“APROPRIAÇÃO
CULTURAL” ENTRE APRECIAÇÃO-DEPRECIAÇÃO-HIPOCRISIA-MANIPULAÇÃO
Matéria: Instituições e organizações
europeias proíbem apresentações ou disfarces com trajes de índios americanos ou
de gueixas, etc.; uma europeia não pode entrançar o cabelo emaranhado
(dreadlocks) como africanas, crianças nos jardins infantis são proibidas de
maquilharem o rosto à africano; um não mexicano não deve usar sombrero; etc.,
etc.
Objectivos
desta e doutras campanhas em voga: Romper com os padrões de pensamento e
desmontagem e culpabilização da cultura ocidental através da transversalização
de temas em torno do género, da sexualidade, da linguagem,
e do colonialismo nos diferentes órgãos do Estado, media, organizações
sociais, etc.; em conformidade com a política do género pretende-se que a
Europa das culturas e dos pensadores se transforme num território decadente de
não-pensadores e de seguidores de uma geocultura e pensamento a preto e branco.
Pretende-se que a sociedade europeia seja ocupada com contínuas iniciativas
para se criar nas populações insegurança e medo de não seguirem opiniões
predeterminadas. Por outro lado, estas iniciativas que
têm como alvo criar confusão e defraudar a cultura ocidental, correm também o
risco de hipocritamente lavarem o rosto ocidental quando o problema dos
problemas é a Apropriação Económica em vigor (especialmente em zonas carentes sem
que se faça reverter a riqueza nessas zonas). O infantilismo e o oportunismo tornaram-se de tal maneira dominante que já
brada aos céus!
“Apropriação cultural”,
como muitos outros temas forjados nos bastidores e a actuar no palco social, não é propriamente assunto de debate
público sério nem tão-pouco encomendado pela sociedade. São temas impostos por
forças anónimas obscuras que se aproveitam de alguns defeitos ou
deficiências civilizacionais para uma crítica radical negativa apenas com a
finalidade do bota abaixo, sendo irreflectidamente seguidas pela política com
medidas proibitivas inadequadas! Dado as
elites da nossa sociedade, muitas vezes, manifestarem falta de bom senso e de
critério, seria chegada a hora de o povo (pessoas atentas) as levarem ao rego e
não se deixarem levar por uma oligarquia sociopata supranacional que cada vez tem mais
influência nos media, na politica e nas sociedades; se se observarem os vários
movimentos activistas (ONGs) e os seus campos de combate, torna-se cada vez
mais visível (até pelos efeitos observáveis e que facturam para si na sociedade) que pretendem desestabilizar
as sociedades para poderem desmontar as democracias e as constituições
nacionais; a
sociedade tem-se transformado em laboratório dos mais diversos movimentos
ideológicos todos eles com um denominador comum observável: implementar
social e institucionalmente o materialismo mecanicista com o objectivo de se
chegar a instalar uma troica global (1) e para isso criar-se nas populações uma
mentalidade-cultural marxista!
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
têm implementado a própria ideologia no sentido de se tornarem nos
controladores da medicina e do ensino e em influenciadores directos da
sexualização prematura e viciada das crianças nas escolas.
Por definição da Wikipédia, apropriação
cultural ocorre quando uma cultura adopta elementos específicos de outra. Estes elementos podem ser ideias,
símbolos, artefactos, imagens, sons, objetos, formas ou aspectos
comportamentais que, uma vez removidos dos seus contextos culturais originais,
podem assumir significados muito divergentes.
O problema não está na definição,
mas no abuso intencional que se faz da apropriação cultural em si e também a maneira desonesta e ilícita como como o tema é
instrumentalizado para fins de abuso de poder.
O facto de haver muitos grupos
marginalizados tratados injustamente por causa da sua “aparência ou costumes
culturais” torna-se preocupante devendo fazer-se todos os esforços para se pôr cobro
a tal situação, mas não de maneira destrutiva, doutro modo seguir-se-ia (nos
métodos e intenções manipuladoras) a mesma lógica das causas que criaram a
situação a dever ser reparada.
Se ao longo da história não tivesse
havido apropriação transcultural numa dinâmica de aculturação e inculturação
que permitem uma “fertilização cruzada”, ainda hoje nos encontraríamos na Idade
da Pedra. Que seria das nossas capacidades intelectuais e sociais sem
metáforas, analogias, representações e signos? Que seria da literatura, música,
teatro, filosofia sem apropriação cultural?
O problema é a falta de contexto e a perspectiva de interpretação. Colocar
a questão só no relacionamento entre pretos e brancos, entre uma "cultura dominante"
e uma "cultura minoritária “é instrumentalizar uma realidade complexa para
fins imperscrutáveis que dão origem a cepticismos, pela arbitrariedade e
desestabilização que muitas vezes pretendem e pelo atentado que são à liberdade
de expressão. Neste assunto está a dar-se um processo de apropriação das
maiorias pelas minorias ideológicas (a metodologia da luta e do poder que uma
parte critica na outra igualam-se e deste modo justifica-se a situação injusta
criada pelo mais forte: a questão só poderia ser viabilizada se baseada numa
nova matriz cultural, doutro modo teremos de viver numa cultura feita sobretudo
de remendos). É importante o estabelecimento da justiça, mas não
seguindo a mesma matriz patriarcal que nos guia e cuja estratégia e metodologia
está na fonte dos problemas que é preciso remediar.
O
argumento de as medidas de proibição se destinarem a proteger a propriedade
intelectual coletiva de povos indígenas e de se a lutar
contra as relações de poder desiguais, não legitima um combate generalizado como
se observa na Alemanha.
Considerar o
estatuto de diferentes culturas como argumento contra a apropriação cultural
por culturas dominantes também é problemático porque nem a cultura se deixa
reduzir a uma só característica (trajo, etc.) nem a natureza da pessoa humana se
deixa reduzir à própria cultura.
De facto, como descreve Ursula
Renz (2), “a cultura é sempre uma transferência cultural". Na
consequência, o próprio conceito apropriação cultural induz em erro.
A “apropriação cultural” também
pode significar solidariedade e sinal de culturas que apesar de terem uma certa
identificação cultural estão abertas a outras e deste modo a um desenvolvimento
em simbiose dinâmica. O assumir uma característica de uma
comunidade identitária não implica a sua destruição; pelo contrário, o seu
alongamento.
Parece estranho
que quem reclama não são os grupos retratados! Quem se queixa são mais os grupos
americanos e europeus como se fossem advogados comissionados para falarem em
nome dos referidos grupos. Esta
posição é indício grave de uma afirmação de superioridade em relação às
referidas culturas, quando estas até poderão ter interesse em tais
representações. O
exagero de forças empenhadas na luta contra a “apropriação cultural” esconde o
objectivo de se abolir a propriedade privada que então só será permitida para
os grandes “latifundiários” de interesse relevante para o sistema.
Quer-se preparar uma sociedade de pensar
a preto e branco – sem cores, o que corresponde a uma regressão
antidesenvolvimento. Como se observa,
inteligência e estupidez são constantes da humanidade.
Em breve ninguém ousará opor-se a uma determinada opinião
por causa da conformidade de género e da pressão cultural do espírito do tempo.
Por que se fala tanto de Apropriação Cultural e não se fala de Apropriação
Económica através da importação (apropriação) de especialistas, mão de obra, de culturas diferentes e de monopólios de exploração mineral, matérias primas,
agrícola, etc.? Assim se engana e manipula o povo e os povos com temas que
distraem do problema padrão que é a economia exploradora do homem e da natureza
e que, ontem como hoje, provoca o luxo de uns através da apropriação dos bens
dos outros! Hipocrisia das hipocrisias, tudo é hipocrisia!
O grande escândalo é a profanação do humano e a “sacralização” das
economias fortes em relação às pequenas.
As elites encontram-se em processo de banalização e perdem o critério ao
levarem a sociedade a viver em estado de luta e a ocupar-se com extremismos que
não deixam espaço para uma consciência privada; deste modo o povo vagueia,
desespera e perde a inocência! A vida
acontece entre os polos e não nos extremos polares; os extremismos só fomentam
a luta e apagam as perspectivas de esperança num dia de amanhã!
António CD Justo
Pegadas do Tempo:
https://antonio-justo.eu/?p=8475
(1) O marxismo baseia-se em um entendimento materialista
do desenvolvimento da sociedade, tendo como ponto de partida as atividades económicas
necessárias para satisfazer as necessidades materiais da sociedade humana. No
setor da política, o objetivo principal das teorias marxistas é promover a
queda total do capitalismo por meio de um Estado socialista forte e opressor
contra a burguesia.
(2) Ursula Renz: „Was denn bitte
ist kulturelle Identität? Eine Orientierung in Zeiten des Populismus“, Schwabe
Verlag Basel, 2019