Do
Reino da Desordem sem Forma nem Espírito para o Ser integral
Por António Justo
Caos ocupa um lugar importante na teogonia e na
cosmogonia grega e nas tradições de outras culturas. Nelas, é manifesta a
tendência para, através da força da razão/inteligência, se encontrar um fio
ordenador e condutor da vida e do universo, e uma explicação para ele, na Terra
que deixou de ser organismo vivo para se tornar em palco, das lutas das forças das
trevas contra as forças da luz.
Na mitologia grega, Caos (fenda, ou força da confusão) é o contrário do Eros (a força
ordenadora); Caos é o contrário do mundo, do cosmos, é o estado
primordial antes do cosmos. O mundo pressupõe uma ordem, uma estrutura organizada e
uma força ordenadora ou um ordenador. Os princípios do caos e da ordem expressam-se
como antagónicos no conceito polar da dialética grega dos opostos.
Nalgumas tradições, do caos, no início do início onde reina a desordem, a
treva espiritual, a falta de harmonia, origina-se a Terra.
No hebraico
aparece a palavra „Tohuwabohu“ (grande confusão) para designar a grosseria (o
sem forma) e o vazio (vazio espiritual) primordial, como se encontra
descrito no Génesis 1-2; aqui, Deus, no primeiro momento da criação, criou os Céus
e a Terra e a Terra é qualificada com os atributos: deserta (sem forma) e vazia (sem espírito). Num processo de
desenvolvimento, no estado primordial, o primeiro momento era o caótico; o
Criador deu-lhe forma criando luz através da separação. (O filho da aurora
(Lúcifer) caiu no sheol devido à soberba; ele é o princípio das trevas e ao
mesmo tempo filho da liberdade, criado por Deus.)
À treva espiritual do início segue-se a
criação da luz natural visível e, finalmente, no sexto dia da criação, a luz
espiritual será colocada em Adão. A luz natural conduz finalmente ao acordar de
Adão para a luz da razão (apelo de Eva) que o conduz à luz espiritual.
Há também uma magia do caos que se baseia na arbitrariedade.
Nestes tempos conturbados por que se passa, chega
a ter-se a impressão que nos encontrarmos numa fase histórica em que as forças
caóticas perpassam os vários sistemas ordenados.
Não chega a luz natural visível nem a luz da razão
para chegarmos à plenitude da criação (à natureza crística); na perspectiva bíblica,
para se chegar à felicidade da realização, é necessária também a luz
espiritual, a energia do Espírito. A evolução da natureza (cosmos) e das
espécies (do Alfa para o Omega) culminará no Homem espiritual e no dizer de
Teilhard de Chardin no “Cristo cósmico”. Ao Homem cumpre um papel especial e de
responsabilidade no desenvolvimento da humanidade e da ecologia de forma responsável.
Como imagem de Deus, somos chamados, como Deus a distinguir e separar as trevas
da luz, a prolongar com Ele e nEle a criação. No Apocalipse 3:20 é clara a
mensagem: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, eu entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo"
António da Cunha
Duarte Justo
In Pegadas do Tempo: http://antonio-justo.eu/?p=3356
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