ALEMANHA AINDA AMARRADA ÀS QUATRO POTÊNCIAS VENCEDORAS DA SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL
A Alemanha está em uma situação delicada devida ao tratado de armistício
que a obriga a um jogo de entrelinhas
sobre a situação de uma Alemanha sem soberania absoluta e, como tal, ter de se
mover numa margem de manobra legal que permita exibir soberania na qualidade de
povo ad intra (perante o próprio povo) e por outro lado, como Estado estar
submetida às limitações de sua soberania pelos vencedores da guerra,
estabelecidas no Tratado Dois Mais Quatro. A guerra na Ucrânia e os interesses
das potências geopolíticas poem ao vivo a sua situação.
O Tratado Dois Mais Quatro (Tratado sobre o Acordo
Final em Relação à Alemanha) assinado em
Moscovo em 12 de setembro de 1990 entre os dois estados alemães (BRD e RDA) e
as quatro potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial (EUA, URSS, França,
GB) estabeleceu a soberania interna e externa final da Alemanha unida, embora
com restrições.
O texto do Tratado,
que coloco em nota nas versões alemão, francês, inglês e russo (1), apesar
dos subterfúgios inerentes a
interpretações comuns de textos jurídicos, permite chegar-se às seguintes
conclusões: A Alemanha está proibida de fazer referendo sobre
questões político-militares do país: A presença americana na Alemanha com as
suas 20 bases é determinada pelos americanos; aqui os alemães não têm liberdade
de decisão sobre isso. Os alemães não podem decidir ter forças aéreas
estratégicas. A Alemanha não pode tomar
decisões de política externa sem consultar previamente as potências vitoriosas!
A quarta cláusula limita o número de tropas no Bundeswehr a um máximo de
370.000 (praticamente 345.000 soldados das forças terrestres, aéreas e
marítimas, antes de 1990 - 500.000): Art3 § 2. No artigo dois a Alemanha declara ainda que de seu
território “só sairá paz”. A intervenção e entrega de armas viola o artigo 2 porque
só pode empregar armas com base na Constituição e na Carta das Nações Unidas.
Avisos da Rússia: “Sra. Merkel, o tratado 2-4 proíbe-a de avaliar ou mesmo
comentar as ações de política externa das potências vitoriosas. Não se esqueça disso",
disse Putin como resposta a uma crítica dea Chanceler Merkel em 2015 por
ocasião do feriado de 9 de maio.
Em março de 2022, o
"Ministério da Rússia" informou que o "armistício (trégua) de
1945 foi levantado com efeito imediato baseando-se no Acordo Dois Mais Quatro,
devido à entrega de armas pela Alemanha à Ucrânia. Com a entrega de armas de qualidade superior mais
se arrisca a Alemanha.
A Alemanha, encontra-se em maus lençóis
porque, por um lado, pode ir dando a ilusão de plena liberdade nas suas relações
com os estados “amigos” e por outro sabe que dos quatro vencedores também fazem
parte a Rússia na qualidade de sucessora da União Soviética. A
União Soviética decidiu por sua própria iniciativa e voluntariamente retirar
suas próprias tropas da Alemanha e
dissolveu a sua organização militar enquanto os EUA, mais orientados pelo poder
hegemónico, mantiveram as bases na Alemanha e a Nato, como sua ponta de lança,
até se alargou em direcção à Rússia, contra o combinado. A Alemanha tem assim
de se manobrar entre pseudo inimigos e pseudo amigos! De facto, a ajuda
generosa que os EUA concederam com o plano Marshall para a Alemanha não era
sério; deu-se para mitigar a sua subjugação militar com máscara amigável. Os
EUA sabem que tendo a Alemanha subjugada mantêm presa a Europa.
Quem tenta observar de perto o comportamento dos EUA (e suas declaradas
intenções) terá de concluir que em relação à Europa e a outras partes do mundo,
a sua atitude é de domínio e hegemonia não tendo em consideração sequer os
amigos (ou obrigados a sê-lo). A razão,
perante o poder acobarda-se.
Agora nesta guerra, dada a pretexto da Ucrânia (Guerra
geoestratégica), os EUA exigem com
alguns dos seus súbditos mais interesseiros, que a Alemanha entregue armas
qualitativas à Ucrânia sem que os EUA o façam porque assim se livra de ser ela
a provocar directamente a Rússia; sendo
a Alemanha a fazê-lo ela incorre em
infracção ao Tratado Dois Mais Quatro e então a guerra seria entre a
Rússia com parte da Europa e não entre a Rússia e os EUA; então os EUA poderiam
aparecer como salvadores da Europa numa guerra, já antes sua, que então seria
de caracter nuclear e aniquilaria a Europa.
A soberania
da Alemanha encontra-se limitada até que se realize um tratado de paz com as
quatro potências vencedoras da guerra, devido à sua “rendição incondicional”. O tratado Dois Mais Quatro revela-se mais como um
Tratado de armistício do que um tratado de paz!
A Alemanha tem nela também
correntes belicistas e apesar da actividade manipuladora das agências de notícias
a população encontra-se profundamente dividida entre beligerantes e pacifistas.
O partido dos Verdes é quem mais zelo mostra na defesa de resolver a questão
por meio de armas. O chanceler Scholz
talvez não resista à pressão americana e de outros aliados e irá ceder aos
belicistas na esperança de depois a Alemanha ser protegida pelos parceiros da
Nato; a nível político-jurídico infringe, de facto, certas clausulas do Tratado
Dois Mais Quatro em relação à Rússia porque a preparação ou condução de uma guerra
agressiva foi declarada punível e inconstitucional. Em tal caso os EUA
esfregariam as mãos de contentes porque com um só golpe subjugariam a Europa e
enfraqueceriam a Rússia!
Ainda não há muito tempo Scholz mostrava boa vontade embora
a política seja um campo brutal; na China ele disse: “Precisamos de um mundo multipolar onde o papel e a influência das
economias emergentes possam ser levados a sério. A Alemanha rejeita um
confronto de bloco pelo qual os políticos devem ser responsabilizados. A
Alemanha desempenhará seu papel na promoção das relações sino-europeias”.
Facit: O chanceler encontra-se
na situação de '"Preso por ter cão preso por não ter"! Se ceder vai
contra o tratado 2+4 que os aliados impuseram à Alemanha depois da guerra. Se o
não fizer vai contra os interesses dos Estados Unidos (Nato) que gostariam de
ter um bode expiatório!
Depois de tanto teatro, Scholz
terá de ceder à pressão da Polónia para autorizar que ela ceda Leopard 2 à
Ucrânia; é de prever que posteriormente, conjuntamente com os EUA decidirão
entregar os tanques americanos "M1 Abrams" e os Leopard 2 alemães à
Ucrânia. Assim a responsabilidade passa a ser da Nato e não só da Alemanha ou
da Europa!
António CD
Justo
Nota em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=8226
(1) Tratado Dois Mais Quatro : https://www.auswaertiges-amt.de/blob/243466/2851e102b97772a5772e9fdb8a978663/vertragstextoriginal-data.pdf