sábado, 5 de julho de 2025

NO PRINCÍPIO DOS PRINCÍPIOS

(Céu e Terra, masculino e feminino são parábolas e eu o enredo delas)

 

Sou a miniatura do universo criado,

um segredo que se dobra em si mesmo —

matéria e verbo entrelaçados,

solo que gera e relâmpago que queima,

silêncio húmido da terra virgem,

semente que espera o grito do rebento.

 

Sou Adão que traz na carne a memória do primeiro sopro,

nas veias, o rumor do rio antigo

que nunca cessa de procurar o mar,

no peito, o incêndio da fronteira,

o fogo que delimita, que fere, que protege,

mas também o ardor que deseja dissolver-se,

ser nuvem, ser fonte, ser mar.

 

Dentro de mim, o masculino e o feminino

não são rótulos, não são géneros, mas chaves,

idiomas secretos de um mesmo abismo —

o fogo que cerra e contém,

o rio que abre e acolhe.

Sou ambos, sou ponte,

sou aquilo que a Criação continua a revelar.

 

Minha carne é gramática do Mistério,

verbo que se faz limite e, inquieto,

nome na procura do que o transcende.

Habito na fresta onde os opostos se beijam:

sou o barro que sonha ser estrela,

a palavra que, encarnada,

se descobre inacabada,

anseia ser mais que som,

mais que corpo,

ser o eco inteiro da Trindade,

onde o Um se desfaz no Três,

e o Três se resolve no Um.

 

E é no abraço — mais que de corpos, de contrários

que reencontro a pegada do Início,

a linguagem secreta da Origem,

onde ser limite é apenas o princípio

de aprender a ser infinito.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10085

 

sexta-feira, 4 de julho de 2025

A Onda Guerreira Ameaça Dominar os Diferentes Sectores da Sociedade: Um Apelo à Consciência

 

 

Kassel: Do Passado Destruído ao Presente Belicista

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, dois terços da cidade de Kassel, na Alemanha, foram reduzidos a escombros devido à sua importância estratégica na indústria de armamentos. Ironia da história, hoje, Kassel volta a ser um dos maiores centros da produção bélica germânica. O ciclo parece repetir-se, mas desta vez com um agravante: a normalização da guerra como política de Estado.

 

O Requerimento que Simboliza uma Tendência Perigosa

Recentemente, em Niestetal-Kassel, o partido CDU apresentou no parlamento um pedido para a construção de uma pista de testes de tanques, com uma extensão de 100 hectares — o equivalente a 140 campos de futebol. Este projeto não é um caso isolado. Em toda a Alemanha, os partidos do arco do poder têm abraçado um discurso belicista, pressionando por mudanças legais que facilitem o armamento e a militarização. Manifestação em Niestetal. Há 8 horas — Manifestação em frente ao conselho distrital

Contra essa corrente, manifestantes tomaram posição (4/6/2025) em frente ao conselho distrital com palavras de ordem que ecoam como um grito de alerta: “Carteiras escolares em vez de carreiras de tiro”, “Capacidade de paz em vez de capacidade de guerra”, “Mais ativistas da paz e menos belicistas”. No entanto, a resposta da imprensa mainstream tem sido uma "artilharia pesada" contra os pacifistas, enquanto o governo alemão justifica o investimento militar como motor de recuperação económica.

 

A Militarização da Educação e a Lavagem Cerebral das Novas Gerações

O cenário torna-se ainda mais sombrio quando empresas de armamento buscam infiltrar-se nas escolas, participando em feiras de orientação profissional para recrutar jovens. Com financiamento estatal, ambicionam também influenciar a investigação universitária, direcionando-a para o desenvolvimento de tecnologias bélicas.

Onde estão os espaços que promovam a cultura da paz? As escolas preparam os alunos para a competição, mas não para a cooperação. Quem defende a presença da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) nas salas de aula não fala do futuro — fala da guerra. E, pior ainda, está a servir um "modelo de negócio de morte".

 

A Hipocrisia dos Partidos "Cristãos" e a Manipulação da Opinião Pública

Os partidos com a letra "C" (de cristão) no nome abandonaram qualquer princípio pacifista, alinhando-se com a indústria da guerra. Sob o pretexto de "todos queremos a paz", promovem as "oficinas da guerra" com um fervor inédito. Enquanto isso, a opinião pública é manipulada por uma narrativa que esconde os verdadeiros problemas sociais, transformando a população em marionetas de um jogo geopolítico perigoso.

O Papa Leão XIV já alertou: "A aprendizagem do respeito e da amizade é condição prévia para a paz." Mas a Alemanha, aspirante a líder da União Europeia, parece empenhada em transformar o continente no "segundo grande polo armamentista", logo atrás dos EUA.

 

A Esperança Resiste: Os Jovens e a Resistência Pacifista

Apesar da propaganda, um estudo recente — "Jovem Europa 2025" — revela que 55% dos alemães entre 16 e 26 anos rejeitam o serviço militar obrigatório. Apenas 38% apoiam a medida. Os Verdes, por sua vez, tentam trazer transparência, prometendo tirar a Bundeswehr e as empresas de armamento "da sombra".

 

A Cultura como Último Bastião da Paz

É urgente que a arte — o teatro, a música, a literatura — assuma o seu papel como "mensageira da paz", recusando-se a ser instrumentalizada como "música de fundo" da política belicista. A sociedade não pode permitir que a guerra seja normalizada.

Chegamos a um ponto de viragem. Ou escolhemos o caminho da diplomacia e do humanismo, ou seremos arrastados por uma onda de militarismo que só trará mais destruição. A pergunta que fica é: Onde é que chegámos? E, mais importante ainda: Para onde queremos ir?

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10083