A GUERRILHA ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SECULO XXI - ENSAIO
Ensaio sobre a situação da Síria e do Iraque como expressão
da luta intercultural
Por António
Justo
No mundo contemporâneo, a violência
de motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a incompreensão
do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se colocados no
pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar motivos
de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar o seu
agir irracional.
Tornar o Islão compatível com outras culturas e religiões
Torna-se urgente uma reforma do
islão a partir do seu interior que possibilite a passagem da sociedade patriarcal
e medieval para a sociedade moderna onde o centro da realidade passa a
acontecer na pessoa e a expressão política se realiza numa forma de democracia
(comunidade) que possibilite a liberdade do indivíduo, de modo a que este faça
o que quer, desde que não incomode ninguém.
A confusão, que se observa a nível de teoria e no âmbito da acção da
sociedade islâmica, deve-se também à falta de separação nítida no Corão e nos
Ditos do profeta entre religião e violência, entre regra e extremismo, o que
impossibilita distinguir entre quem obedece à norma religiosa e quem não. Não se
tratará de rejeitar o islão, como fazem alguns intelectuais muçulmanos, mas de
o reformar com uma interpretação adaptada aos nossos tempos (reconhecendo muito
embora a dificuldade dado não haver sincronização do tempo em relação às
culturas). Tratar-se-ia de encontrar uma
definição e uma prática islâmica aberta e compatível com outras religiões e
culturas, com outros valores, outras constituições de estados e com a
modernidade na aplicação dos direitos humanos. Só uma atitude tolerante e
integrativa, respeitadora das religiões e do estado de direito, pode servir os
muçulmanos democráticos e livres bem como as outras culturas. O islão tem de
reconhecer a realidade natural da variedade e as leis da evolução, doutro modo,
ao fechar-se numa visão patriarcal, apressa a sua derrocada embora englobe muita
riqueza artística no mosaico das culturas.
O Terror jihadista islâmico é a Luta contra a própria Queda
Como se observa do mundo árabe ou
do mundo subjugado ao islão, onde não há ditadura ou regime autoritário,
abundam os movimentos extremistas que impedem a estabilidade interna. Por toda
a parte, onde se encontre um vazio regulamentar político, logo a frustração é
compensada religiosamente, através da violência e de mercenários cegos ao
serviço duma cultura do medo.
Toda a ideologia política ou
religiosa, que considere o seu ponto de vista como a única via correcta de vida,
desconhece a relação entre percepção (conceito) e realidade, vendo-se condenada a viver da guerrilha e a
fracassar, dado o desejo de liberdade inato ao Homem não poder ser ininterruptamente
oprimido, por um regime ou uma cultura, e, além do mais, num mundo chamado
a transformar-se numa aldeia de vizinhos. Também Maomé dizia: “o que não serve
o homem vai abaixo como uma onda no oceano”. Os tempos mudaram e com eles muda
o Homem e as circunstâncias, tudo é processo; quem não quer ficar sob as rodas
da História, tem que verificar o que então “servia” o homem e o que hoje já não
serve o Homem. Recorrer sistematicamente à violência para resolver problemas é
desumano e destrutivo.
O busílis muçulmano está no facto
de só admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus
registado no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do
Antigo Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta
dado não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou
(isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida
- Deus tornado livro - não integrando nela a revelação divina que se dá através
da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de
viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em
minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma
vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos “outros”,
aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de atitude de Maomé
quando passou de Meca para Medina e se pode observar na mudança de opinião de
Deus nas Suras - tolerantes do Corão escritas em Meca e nas escritas em Medina –
Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa monocultura por imposição. O
exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que suporta o islão também não deixa
viver em paz as confissões islâmicas sunitas (cerca de 80% dos muçulmanos no
mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo modo os correspondentes
subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo, os salafitas,
etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.
A “Casa da Submissão” a Alá e a “Casa da Guerra”
A falta de honestidade ética, identifica
o islão como religião da paz mas não esclarece que entende por paz a sua paz
muçulmana (a paz da Umma) e mesmo assim guerreiam-se uns aos outros. O
Evangelho já avisava: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá” (Mt 26:52).
Naturalmente a esmagadora parte dos muçulmanos é inocente e não conhece sequer
a filosofia ambivalente do Corão ou dos que o aplicam ou utilizam.
Ao contrário do Ocidente que
acentua o ideário da pluralidade de nações como factores de identificação e de
identidade (sociedade aberta), a
civilização árabe tende, duma maneira geral, a identificar nação (a nação árabe
ou muçulmana) com a religião, o que cria problemas com as culturas que incorpora
(como sociedade fechada). Na falta
de uma consciência nacional tão diferenciada acentua a consciência da Umma (a
comunidade dos crentes muçulmanos) que os distingue doutras pessoas: ‘a casa do
islão’ = “Dar ul-Islam” em contraposição com a ‘casa da guerra’ = “Dar ul-Harb”).
Divididos entre o desejo de autodeterminação (individualidade) e comunidade
abdicam da individualidade que colocam incondicionalmente ao serviço de um
grupo (ex. os mártires assassinos, semelhantes aos Kamikazes - "vento
divino" japoneses), que tenta democratizar a violência. A Umma tem a
vantagem de dar consciência a uma massa que, doutro modo, andaria à deriva e
apresenta-se como contrapeso à (comunidade) sociedade ocidental que, talvez
peque pelo outro extremo e se esvai no indivíduo. Líderes muçulmanos parecem
apostar num deus guerreiro e na religião como tecto cultural, enquanto líderes ocidentais
parecem apostar nas armas, na economia e na democracia como tecto cultural.
A fortaleza e a fraqueza do mundo
islâmico parecem vir-lhe do aspecto confuso que não permite localizar concretamente
os conflitos.
Também nos países de imigração de
muçulmanos, estes sobressaem pela reivindicação dos próprios direitos em
contraposição aos da sociedade acolhedora. Procuram organizar uma justiça paralela
ou alcançar nos sistemas judiciais dos países de imigração, contrapartidas de cunho
religioso conseguindo penas mais leves para delitos provindos de casamentos
forçados ou de violência do homem para com a mulher (aqui o direito penal entra
em conflito com a Constituição que defende a integridade corporal e a liberdade
individual e a lei islâmica passa sobrepor-se à lei do Estado; tal
comportamento dificulta a integração, encoraja o gueto e até a conversão para
homens que queiram ter mais direitos em relação à mulher). Exigem tribunais
próprios para arbitragem de litígios entre eles estabilizando assim a vida social
paralela de gueto e uma justiça paralela. O problema não está nas exigências nem
na diferenciação mas no facto de se criarem espaços vazios do direito em que se
desfavorece o direito individual para se favorecer o direito cultural
religioso.
Muitos organizam manifestações
públicas contra Israel e contra a proibição do lenço mas não protestam
publicamente contra os correligionários que usam a sua religião para fins
terroristas (sentem-se depressa numa situação de vítimas e de coitadinhos,
porque ‘de-finem’ a sua identidade pela religião e em contraposição aos que
vive fora dos seus muros). Isto é compreensível a nível individual e
psicologicamente mas a nível social torna-se conflituoso.
Na Alemanha, Wupertal, grupos
Salafistas não se comportam em conformidade com a lei e já se manifestam como
“Scharia Police” para controlarem lugares públicos frequentados por muçulmanos.
Os salafistas, um movimento
extremista financiado especialmente pela Arábia Saudita, e espalhado por todo o
mundo, tem uma mundivisão simples com um sistema de pensar só a preto e branco.
Têm aceitação entre os povos carentes porque também prestam auxílio com
projectos caritativos em nichos que os Estados não cobrem. Na Europa, segundo
uma investigação, dirigem-se a grupos marginais e com pouca formação cultural,
onde recrutam os seus seguidores que “com prazer são enviados para ataques
suicidas, porque não são bons para mais nada”.
Torna-se anacrónico que, em
países desenvolvidos, a polícia estatal, tenha medo de entrar em certos
bairros. O vigilantismo familiar e grupal tem tradição na “vergonha da honra
familiar” que se sente ultrajada por costumes diferentes dos seus. Na Alemanha ainda
não houve ataques terroristas concretizados porque o país tem um sistema de
organização muito efectivo que trabalha silenciosamente e de modo preventivo.
Por isso o Governo alemão determinou a 12.09.2014 que, a partir de agora, ficam
proibidos os símbolos da milícia terrorista IS, como seja, a Bandeira,
qualquer participação na IS, propaganda na Internet ou nas manifestações,
recrutamento de combatentes, trazer símbolos ou recolher ofertas. Na Alemanha
os salafistas são o grupo extremista talvez mais organizado, dedicando-se ao
recrutamento e autoafirmação saindo do seu meio jihadistas que lutam especialmente
no Médio Oriente.
Na Europa a economia e a política têm agido irresponsavelmente no que toca
à defesa do povo e do cidadão pelo facto de não se preocupar com a comunidade;
reduz o ser humano a uma força de trabalho em conivência com o sistema árabe
que o reduz a força religiosa. Grande parte do povo, nas grandes
cidades já tem medo de se movimentar em certos bairros. Com a cumplicidade
política e dos governantes, que olham de longe o problema, sem se preocuparem
com estratégias de reciprocidade, criam-se os pressupostos para a organização
de bandos como acontece em favelas. A
situação precária de tais grupos torna-se mais complicada ainda porque além dos
muros da pobreza tem o muro da religião, o que dificulta uma solidariedade
isenta.
O Caos da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das
Armas e do Sexo
No Iraque, tal como na Síria, há
um enredo de interesses disputados por sunitas, xiitas, curdos, americanos,
russos, turcos, Kuwait, Catar, irão e Arábia Saudita, que se podem resumir como
guerra intercultural e económica. “O terror islâmico é executado na linha de
distinção entre sunitas e xiitas”, constata Gilles Kepel; esta linha, à maneira das cidades muralhadas medievais,
assenta na mundivisão de demarcação mural, entre o nós e os outros e na
estratégia de autoafirmação pela contraposição em relação aos de fora.
O movimento terrorista IS (Estado
Islâmico ou Califado), presente na Síria, é contra os xiitas iranianos que
apoiam o presidente alevita Bashar al-Assad, (alevitas são 10% da população
síria). A guerra civil já provocou
160.000 vítimas, encontrando-se 9 milhões de sírios em fuga.
A milícia IS intervém agora no Iraque
com 17.000 combatentes e conta com o apoio activo das tribos sunitas. O movimento
IS e os salafistas, em geral comportam-se como os seus antepassados da Idade Média.
Pretendem instalar um reino de terror religioso (Estado Islâmico) numa zona de
muito petróleo que lhes conferiria grande poder económico e estratégico em
relação aos xiitas do Irão e a Israel. Querem voltar aos princípios do Islão
não suportando a seu lado crentes doutra fé nem tão-pouco correligionários
muçulmanos moderados. Movidos pela energia criminosa dos talibans do
Afeganistão pretendem fazer do Iraque e da Síria um novo Afeganistão. No Iraque, antiga mesopotâmia, babilónia,
repete-se o drama dos tempos bíblicos.
Quando o movimento IS actuava só
na Síria o fogo cruzado dos meios de comunicação ocidental apelava ingenuamente
à necessidade de apoio destes bárbaros assassinos que serviam os interesses da
dupla moral ocidental. Agora, no Iraque junta-se a causa das refinarias e dos
poços de petróleo!...
A solidariedade muçulmana
internacional consegue mobilizar milícias desestabilizadoras de governos e
regiões. Provêem especialmente da Arábia Saudita, da Tunísia e mantêm na Síria
4.000 prisioneiros entre os quais 20 americanos e europeus. Só da Alemanha já
se encontram 400 combatentes islâmicos no tereno.
A utilização da religião e da mulher para fins patriarcalistas
Ultimamente, pregadores
jihadistas (defensores da guerra santa) conseguiram mobilizar mulheres
tunesinas em serviço da jihad sexual na Síria; isto é, estas jovens/mulheres a
partir dos 13 anos disponibilizam o seu corpo aos guerrilheiros na Síria
motivando os guerreiros de Alá e ganhando o paraíso com a sua contribuição. A Tunísia tornou público o Jihad sexual na Síria
revelando que as voluntárias chegam a ter “relações sexuais com 20, 30… até 100
jihadistas”, como confirma o ministro do Interior da Tunísia, Lofti Ben
Jedu, ao reconhecer o retorno de mulheres grávidas. Nas Palavras do Profeta,
são prometidas, como prémio a cada mártir do islão, 72 virgens acompanhadas de
70 amas o que corresponde a 5.040 mulheres por mártir. Também por isso não
faltam os jhiadistas prontos a sacrificar-se pela religião. Entretanto também
há mulheres jhiadistas; qual será o prémio receberão delas?)
A "guerra santa do
sexo" (jihad al nikah) é considerada legítima por líderes salafistas que pretendem
voltar às origens; as interessadas contornam a prostituição na medida em que,
ad hoc, se declaram casadas por um dia com quem partilham os serviços sexuais. Golda
Meir queixava-se referindo-se ao terrorismo e aos pais que o fomentam: “Só haverá paz nesta região, quando os pais
amarem mais os filhos do que odeiam os seus inimigos”.
Também os nazis para expansão da
raça ariana criaram a instituição “fonte da vida” como programa destinado a
promover a higiene da raça onde mulheres gestavam anonimamente um filho para
Hitler; contribuíam, deste modo, para criar uma "raça líder racialmente
pura”. Esta estratégia pretendia também criar mais combatentes e aproveitar
também a mulher para o serviço à guerra e à ideologia.
A utilização da religião e da
mulher para fins patriarcalistas e imperialistas é comum no fascismo e defendida
até por políticos moderados como Recep Tayyip Erdogan, actual presidente da
Turquia. Quando ainda primeiro-ministro apelou aos 3 milhões de turcos
residentes na Alemanha, num discurso em Colónia (24.05.2014): “Vós não deveis
assumir nenhum compromisso em questões do vosso idioma, da vossa religião e da
vossa cultura”, recomendando também que reivindicassem postos na política e na administração.
A 22 de setembro de 2004 o periódico "Die Welt" cita Erdogan que, quer
que o seu país entre na EU e numa campanha eleitoral, a 6.10.1997 confessou: "A democracia é apenas o comboio, ao
qual subimos até alcançarmos o objectivo. As mesquitas são os nossos
quartéis, os minaretes as nossas baionetas, as cúpulas os capacetes e os
crentes os nossos soldados”. Se parceiros modernizadores falam assim que se
pode esperar dos tribunos do povo?
Religião ainda continua a ser para muitos uma
palavra mágica que desobriga a razão e paralisa até o cérebro de juristas e de pessoas
de boa vontade.
A Fronteira da Discórdia
Dá que pensar o facto de não ser
a UNO nem a Liga Árabe a encarar o problema com responsabilidade; todos esperam
pela intervenção dos USA e pelo apoio armado do ocidente. Não é lógico serem os
USA a intervir no Iraque, quando a missão da paz deveria ser uma tarefa de
todas as nações representadas na ONU. O problema é que os estados islâmicos são
incapazes, por si sós de conter o terrorismo e o mundo ocidental livre também
não resolve o problema lançando algumas bombas no Iraque ou na Síria.
Na guerra civil da Síria e nos campos de luta dos “guerreiros de Alá”, o argumento moral não tem aplicação, dado os
grupos adversários usarem de força extrema e brutal, proveniente tanto dos
fundamentalistas como do governo. A
Síria era um país muito culto e multicultural e, como tal, um argueiro no olho
dos fanáticos sunitas e xiitas.
Uma cultura que legitime a
violência e a exploração sistemática só poderá manter a ordem social mediante
governos autoritários ou ditadores. Uma estratégia de paz, a longo prazo,
deveria passar pelo apoio aos muçulmanos moderados. Torna-se urgente criar uma
geração nova que lide de maneira madura com a religião.
A fronteira da discórdia encontra-se entre os possuidores da verdade e os
da liberdade, entre a energia religiosa e a energia económica, entre uma
sociedade islâmica que se encontra na Idade Média e o modernismo ocidental. O mundo
muçulmano encontra-se em luta contra duas frontes: o mundo moderno e a luta
inter-religiosa entre sunitas e xiitas, como acontecia no século XVI entre protestantes
e católicos, entre o norte e o sul. Têm como aliados o petróleo e a apatia
cultural e religiosa do Ocidente que vive da ilusão de que o jihadismo se deixa
abafar com o dinheiro. O preço que o Ocidente pagará pelo seu oportunismo do
momento e pela consequente emigração, em consequência da guerra, será a instabilidade
social, a longo prazo, na Europa.
O problema de muitos estados
islâmicos, como no caso da Arábia Saudita, está no facto da sua estabilidade
política (também contra as rivalidade correligionárias, entre sociedade árabe e
persa) depender da aliança com o grande aliado USA e, por outro lado, não o suportar
no âmbito cultural; concretamente por ser uma civilização dividida que não
suporta um denominador comum.
A táctica da guerrilha tem sido uma constante islâmica no seu processo de
expansão e de colonização interna (conflito internos) numa permanente
estratégia de desestabilização. A sua fronte contra o Ocidente e as
lutas entre xiitas-sunitas, árabes-Irão, Turquia-Curdos (Curdistão)
enfraquece-os, mas, por outro lado, são encorajados pela tradição e tática do
profeta Maomé que queria construir um Estado islâmico sobre as ruinas de outro
(Meca) numa guerra eterna contra os infiéis (incrédulos).
Na colonização interna da Europa
a luta dava-se entre adversários pequenos e grandes mais ou menos iguais que,
mais tarde, teve como resultado a formação de países estáveis; hoje a colonização interna nos países
muçulmanos torna-se impossível e deste modo também se impede a formação de
sociedades equilibradas porque os mais fortes não conseguem apaziguar a
rebeldia de descontentes, por não terem força interna suficiente e se
encontrarem condicionados à acção das potências externas que ora apoiam uns ora
apoiam outros. Assim na formação do Ocidente houve guerras que apesar de tudo
conduziram à paz e na civilização árabe mantem-se a contínua guerrilha. (Também
a existência de Israel é uma permanente afronta à hegemonia muçulmana e a
colaboração de governos muçulmanos moderados com o Ocidente legitima a
subversão que vive da ambivalência entre o objectivo hegemónico final e as
circunstâncias políticas).
A guerrilha é financiada pela
CIA, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, etc. Os cavaleiros suicidas de Maomé sentem-se
obrigados à antropologia e sociologia árabe que se expressa no islão que define
o ser humano unicamente pela pertença ao grupo religioso e não dá lugar à
separação entre poder temporal e espiritual. Ao reconhecer apenas o grupo,
exclui antropologicamente qualquer desenvolvimento emancipatório preocupado com
o bem do indivíduo e exclui o desenvolvimento sociológico pelo facto de apenas
aceitar uma sociologia de caracter islâmico que se impõe às outras.
Ataturk tentou modernizar o islão
da Turquia mediante a construção de uma sociedade civil/secular defendida pelo
poder militar; apesar da secularização da Turquia, na realidade, no século XX,
os cristãos passaram de 25% para 0,2% da população turca, continuando ainda a
ser discriminados. Se isto acontece hoje na moderna Turquia de Erdogan, que se
pode esperar do islamismo doutras regiões muçulmanas que olham de olhos vesgos para
a sociedade turca por a considerarem demasiado ocidental e como tal já não ortodoxa?
Só o acordar para um movimento ecuménico das religiões em que se passe do
combate dos direitos culturais para os direitos naturais no convívio de uma ecologia
universal poderá evitar um confronto bárbaro das culturas.
O Islão vive dum paradoxo que lhe dá perenidade
A discussão em torno do islão
continua a ser falsa e hipócrita da parte islâmica e da parte ocidental, não
lhe dando assim a oportunidade de saírem da Idade Média. Como a consciência
individual é absorvida pela de grupo, na sociedade islâmica não se processa a
reforma e contra reforma, nem o iluminismo como aconteceu na sociedade cristã;
dão-se insurreições religiosas sob a capa do conservadorismo mas apenas
motivadas por hegemonia e rivalidades de poderes. A sociedade muçulmana prefere viver no e do paradoxo
(afirmação-negação) sem integrar no seu pensamento o crivo da dúvida; a dúvida
foi o motor de desenvolvimento da civilização judaico-cristã (afirmação-negação-dúvida),
o que contrasta com outras culturas. O mundo árabe, ao reduzir o discurso à
dinâmica verdade-falso, simplifica a vida, tornando-se atractiva para pessoas
de pensamento indiferenciado, deixando-a nas mãos do mais forte, como acontece na
relação homem-mulher. Como na História a razão fica do lado do mais forte,
sentem-se sempre com razão ao empregar a força como meio de atingir objectivos.
Este sistema favorece assim o género
masculino e as elites que se afirmam através do poder, o que leva uns e
outros a sentirem-se reconhecidos perante um islão legitimador da força e como
tal com perspectivas de perenidade porque se revigora externamente através de
caudilhos emergentes, de mentalidade adolescente. O Ocidente, também ele eivado
de poder, mas um pouco inseguro devido à idade e à filosofia cristã, evita uma
discussão séria com as sociedades islâmicas porque mais que no desenvolvimento
do islão e da paz no mundo, está oportunisticamente interessado no seu petróleo
e riquezas. Menospreza porém a presença muçulmana nas grandes empresas através
de acções e da imigração de cultura árabe para as suas cidades. Como o
interesse do ocidente é meramente económico deixa os imigrados em estado
carente, o que os fortalece nas suas tendências de se fecharem em guetos. A
falta da plataforma dos direitos humanos leva-o a desinteressar-se por uma
relação social de reciprocidade e complementaridade: um exemplo da aceitação da
afirmação paradoxal islâmica pelo ocidente revela-se no facto de aceitar o
financiamento de mesquitas pela Arábia Saudita nos seus países quando nela não
existe liberdade religiosa; o mesmo acontece em relação à Turquia que impede o
exercício religioso não islâmico querendo até transformar o templo cristão Agia
Sofia numa mesquita. A realidade parece acontecer por trás dos véus da teoria e
da prática.
“O Islão, funciona como uma máquina do tempo reacionário”
A fundação de um califado, através da guerra
santa, encontra justificação no Corão e dirige-se contra as aspirações
seculares de fundação de Estados civis sem regulamentação religiosa à maneira
dos estados ocidentais.
Toda a insurreição social, onde se encontra uma certa percentagem de
prosélitos maometanos, é organizada em nome do islão (Corão, ditos do profeta e
sharia). A emancipação organiza-se normalmente em termos políticos/religiosos e
não em termos de indivíduos nem de direitos humanos. A Irmandade
islâmica (organização para o „regresso ao islão”), Al Qaida (“a base”,
organização terrorista mais conhecida), IS (ou ISIS é uma suborganizarão de Al
Qaida no Iraque e na Síria), salafistas actuais (fundamentalismo interpretativo
do Corão como o wahhabismo da Arábia Saudita também em marcha na Europa), Hamas
(extremistas contra o poder secular, apoiados pelo Irão que é xiita, pretende a
aniquilação de Israel), Hezbollah (“partido de Deus” movimento armado xiita no
Líbano – é um estado no estado), e várias variantes com expressão própria em
acção na África, na Rússia, na China e na Ásia em geral.
África refém de extremismos
A instabilidade política e social
da África torna-se fácil presa para grupos islamitas como o Boko Haram na
Nigéria. Contra a educação secular recorre ao genocídio destruindo um
ecumenismo de coexistência pacífica que a partir da revolução islâmica iraniana
começou a ser sistematicamente destruído através do terrorismo intercultural e
sem fronteiras. A Nigéria, país rico em minerais, com 180 milhões de
habitantes, com 250 grupos étnicos (com tendência a afirmação de direitos
tribais ou religiosos), com quinhentas línguas e sem história comum é o exemplo
acabado de uma África mosaico que, a partir da conferência de Berlim, foi
obrigada a seguir padrões e fronteiras marcadas à régua e chamada a seguir os
modelo hegemonias de história ocidental e muçulmana. Consequentemente por toda
a parte se encontram ruinas sobre as quais, surgem racismos do desespero e de
complexos.
O grupo jihadista sunita “Boko
Haram” (="livros são pecado", "a educação ocidental proibida“,
„educação moderna é um pecado"), empenha – se (=jihad) no sentido da
tradição de Maomé e da Guerra santa com atentados à bomba e com a escravatura. O
seu chefe Abubakar Shekau apela: “matai, matai; esta é uma guerra santa contra os cristãos”; entretanto já matou
mais de 5.000 pessoas. Tendo em conta a sua visão de sociedade torna-se natural
o rapto das 287 meninas diplomadas do ensino médio, para as vender. O movimento
“Boko Haram” tem ligação com o Al Qaida e com a milícia Al-Schabaab da Somália.
O conteúdo dos conflitos actuais
assenta no desfasamento histórico beneficiador do ocidente e na religião
islâmica que, pela sua simplicidade, se torna atractiva para as massas e produz
líderes que tiram do caos imensa vitalidade. Por outro lado a massa pobre não
tem nada a perder e a luta torna-se numa oportunidade de que esperam tirar
algum proveito.
Os grupos jihadistas são
defensores da teocracia contra a democracia e contra tudo o que não seja
islâmico. O ocidente tira conclusões enganosas, distraído por uma lógica
democrática interesseira que desconhece a filosofia e a coerência profunda
islâmica (terrorismo santo ancorado na fantasia do povo e na tradição)
distraída pelos conflitos interinos dos diversos grupos e pela desculpa do
islamismo político pretendendo ignorar que o Islão é sempre político e que os cavaleiros de Maomé se encontram já
desde a sua fundação numa tradição de victória sobre impérios, Sassânidas,
Império Bizantino, União soviética no Afeganistão, 11 de Setembro que levou
Busch a favorecer os xiitas do Iraque para castigar a Arábia saudita de
confissão sunita (fornecedora dos terroristas) e a intervir no Iraque para
assegurar o seu petróleo ao ocidente. Nesta lógica os inimigos de hoje são os
amigos de amanhã e vice-versa. Os USA terão de deixar de fomentar uma política
de desestabilização das forças muçulmanas entre elas. Uma aliança contra o
Califado só pode ter solução com o comprometimento do Irão que sairia,
naturalmente, mais forte do conflito e com exigências para continuar o seu
programa atómico, que a Turquia sunita e a Arábia Saudita não quererão. É
natural que o Irão tenha medo do IS e que a solução para o Iraque só seja
possível com o apoio do Irão e com a avizinhação do ocidente e do Irão. Talvez
então se possibilitasse o caminho do Irão para a Pérsia no sentido desta se
tornar uma potência regional reconhecida!... Para isso o ocidente terá de
acabar com o embargo contra o Irão (Nos últimos dois anos o Irão viu reduzidas
as suas exportações de óleo de 118 para 56 bilhões, devido ao embargo). Então seria
de esperar que acontecesse com o Irão o que aconteceu com a China. O demasiado
compromisso do Ocidente com o sunismo turco e da arábia Saudita tem impedido o
desenvolvimento das forças naturais que regularão o Médio Oriente. Agora que o
Irão também se vê ameaçado seria uma oportunidade.
A Turquia é país de passagem do
terrorismo sunita… A emissora al Dschasira é apoiada pela Turquia e Katar.
Interessante verificar-se que agora também a Arábia Saudita se sente obrigada a
apoiar agora o governo egípcio com 13 bilhões de dólares, na esperança do poder
militar meter a irmandade islâmica na ordem porque ameaça desestabilizar os
poderes estabelecidos e toda a região. Os xiitas continuam a queixar-se da
arábia saudita apoiar o IS que confessa o salafismo da arábia saudita. A
avalanche da violência é de tal ordem que até os países apoiantes do terrorismo
começam a recear tornar-se vítimas dos seus aliados. Isto pode ajudar à
formação mais alargada de países contra o terrorismo.
Atendendo à filosofia seguida por
muçulmanos e ocidentais a intervenção que se revela como necessária no Iraque,
se não envolver as potências da região terá o mesmo resultado da do Iraque de
Sadam Hussein e do Afeganistão; contribuirá talvez para a divisão do Iraque e
será mais um passo na formação do Curdistão (aspiração também ela justa). Já
Theodore N. Vail dizia: “Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as
imaginárias são insuperáveis."
Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga
o Corão?
Quando se pensa em religião
pensa-se que não foram feitas para legitimar a guerra e como o Islão é uma
religião deveria naturalmente tentar impedi-la. A vida dos fundadores tem imensa influência na vida dos crentes e da
sociedade. O profeta Maomé caracteriza-se como guerreiro e fundador do
estado árabe; teve o valor de dar união às tribos bárbaras e domar muitos dos costumes
rudes da região. Com as implacáveis suras do Corão contra os “incrédulos”
legitima a violência. Sura 9:5: “Matai os adoradores de ídolos, os Trinitários
(os cristãos) onde quer que os encontrardes, apoderai-vos deles e espiai-os em
cada emboscada ". Os muçulmanos extremistas servem-se da mesma fonte que
os moderados para as suas acções na intenção de atingir o seu objectivo (Suras
8:38; 9:73; 5:33).
Os terroristas islâmicos atingem dois objectivos: a formação do Estado
Islâmico radical (califado), e o fomento de comunidades muçulmanas no mundo
através dos muçulmanos refugiados. É sintomático o facto de os
refugiados da guerra do Iraque, da Síria e do Líbano se dirigirem para a Europa
quando os Emirados ricos e a Arábia Saudita teriam maior obrigação de os
receber. Naturalmente que a Europa, especialmente os países que enriquecem à
custa das armas, que vendem naqueles países, têm também obrigação de os
receber. O problema só surge com a formação de guetos em oposição à integração.
Islão é um "modo de vida" e
significa "submissão (a Alá) ". Isto constitui o motivo dos
terroristas para a fundação do Califado islâmico (IS). IS, movido por um deus guerreiro,
luta por um império islâmico que vá do Irão ao Egipto. Muitos dos combatentes
do IS são recrutados na Europa também entre convertidos, o que tornará a Europa
cada vez mais frágil.
Frank A. Meyer in “religião
totalitária” de Cicero N°.08 escreve: “A civilização moderna, denota, uma
sociedade livre da cultura judaico-cristã. O
Islão, funciona como uma máquina do tempo reacionária.” Já o imperador
bizantino, Manuel II preocupado com a situação de então dizia: "Mostre-me
o que Maomé trouxe de novo, e aí encontrará apenas coisas más e desumanas, tais
como esta, em que prescreveu, espalhar a
fé que pregava através da espada". O islão, para poder receber o
atributo de religião da paz tem de contradizer o que a História parece
confirmar (religião da guerra). Os países islâmicos parecem tornar-se em alfobres
de fanatismo, incapazes de passar da Idade Média, desde a humilhação da mulher
até ao massacre de irmãos da fé e de outros crentes. Uma fé pacífica não
poderia, nos tempos modernos, produzir tais botões, não podendo desculpar-se
pelo facto de exercer o controlo total sobre a vida pessoal e civil. Os cristãos também tiveram guerras bárbaras
entre si e contra outros mas com a pequena diferença que as não podiam
fundamentar em nome da filosofia do Evangelho nem no exemplo de Jesus.
Toda a ideologia, religião ou instituição que se considere dona/senhora da
verdade torna-se numa grande prisão da humanidade. Deus criou o
homem para a liberdade e consequentemente para a autonomia, doutro modo
tê-lo-ia criado perfeito. Um exemplo da submissão pode ver-se em estados
autoritários, nos atentados suicidas, na burca ou chador. Quem se julgue na
posse da verdade nega a liberdade e a realidade da natureza que se desenvolve
pela diferenciação integral num processo de tentativa e experimentação. Uma
religião que não permita o desenvolvimento secular torna-se num fascismo
fomentador de déspotas religiosos sem respeito pelo outro. Os que se consideram
senhores da verdade e “no reino da verdade” sentem-se na certeza negando a vida
bem como a dúvida e a experiência que seriam os verdadeiros promotores do
progresso; ignoram que a pessoa humana é viva e não reduzível a um conceito
empedernido ou a uma definição.
Uma religião não pode colocar a
violência a saldo; não pode reduzir a paz a um direito a ser determinado por
alguns; não pode reconhecer nela o poder e a violência como meio de solucionar
controvérsias. Os terroristas fundamentam o seu agir no Corão e os muçulmanos
moderados aceitam-nos com o argumento de haver diferentes perspectivas e
possíveis interpretações (paradoxo). Mesmo associações islâmicas moderadas quando se manifestam publicamente
contra os assassínios do IS fazem-no misturando o protesto com algo contra o
país onde se encontram, o que deixa espaço para a duplicidade. A ideologia
islâmica encontra os seus multiplicadores em muitas mesquitas às sextas-feiras.
Os intelectuais ocidentais que se ocupam da política também pecam por
duplicidade e por empregar duas medidas: críticos contra o cristianismo e
complacentes ou cúmplices quanto ao islão. Naturalmente, a esmagadora maioria
dos muçulmanos é pacífica por natureza sem necessidade de fundamentos para a
bondade nem para a maldade.
Geralmente situam-se entre o sentimento de humilhação e dominação mundial,
uma característica comum aos fascismos que cultivam o ódio e o ressentimento.
Precisam de vítimas e mártires na procura de inimigos internos (forças
seculares ou outras religiões) e externos (o mundo da guerra). Deste modo só
eles podem saber, quem são os assassinos certos e quem os falsos, dado o
critério de valor e de juízo depender do lado do muro em que se aqueles se
encontram. Os salafistas, que são contra a democracia e defendem a instalação
de um estado de Alá (teocracia) e os acoites corporais e a sharia fazem
livremente propaganda pelo seu plano, distribuindo o Corão gratuitamente nas
ruas das cidades europeias. A tolerância dos fartos é cúmplice sendo também ela
responsável pela intolerância que fomentam ao não dialogar a sério com os estrangeiros.
“O Corão é o livro mais forte que
impede as pessoas de pensar… quem pensar de forma crítica sobre o Islão, põe a
sua vida em perigo” demonstra o muçulmano Hamed Abbdel-Samad, em seus
livros. O Corão só é tomado a sério para o que interessa, apesar de cada
muçulmano trazer em cada ombro um anjo que anota tudo o que ele faz e um Deus
que castiga sem ser questionado e não deixa viver em paz quem não segue o
Corão. Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão? Não foi o mesmo Deus que achou agrado em
toda a criação? O problema não está em Deus mas sim numa doutrina que
precisa de renovação e adaptação ao desenvolvimento da consciência individual
esclarecida, reconhecendo que a natura consta dos mais variados biótopos e do
mesmo modo a humanidade com os seus culturotopos. A vida do cidadão não pode
ser condicionada ao horizonte da tenda nem da tribo, nem tão-pouco do império.
O mundo árabe não pode viver a marcar passo, tendo também ele contribuído para
o desenvolvimento da ciência; seria irracional continuar a viver num antigo
testamento retrógrado aprisionador da pessoa humana, não reconhecendo os seus
ideais nem uma consciência individual própria às pessoas. Dos 27 estados
pertencentes à Conferência islâmica, nenhum está livre do islamismo. Onde se
encontram os pacifistas muçulmanos a distanciar-se e a protestar nas ruas
contra as barbaridades terroristas de seus correligionários que os põem em má
luz? Será que a violência e o poder muçulmanos são sagrados e têm de se
refugiar num jogo hipócrita das escondidas, com as contradições do Corão?
Torna-se urgente o surgimento de um movimento protestante no seio do xiismo e
do sunismo para se contrariar o estrebucho do dragão e se entrar nos novos
tempos do ecumenismo das religiões.
Resumindo
Quer queiramos quer não, islão,
guerra e terror parecem pertencer ao mesmo contexto (Há que ultrapassar este
contexto!). Pelo que se observa a nível internacional nenhum país, onde se
encontrem grupos de muçulmanos politicamente organizados, se encontra seguro
quanto à paz social e até, quando se organizam em maiorias, quanto à
integridade das suas fronteiras, dado, como diz o politólogo Hamed Abdel-Samad,
“onde ele actue politicamente é fascista”… “Eles desumanizam os seus
adversários, negam-lhe o direito de existir e tomam em conta a sua destruição
total”… “no mundo desta gente não se luta pela vida, vive-se para lutar”… Na
altura em que o caricaturista dinamarquês desenhou Maomé com uma bomba no
turbante, o mundo islâmico levantou-se por toda a parte contra ele e contra o
ocidente, chegando a haver mesmo mortes; agora que o IS assassina em nome do
Islão, o mundo islâmico, pelo mundo fora, “não se sente denegrido nem
ofendido”. “O que o autêntico islão é, vemo-lo precisamente no Iraque e na Síria”
(in HNA 19.09.2014). “Todas as associações salafistas têm que ser proibidas,
para lhes dificultar o acesso de jovens muçulmanos… pois vão para criminosos
quando vão para eles”.
É uma utopia pretender
disciplinar o Islão a partir de fora, dado possuir uma doutrina absolutista
que, por um lado, exclui a diferenciação e, por outro, fortalece as forças
caóticas da base. Ao não ser estruturado (sem organigrama institucional
conciso), aposta nas forças caóticas e revolucionárias da circunstância que lhe
dão a sustentabilidade histórica necessária para lá do país concreto; diria
que, na sua forma original, se poderia talvez etiquetar de uma forma de
fascismo socialista adequada à base tribal das suas origens árabes e, neste
sentido, expressa-se de modo ad hoc, vivendo do paradoxo, a nível intelectual e
filosófico ajudado por uma jurisprudência casuística. O ocidente, com uma outra doutrina e socialização, não entende o mundo
muçulmano nem o mundo muçulmano entende o ocidente. O mesmo se dá,
generalizando, entre a espiritualidade ocidental e a da Índia. O papel da dúvida metódica no pensamento
ocidental como alavanca do progresso contrapõe-se ao papel do paradoxo da
cultura árabe como pretexto do pensamento para ser mantido o status quo, o
retrocesso na contradição. Interessante que no momento em que Maomé deixou
Meca para se estabelecer em Medina, Deus mudou de ideia. As Suras suaves do
Corão reveladas em Meca passam a ser contraditas pelas revelações de Medina:
aqui se encontra a génese do paradoxo árabe. Este facto poderia ser aproveitado
pelos eruditos islâmicos para possibilitarem uma teologia interpretativa
adequada aos tempos, doutro modo manterão a espiritualidade sujeita à jurisprudência.
Em vez de acentuarem as suras agressivas de Medina podiam desenvolver a
espiritualidade no sentido das Suras mais pacíficas de Meca.
As aspirações hegemônicas árabes,
iranianas, turcas são difíceis de concretizar numa doutrina comum, de si
hegemónica, mas que deixa a organização e a estratégia de aplicação dos seus
objectivos a movimentos e caudilhos locais, mantendo-se ancorada no sistema
patriarcal.
Na primavera árabe do norte de África (2011), os grupos
fanáticos juntam-se aos rebeldes sedentos de mudança (a geração Facebook) e
acabam por vencê-los. Também em 1978, Aiatola Khomeini se uniu aos comunistas
revoltosos contra o Shah Reza Pahlavi da então Pérsia (Irão) conseguindo, com o
apoio deles, instalar a teocracia islâmica. A partir da revolução do Irão, o terrorismo internacional ganhou
terreno, a passos largos.
A guerra do Iraque contra Irão
era uma guerra entre sunitas (primeiramente apoiados pela USA) e xiitas – os
USA intervieram contra Sadam Hussein e ao saírem instala-se um regime pior que
o anterior; no Afeganistão sunita (equipado pela CIA e financiado pelas
monarquias árabes sunitas) dá-se a guerra contra comunistas (União Soviética)
que se retiraram em 1989. O radicalismo sunita é financiado por uns e o
radicalismo xiita por outros. Os USA, a Rússia e outras potências servem-se das
lutas internas entre os diferentes interesses muçulmanos para se assegurarem do
petróleo e fomentarem a indústria bélica e depois do conflito ganharem com a
reconstrução.
A opinião pública e publicada,
subestima a realidade islâmica que
pressupõe governos autoritários ou déspotas que possibilitem estabilidade que
possibilite o desenvolvimento económico e cultural para poderem um dia
viabilizar a formação de uma sociedade civil avançada. Os mesmos que
jubilavam com a primavera arábica fomentavam ingenuamente a fragmentação da
Síria com o apoio armado da ISIS contra o ditador Assad. O preço está a
delinear-se na divisão do Iraque em territórios xiita, sunita e curdo com a
perseguição e expulsão dos cristãos.
Vítima real e intelectual
torna-se quem não possui capacidade de diferenciação e de integração. O passo
para a fraternidade de povos e religiões pressuporia a renúncia à verdade
empedernida, em benefício do compromisso construtor de colaboração e de paz. Tudo
fala, tudo berra e ninguém se preocupa em descobrir quem produz a guerra, quem
fabrica as armas e as redes que ganham com elas. Os cavaleiros de Maomé, fieis
ao Corão sentem-se os senhores e guardiães de Deus e da Verdade e os defensores
da democracia, sentem-se os senhores das riquezas do mundo. A verdade de uma
religião ou de uma civilização não se reduz à teoria ou ao discurso, ela só se
pode ver nas obras.
A vida humana e social é uma teia de conflitos, pelo que, o essencial não é
ver quem tem razão, mas resolver conflitos. Querer possuir a verdade absoluta
significa subestimar a vida e não se desenvolver. A Verdade é a-perspectiva e
como tal é um processo numa relação trinitária pessoal e dinâmica na unidade do
eu-tu-nós. A terra é grande, Deus é maior, nele há lugar para todos.
“Bem-aventurado os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)
Religiões são parábolas da realidade que expressam a antropologia e a
sociologia de uma civilização. Religião verdadeira é a que faz do Homem irmão
independentemente de raça, credo ou cor!
©António da
Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu