Amarrados à Corda do Tempo passado e futuro (Divididos pelo Tempo
cronológico)
António Justo
A Ideologia do Progresso
é uma concepção materialista da história, que tem consequências enganosas para
a prática social e individual; na sua concepção política, segue a estratégia,
de criar uma consciência revolucionária de classe socialista materialista,
incidindo para isso, sobretudo, no âmbito dos pelouros da Justiça, da Educação
e dos Media. Para se tornar
mais acessível às pessoas, a consciência revolucionária de classe é embrulhada
num idealismo internacional militarista de fervor quase religioso, tendente a
substituir qualquer metafísica por um panteísmo imanente (de oceano em que a
pessoa passa a ser apenas gota)! Também o capitalismo segue
a ideologia do progresso tecnológico e de um consumismo fomentador de sempre
novas necessidades num ser humano que se quer sobretudo cliente e consumidor!
Quer-se que o medo
substitua a esperança, dado este ser mais adequado ao projecto de construção de uma sociedade
funcional de progresso técnico-materialista que reduz a pessoa humana a uma
peça ou ao nível dos instintos.
Pouco a pouco e sem se
notar, a sociedade passa a ser transformada numa mera classe de consciência
marxista-leninista de embrulho socialista, a ser movida num contínuo clima de
insegurança e de medo. Fomenta-se a consciência de um presente
querido ausente e, como tal, indesejado e não vivido, para que seja apenas
sentido como grandeza de transição (uma espécie de purgatório da sua utopia da
História: um estado de mudança pela mudança que dê a impressão de que o
futuro, se torne em utopia condutora suficiente (meio e fim em si) numa
atmosfera niilista criada pela própria ideologia mas de que esta paradoxalmente
promete libertar-se. Neste estádio intermédio, as novas necessidades
consequentes da insegurança e do medo promovido passam a querer ser saciadas
por uma esperança de tipo internacionalista que justifica a intervenção de
poderes anónimos cimentados também eles pela crença devota de um capitalismo
globalista unido a uma supraestrutura de culto socialista.
Neste sentido, uma
esquerda radical, inteligentemente organizada, com uma eficiente estratégica
com ONGs, redes e agendas internacionais, apodera-se dos factores (ideais)
político-sociais de “desenvolvimento” colocando-se à frente de campanhas
portadoras de uma dinâmica de mudança e exigências de transição, que se torna óbvia pelo direcionamento e
controlo dos temas que ocupam e dirigem a opinião pública.
O direito à diferença
natural, cultural e existencial é substituído por um igualitarismo de tipo
legal (direito positivo) que chega a não respeitar a lei natural e orgânica da diferença
que pressuporia uma tolerância existencial e não apenas uma tolerância cultural
de meros efeitos
funcionais, utilitários e imediatos de conveniência humana e social.
Ao contrário de
movimentos político-sociais moderados e de direita, que indolentemente se
contentam com o movimento de inércia do desenvolvimento histórico, uma esquerda
coerente e esperta aposta num eco-socialismo de autopoder participativo, lutando
consequentemente pelas pretensas reformas eco-sociais (a mobilização do autopoder participativo é usada como
meio oportuno para atingir o seu indeclarado fim, a saber, uma sociedade comunista); no igualitarismo
tudo se quer funcional, passando para segundo plano o aspecto relacional
humano: o que conta é o aspecto funcional no que respeita à satisfação da
necessidade social e pessoal, seja a satisfação adquirida através de uma pessoa
ou de um gato…
Se a sociedade
tradicional chegava ao Homem através de Deus numa tentativa de transformar a
natureza e o Homem, a sociedade progressista quer chegar ao Homem através da
natureza amarrando-o à ideia materialista dela (por outro lado prescindem dela para explicarem o ser
humano apenas como produto da cultura). A cultura torna-se numa pastilha
elástica que legitima, por si mesma, a ideologia também ela não mais que fruto
da cultura (ver ideologia do género): assim a pessoa passa a ser mero produto
de informação, e que se resume na estratégia formação = informação (uma
sociedade concebida com o Homem em termos abstratos, legitima a hegemonia já
não dos iniciais latifúndios agrários nem dos posteriores latifúndios citadinos
– latifúndios bancários – mas sobretudo a “evolução” para os latifúndios de
ideias (ideologias) e suas pastagens onde os rebanhos irmanados pela
necessidade pastarão.
Uma necessidade legítima de mudança pessoal e social
notória parece, nos termos do Zeitgeist criado, favorecer a luta de agendas e
ONGs contra a matriz cultural ocidental (cujo maior equívoco tem sido ser
demasiado dualista como queria o poder e a filosofia e não trinitária (dualismo
é o contrário do que a teologia e a fé anunciavam no princípio).
Os conservadores mais ligados ao processo económico e às leis da natureza perdem-se, por vezes, na
resposta ao presente e descuidam o princípio (axioma) bíblico “no princípio era
a palavra, a informação”! No desenvolvimento está a Palavra, a in-formação
de que a esquerda se tem apoderado com maior sucesso vendo o ideário da Europa
ser cada vez mais transformado no sentido de uma esquerda zelosa de futuro; dos zelotes do templo passou-se aos zelotes
do tempo! Estes negam a afirmação do futuro espiritual para a substituírem
pela afirmação do futuro no sentido marxista da história (como utopia): os
marxistas-leninistas caem no mesmo defeito que criticam, embora defiram nas
perspectivas (confiar na vida do além à custa da vida presente ou confiar na
utopia de uma sociedade futura mediante a renúncia ao presente, nas duas
sacrifica-se o presente); de facto a ideologia do progresso socialista repete
de maneira invertida a matriz de esperança religiosa, substituindo a esperança
transcendente pela esperança imanente; esta
ideologia nega assim o presente, reduzindo-o a mero momento do processo revolucionário,
tornando-o instrumento alienatório. Se uns esperam num futuro depois da
morte os outros esperam num futuro depois do presente. Há que evitar tanto
preconceitos ideológicos como religiosos. Para tal seria oportuno apostarem uns
e outros num tempo qualitativo Cairos. Para isso a civilização ocidental teria
de entender melhor a fórmula trinitária como processo dinâmico (não a relegando
para a vida conventual) e não como algo estático que só pode desaguar no
dualismo de um tempo Cronos, um tempo só quantitativo porque fruto e expressão
da experiência materializante. Compreender a fórmula trinitária da realidade
(humano-divina) pressupõe a consciência do tempo e da realidade como processo,
num tempo Cairos de sentido qualitativo, um tempo eterno (transcendendo o
tempo), que é o tempo presente sem dimensão. Se fossemos introduzidos na vivência do tempo Cairos, adimensional
superaríamos a mentalidade dualista do verdadeiro e do falso, do certo e do
errado, da direita e da esquerda, do materialista e do espiritualista; então
deixaríamos de viver dependurados na corda do passado e do futuro própria do
tempo Cronos. Cairos é o tempo dinâmico-criativo, o tempo espiritual (processo) e
Cronos é o tempo estático medível e como tal materializado. (Somos seres espirituais
feitos de céu e terra, num processo inicial dinâmico de estado
sólido-líquido-gasoso e como tal com asas que nos possibilitam deixarmos de
confinar a nossa existência à qualidade de um viver de mexilhão fixado na
rocha.)
No estado da consciência social atual, aqueles, que
melhor se apossam do princípio bíblico – Palavra=in-formação=energia=Espírito -
não hesitando em abusar dele para os seus fins materialistas (de uma nova
sociedade a implantar), serão os que mais sucesso epocal terão, como já se vai
constatando na revolução da geração 68. De facto, a realidade divina, a
realidade inicial é Palavra, informação, isto é, processo = “in-formação”!
Infelizmente quem se apodera da energia in-formada e em formação formatando-a à
medida de formatos sociais ganha a dianteira superficial a nível do ter mas não
no processo de ser - diferença entre Cronos e Cairos)! (No governo do Covid-19,
se observamos as medidas dos governos com a atitude dos cidadãos, dá para
entender a dinâmica que se encontra por trás do poder de quem se assenhoreia da
palavra/informação como dado estático e isto independentemente da formação do
cidadão: a reacção ao medo e a consciência gerada manifestam-se transversais a
nível social embora muito longe do meio termo de ouro).
A estratégia socialista, na sua primeira fase (época da
industrialização), foi dedicar-se à
apropriação dos movimentos dos trabalhadores (proletariado da
industrialização) e agora (época da tecnologia e dos serviços) apodera-se dos meios de informação e do
movimento ambientalista de modo a legitimar-se através de uma consciência
que se quer ver adaptada e concretizada num eco-socialismo. Esta tem sido
também uma jogada inteligente da esquerda abrilista portuguesa,
internacionalmente bem planeada e depois executada no seu sentido com os
saneamentos de início efectuados a nível de docentes de universidades, escolas,
administração e dos jornalistas nos meios de comunicação social (o nosso Prémio
Nobel também se empenhou activamente neste sentido!). Na sociedade portuguesa
predomina uma visão esquerdista na maneira de observar e equacionar o dia-a-dia
social-político e económico (não haveria nada a dizer contra se ao mesmo tempo
houvesse uma verdadeira discussão intelectual controversa sobre a situação
vivida). No regime de Salazar não havia
espírito crítico e no regime de Abril também não o há. A esporádica crítica
que há não se encontra integrada no sistema, faz parte apenas de comentários
indesejáveis, mas sistemicamente úteis porque dão a impressão de nos encontrarmos
em verdadeira democracia. Ontem como hoje, à margem de alguns suspiros de
protestos, os governos atuam como se não houvesse povo e o que se nota em
marcha são hordas bem alinhadas do regime.
Como bem
conseguiram incutir no pensar politicamente correcto (mainstream) querem ver, de futuro, o ser humano reduzido
a produto da natureza bruta e de uma cultura desenraizada negando-lhe a
qualidade cristã para possibilitar a elaboração de um ser humano em função de. No sentido maçónico e muçulmano combatem a crença
num Deus pessoal que legitimaria a responsabilidade social e pessoal,
preferindo apostar apenas em energias (espécie de imanentismo) que justificam o
poder da energia (força) mais forte a aplicar-se na sociedade. Já outrora o
escritor Dotojewski alertava para o perigo modernista que queria acabar com
Deus e ameaçava a Rússia. Segundo ele a
consciência humana sem Deus deixaria de ter porteiro e consequentemente a chave
dela passaria para a política! Deus é o princípio criador e ordenador, num
processo inclusivo de conservar e inovar ao mesmo tempo; hoje dá-se ainda mais
importância ao princípio diabólico = princípio divisor interessado em destruir
(desordenar, desconstruir) a ordem natural e humana inicial.
Uma educação para a humanidade pressupõe o acento da
formação na dignidade humana individual e inalienável com caracter de
verticalidade e transversalidade e implica por isso, alteridade, tolerância e
respeito; respeito também pelo adversário; respeito por tudo o que é humano e
pela natureza! Não é lícito, em nome do indivíduo abstracto, ou de uma
sociedade abstrata, meramente funcional com funcionários e cidadãos funcionais,
subjugar tudo ao serviço da máquina estatal; nesse sentido, porém, as
estruturas de formação identitária são consideradas disfuncionais. A soberania
da consciência individual, a família, a religião, os partidos, os órgãos
constitucionais e o biótopo cultural são co-determinantes que em conjunto
delimitariam o bom funcionamento orgânico de um Estado. O reconhecimento da diversidade também assume mais relevância no
contexto da globalização e da internacionalização da economia e consequentes
efeitos migratórios.
O respeito que se
deve ao Estado e suas instituições pressupõe a reciprocidade de comportamento
do Estado para com as outras instituições (O ser humano, já
no nascimento, não subiste sem a família, sem comunidade; comunidade e
indivíduo são realidades complementares não podendo subsistir uma sem a outra e
menos ainda uma contra a outra.) As instituições (na qualidade de órgãos)
estão primeiramente chamadas a servir o indivíduo para que este subsista na
comunidade natural e social no seguimento de um sentido teleológico (a
necessidade cria o órgão!). O cidadão não pode tolerar que o Estado se
possa tornar cativo de qualquer elite económica ou ideológica. Na
árvore da instituição quer-se cada um em seu galho seja ele político,
ideológico ou económico.
Não é suficiente
colocar-se o problema da educação só num contexto político ou administrativo. O
necessário debate político levantaria muitas questões numa sociedade que embora
arrebanhada tem muitas mansões.
Numa sociedade em que a população cada vez tem mais a
impressão de não ser senhora da sua cultura e do seu país torna-se óbvio um
olhar crítico a todas as questões sensíveis relativas ao poder, às hegemonias e
aos novos dinossáurios globais. Não é legítimo combater o poder nem dogmatismos passados e abafar os que
atualmente se querem afirmar descaradamente enquanto se fala dos seus
antepassados. Um construto social de
categorias interdependentes pressupõe uma
perspectiva interdependente de cooperação institucional.
O primeiro
problema está na velocidade que se quer imprimir à imposição da mudança, uma
mudança não estrutural nem orgânica que se pretende ideológica e mecanicista! Quer-se reduzir o Estado a uma máquina de
produzir indivíduos clientes, consumidores funcionais numa sociedade a
funcionar desnaturadamente: por isso abaixo com a religião, com a nação,
com a família com a pessoa soberana! Uma sociedade sem pai parece ansiar agora
por um Estado autoritário que lhe ofereça segurança…
António da Cunha Duarte
Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=6155
(1) O vaticínio de
Nikita Khrushchev , Secretário-geral do PC, a 29 de setembro de 1959 na
sede das Nações Unidas: “... Os filhos
de seus filhos viverão sob o comunismo. Vocês, ocidentais, são tão crédulos que
não aceitarão o comunismo de uma vez, mas continuaremos a alimentá-los com
pequenas doses de socialismo até que você finalmente acorde e descubra que já
tem o comunismo para sempre. Não teremos que lutar com você. Ambos
enfraqueceremos sua economia até que caiam como frutos maduros em nossas mãos.
A democracia deixará de existir quando eles tirarem aqueles que estão dispostos
a trabalhar e entregarem aos que não estão. " Concluindo: O SOCIALISMO LEVA AO COMUNISMO