
como o quereria a mentalidade dualista e instrumentalizadora de quem nos
governa. Deus não precisa de resgate… Ele caminha connosco, contigo e comigo,
de maneira inclusiva e amorosa, assumindo também o sofrimento, numa reacção
positiva à vida.
3. Jesus cai sob o peso da cruz
Ninguém podia entender o núcleo
da sua boa nova onde não há as instituições da violência e da repressão. Jesus
tinha ferido profundamente a religiosidade popular e institucional do povo ao
criticar a instituição e as práticas religiosas e ao afirmar a Boa-nova da
alegria que não culpabiliza ninguém e deste modo desmascara os cães de guarda
de Deus e do Estado. A crença e a lei constituíam elementos impeditivos de uma
relação mais directa com Deus e com o povo. O JC anuncia uma metanoia para a
liberdade e insujeição mostrando com a sua vida o preço da liberdade. As
instituições querem, muitas vezes, um Deus grande, um Estado grande à custa da
humanidade e do povo; Jesus cristo convida a não nos orientarmos tanto por
regras e moralismos mas para através da relação com o interior divino… Jesus
traz uma mensagem de alegria e não de tristeza. Ele quer as pessoas libertas do
jugo do medo, por isso apela à mudança porque toda a vida é processo e
transformação, não algo meramente estático fixado em lei ou normas que nos
distraem do essencial: a relação pessoal e interpessoal. Jesus acaba com o
pensamento em branco e preto, em termo de certo ou de errado; para Ele basta a
fé, a experiência de amor que salva (Mc 5,13).
4. O encontro de Jesus com Maria
A mãe lá está, bem à margem do
caminho, sofrendo no silêncio o mau caminho do seu povo. A mãe pensa como o
filho e sente como mãe, por isso não fala, fica em silêncio (Há momentos em que
só o silêncio pode falar, a conversa torna-se em barulho de altifalantes
pensantes ensurdecedores: um falar para não ouvir a voz do coração, o outro a
falar em nós).
Não são homens que batem, são as
fardas dos soldados que chicoteiam o inocente em nome da ordem e da
instituição.
O encontro de Maria realiza-se,
sem falas, de coração para coração numa troca de olhares porque a verdadeira
vida não é experimentável no mundo das ideias e das palavras. No brilhar das
lágrimas dolorosos que saem do encontro de seus olhos sai uma luz, uma
experiência diferente da vida ordenada e secular. Naquele olhar brilha o dia de
Páscoa, aquele Dia em que é sempre dia sem adormecer e em que a dor não
estorva. No encontro verdadeiro não há palavras porque estas só distraem da
profunda vivência que só é possível no encontro de rosto com rosto.
Para chegar à luz da experiência
daquele encontro houve o caminho solitário no silêncio da dor que liberta; no
mesmo caminho da fé se encontram mãe e filho na consciência de que o caminho da
fé é diferente porque leva ao encontro que chega até a abstrair da razão para
chegar a “compreender” numa vivência de que tudo se encontra unido e não
separado. No momento do encontro a mãe percebeu a dureza das palavras que o
filho lhe dissera quando a evitou (colocando a coisa de Deus acima das coisas
familiares e lhe disse “não sabias que me devo ocupar das coisas de meu Pai?”
Lc 2,49 s); naquela trocar de olhares de mãe e filho a mãe compreendeu
novamente que o caminho de Deus não contempla a amarra de laços sanguíneos; no
encontro Maria viu que seu filho sempre teve razão, porque empenhado na
libertação das pessoas olhando cada uma de olhos nos olhos, não se podendo por
isso deixar perder em nenhuma delas, por mais amável que fosse; no encontro de
olhos nos olhos ateia-se um novo fogo, o fogo do amor que torna tudo presença.
Naquele encontro se realiza a metanoia (para lá do pensamento) que exige um
repensar da normalidade que nos prende e cativa; neste olhar se realiza a
maternidade de uma mãe que se alegra nos crentes e incrédulos. No encontro
dá-se uma fecundação que gera nova realidade.
5. Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz
Os soldados têm pressa e colocam
a cruz aos ombros de um homem de fora, um homem da margem que viu pela primeira
vez Jesus. Um homem de fora, que se encontrava ali por curiosidade, ajuda Jesus
a transportar a cruz (Lc 23,26). Que terá levado Simão a observar a via crucis
de Jesus? Ele sentiu-se levado por aquela força que nos leva a assistir quem
precisa no momento oportuno. Simão são muitos, são a multidão que ajuda de fora
sem perceber o que realmente está a acontecer.
6. Verónica chega a Jesus o sudário para limpar
o rosto
A Verónica, numa reacção
espontânea, limpou o suor do rosta de Jesus, como refere a legenda do séc. 12.
Verónica aquela mulher já preparada pela vida para a encarar de rosto no rosto,
desejava que as dores e o suor não escondessem o rosto do Senhor. Na
visibilidade do verdadeiro rosto de Jesus que se marca no lenço encontra-se a
intenção de mostrar que, no que acontece no calvário, se esconde um verdadeiro
rosto que é vivo e vivificante; as pessoas não devem continuar do lado de cá da
vida fixadas a ver as marcas do caminho.… Jesus tem um rosto que nos olha. Na
sua cara cada um de nós tem a oportunidade de reconhecer e ganhar um rosto.
7. Jesus cai pela segunda vez
Encontramo-nos num mudo levedado pelo poder dualista de
fariseus e Herodes que vivem de súbditos e dependentes; sistemas democráticos
ou não democráticos tendem em manter o povo a olhar de baixo para cima e à
procura do pão. A Tora, a lei encontra sempre um motivo para colocar alguém
debaixo da cruz.
Os amigos assistem ao acontecimento de longe. Não querem
ser identificados como seguidores de um condenado. Não entenderam nada de
Cristo, encontravam-se como que aturdidos sob as enxurradas de ideias que lhes
passavam pela cabeça. As ideias substituem o sentir e a empatia com Jesus; de
Jesus tinham ouvido muita coisa que lhes ficara na cabeça e nos lábios mas não
tinha passado da barreira do entendimento para o coração, para acção. Não
entenderam nada, ficando a girar no intelecto como o hamster a pedalar no seu
criceto.
8. Jesus encontra as mulheres chorosas de
Jerusalém
As mulheres choravam como se
tratasse de uma caso de luto. Jesus que bem percebia o engano das pessoas que o
seguiam e que não entendiam realmente o que se estava a passar. Então Jesus
vendo que mortos choram os mortos, quebrou o silêncio e disse: “Filhas de
Jerusalém, não choreis por mim, chorai por vós e pelos vossos filhos! "
Sim, Jesus previa aqui que muitos dos seus seguidores não entenderam que o que
estava a acontecer era vida, e que apenas conseguiam ver o que se encontra sob
as mortalhas (Lc 23,27-31); Jesus pressentia que as estruturas que ele
criticara e revogara continuariam a subsistir sem que as pessoas tivessem um
olhar de olhos nos olhos como o de Maria e Jesus, uma experiência vivência que
eleva o Homem para Filho de Deus; elas entendiam muito de sentimentos, ideias,
de leis e moral permanecendo prisioneiras delas sem assumirem a vida divina, a
vida da cruz que cada filho de Deus é chamado a levar; não, os mortos são os
que choram aquele que está bem vivo e aguenta com a dor sem a projectar em
ninguém. Jesus via através das lágrimas aquilo que as motivava e ao constatar a
comédia que a vida organiza não aguentou mais … e quebrou com o seu silêncio.
As lágrimas não seriam em vão se no outro dia as pessoas fossem diferentes…
Jesus quebrou o silêncio ante tanta falta de entendimento.
9. Jesus cai pela terceira vez sob o peso da
cruz
Se Jesus tivesse ficado na
Galileia como muitos outros, como fazem aqueles que procuram o sucesso da vida,
nada disto teria acontecido e o mundo continuaria na mesma, prisioneiro de
ideias a viver ideais, longe da vida; se não tivesse levado tão a sério o seu
Pai, se tivesse sido mais diplomático e hipócrita como todos nós, o sofrimento
seria um pouco anestesiado pelo dia-a-dia. Em última análise Jesus é que foi o
culpado por querer afirmar no mundo uma nova consciência de ser humano; uma
consciência de homem livre e sem medo, liberta de opiniões e outras sujeições.
Ele é culpado por ter ousado querer fazer de cada um de nós o caminho a verdade
e a vida e não apenas expectadores e seguidores de seja quem for.
Jesus superou as medidas do bom
pensar e do bom sentir. É abandonado dos homens bem pensantes que se sentem
obrigados a controlar e determinar o que é bom e o que é mau, o que é
verdadeiro e falso. Sob a verdade destes homens sofre a Verdade que é vida e
contacto directo com Deus. (Imaginem que alguém se distanciasse das escolas de
ensino, da estruturas religiosas e políticas, das opiniões dominantes, seria
deitado ao ostracismo tal como Jesus o foi. A malta quer é teatro para aplaudir
ou condenar para seguir as práticas e as regras do jogo que se destinam a
manter a hipocrisia, o domínio e as vaidades; imaginemo-nos que nos
encontraríamos com Jesus de cara a cara de olhos nos olhos; isso não pode
acontecer porque teríamos de nos tornar nus para não cairmos no equívoco de
pensarmos que nos encontramos com o outro quando na realidade nos encontramos
com a ideia que fazemos dele, presos que andamos nos argumentos, do
cálculo, da insensatez numa tática de vida a meias entre proveito e ânsia de
vaidade,
Entendiam que Jesus deveria
reagir à sua maneira, uma maneira dialética e polar do que é bom e mau pensar.
De todos abandonado sem braços acolhedores, nem seio de mãe que o acolha fica
entregue à liberdade dos braços de Deus. Dois criminoso a seu lado Lc 23,32
10. Jesus é despojado de suas vestes
Jesus confessa: “O Filho do Homem
será entregue aos seres humanos”. Os discípulos não entendiam o significado
daquelas palavras (Lc 9,44s).
Os soldados roubaram-lhe a roupa
mas embora ladrões, foram justos, à maneira mundana, no repartir entre eles a
roupa (Jo 19,23-24). Roubaram-lhe a dignidade humana, a ética e agora fazem
negócio com os seus restos.
11. Jesus foi pregado na cruz
No alto do monte, lá onde as
ideias e as palavras se cruzam em sequências lógicas, Jesus é pregado na cruz e
em nome da lei. Aquele Jesus queria levar tudo conscientemente até ao fim
recusando mesmo o mórfio.
No contemplar da cruz, a
inteligência e os sentimentos escurecem até à mudez. Jesus encontra-se sozinho
e a sós com o Pai.” Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” (Sl 22,2).
12. Jesus morre na cruz
Mais forte que a morte é o amor.
Crucificaram-no “à terceira hora … e à hora nona (15h00) morreu” (Lc 15.44).
Jesus não morreu para apaziguar o medo daqueles que têm medo de Deus… Jesus
morreu como viveu, dando testemunho do Homem livre e comprometido com o Homem,
perdoando sempre (Lc.23,34). "Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito" (Lc 23,46).
13. Jesus é descido da cruz
Jesus morre abandonado dos seus e
um estranho vem descê-lo da cruz. Já antes um samaritano (Lk 10,30-37), um
estrangeiro cuida do homem roubado, não o padre, nem o doutor da lei. José de
Arimateia- um homem honrado que esperava pela vida do messias, cheio de
compaixão arranjou um lugar para colocar o corpo de Jesus, doutro modo teria
sido colocado na vala comum dos crucificados… José tirou-o da cruz e envolveu-o
num manto (Mk 15,42 – 46). Em torno da morte de Jesus também havia justos como
este José (Lc 23,51).
14. O Corpo de Jesus é colocado no sepulcro
Deus não é um Deus dos mortos mas
dos vivos (Mc.12,26s), por isso tem de ser procurado entre os vivos. A José
junta-se Nicodemos que trouxe mirra e aloés para ungir o Senhor. Depois o
sepulcro encontra-se vazio; Jesus adiantou-se, “o túmulo se esvaziará tal como
o meu, um dia, se esvaziará”!
15. Deus despertou Jesus!
Teresa de Lisieux dizia, “não
olheis para a cruz! Olhai para o crucificado!” Nele Deus continua a história de
cada um de nós. Não procureis entre os mortos quem vive, Ele ressuscitou. O
nosso Deus não é um Deus do destino, ele é um Deus da relação, um Deus que se
trata com denominativos como: paizinho, mãezinha… Se Jesus tivesse morrido a
revolução não teria sentido porque permaneceria abandonada à violência em
sequências de ritos e rituais repetitivos através da História. Assim permanece
um paradigma da vida e de relação de pessoas, da humanidade que é uma família
divina a querer encontrar-se e a erguer-se para se encontrar de olhos nos
olhos.
A cruz demonstra o Homem sofre
devido à sua própria imagem e às ideias que o prendem.
Muitos cristãos
costumam meditar em frente ao crucifixo. A melhor experiência que se pode ter
ao meditar será sentir como Jesus desce da cruz e se vem colocar no coração,
como desce para o meio da comunidade.
Nas sombras das asas do Senhor (PS 63,1-9), nas
sombras do seu caminho minha alma se refresca da sede que tem de ti!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
http://antonio-justo.eu/?p=3531
Sem comentários:
Enviar um comentário