O que vale para a Alemanha deveria
valer para a Zona Euro – Porque não?
Por António Justo
A criação de um imposto de solidariedade
europeia em todos os países da Zona Euro (à imitação do que fez e faz a Alemanha para recuperar
economicamente a sua antiga zona socialista), que anualmente seria canalizado para as zonas periféricas e mais fracas
da EU, evitaria a política de austeridade imposta aos mais fracos e criaria
mais justiça, numa sociedade de concorrência livre, que beneficia já por si
as nações mais fortes e mais centrais. Esta via conseguiu quase apagar as
distâncias abismais que existiam entre as economias da zona DDR e zona BRD. As
economias periféricas da Zona Euro encontram-se em situação semelhante às das então
Alemanhas separadas.
Porque é que o
que vale para a Alemanha no seu processo de reunificação (no sentido do
alinhamento da economia e nivelamento do nível de vida da Alemanha de leste à
Alemanha ocidental) não é posto em consideração numa estratégia europeia de
tentativa de solução dos problemas da zona Euro? A política de Bruxelas até
agora seguida não mete no seu barco a população nem os países periféricos.
Permanece renitente deixando a economia oligárquica, levar tudo de enxurrada.
Porque
abandona a UE o sistema de economia social do mercado europeu (um capitalismo
de rosto humano) para seguir o sistema de economia liberal anglo-saxónico (um
capitalismo para os oligarcas do capital e da ideologia)? Deste modo a Europa
abandona pouco-a-pouco a tradição humanista que deu rosto à Europa, vendendo
assim o fundamento da sua identidade.
Uma outra medida justa seria vincular o
pagamento de juros ao crescimento económico do país. Interessa a criação de regras comuns conectadas de tal
modo que um só país não possa criar problemas a toda a UE. O alerta da Grécia a
Bruxelas implicaria uma grande reforma das instituições da UE mas estas não mostram
qualquer sinal de arrependimento nem de interesse; sentem-se bem no papel de
disciplinadoras dos países europeus de que tiram o proveito imediato. À união monetária
será necessária seguir-se uma união económica real que culminaria com uma união
fiscal.
Juros
da dívida pública querem-se investidos no fomento das economias que os pagam
Os juros que Portugal paga pela dívida
pública deveriam ser aplicados pelos fiadores em Portugal para não se continuar
a desviar os recursos públicos para fora do país sem qualquer contrapartida que
reverta no investimento económico nacional. Neste sentido seria consequente também a distribuição
das centrais das multinacionais por diferentes países especialmente nas zonas
que precisam de maior desenvolvimento, o mesmo se diga das instituições da UE.
A democratização da economia suporia uma correcção substancial da ideologia
centralista. Torna-se intolerável que uma democracia política se deixe governal
pela ditadura económica isente.
Doutro modo a
Dívida só serve para pagar os gastos do estado e para engordar as instituições
internacionais credoras, as únicas que beneficiam dos juros da dívida. De
facto, os 12 maiores bancos do mundo compram em leilão os títulos da dívida que
o Tesouro Nacional vende e por outro lado também são eles que emprestam
dinheiro aos Estados, como testemunham peritos no assunto. Forma-se assim uma corrente
mafiosa de credores e compradores dos títulos da dívida nacional. Assim os
países devedores tornam-se na mama dos sistemas financeiros.
Portugal vai gastar este ano 8.836 milhões de
euros para pagar juros da dívida pública, o que corresponde a
5% do PIB. Uma sangria de um país que trabalha para os
credores sem que estes invistam produtivamente em Portugal. Imagine-se a situação
de derrocada em que nos encontramos. Para pagarmos 5% teríamos que ter um crescimento
económico de 10%, quando ele não chegará aos 2%. O Governo português quer antecipar o pagamento do empréstimo ao Fundo Monetário
Internacional para evitar ser vítima do sistema progressivo das dívidas. A
dívida é de tal ordem que destrói qualquer boa vontade.
Concluindo; os
credores são ao mesmo tempo os compradores dos títulos de dívida pública
nacional e como tal especuladores que beneficiam só eles dos juros e do estado
carente dos países. Quanto mais os países devem, mais ganham os jogadores do
sistema financeiro. Os juros que
Portugal paga pela dívida pública deveriam ser aplicados pelos fiadores em
Portugal. Esta seria a única maneira de controlar este ciclo mafioso a que os
Estados estão amarrados e obrigados a ter um povo inteiro a trabalhar e poupar
para pagar a soberba e a usura dos oligarcas.
No cenário partidário
nacional não se encontram programas eleitorais de partidos onde se encontrem
propostas de medidas concretas semelhantes às que refiro e que exijam
responsabilidade ao capital especulativo internacional e que impeçam o seu papel
simultâneo de sanguessugas dos contribuintes e de destruidores das soberanias
nacionais. Não se apresentam alternativas; o actual sistema está de tal modo
elaborado que mesmo os de boa vontade não podem sair dele; serve os interesses
de quem está à frente por isso a opção será continuar a administrar a miséria
do sistema. Deixar de o ser não é tarefa natural nem fácil porque os tentáculos
do polvo são universais.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu
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