Islão - Um
Desafio à Cultura ocidental e à Religião
António Justo
A forte emigração muçulmana para a Europa, as maiores taxas de natalidade
dos muçulmanos e as condições do casamento de muçulmanos com mulheres doutras
religiões são factores que conduzem a um grande avanço do Islão. A expansão,
que não pode fazer através das armas, consegue-a através da procriação, da
discriminação de minorias nos próprios países, da política de gueto no
exterior, de leis de casamento e da severidade da religião. Por outro lado, a
política ocidental aceita, sem contrapartidas, a sua autoafirmação dentro dos
próprios Estados pelo facto da religião islâmica fazer parte do poder político
e estatal dos países muçulmanos e também devido à dependência dos Estados
ocidentais do petróleo árabe, e à possibilidade de investimento neles.
A linguagem das Estatísticas
Um estudo realizado nos finais de 2011 e publicado pelo US- Pew Research
Center e seu foro Religion & Public Life, sobre o futuro global dos
muçulmanos nos próximos 20 anos, revela que a população mundial muçulmana
aumentará de 35%, isto é, passará de 1,6 mil milhões para 2,2 mil milhões. Nos
países muçulmanos com menor formação escolar das mulheres, cada mulher dá à
luz, em média, 5 filhos, enquanto nos países muçulmanos com maior formação
escolar, a média por muçulmana é de 2,3 crianças.
O estudo prevê para a Europa de 2030 um aumento de, actualmente, 44,1
milhões de muçulmanos para 58,2 milhões; nos USA de 2,6 milhões para 6,2
milhões. Nas nações europeias, os muçulmanos sofrerão grande aumento: na
Inglaterra passarão de 2.869.000 para 5.567.000; na Bélgica de 638.000 para
1.149.000; na Alemanha de 4.119.000 para 5.545.000; na França de 4.704.000 para
6.860.000; os Países Baixos também aumentarão de 914.000 em 2010 para 1.365.000
em 2030.
Mundivisões diferentes
O que está em questão entre a sociedade ocidental e a sociedade islâmica é
o encontro de duas concepções de Deus-Homem-Sociedade totalmente diferentes e
secundadas por práticas e estratégias contrárias de auto-afirmação. A sociedade
islâmica caracteriza-se pela autoafirmação pela defensiva cultural
(monocultura) pela acentuação do grupo e a sociedade ocidental (cristã)
afirma-se pela abertura (interculturalismo), pela acentuação do indivíduo.
Assim não se proporciona um diálogo intelectual sério entre maometanos e o
ocidente. A política está interessada numa opinião pública de nivelamento das
religiões; não está interessada em diferenciações que tornem inquietas as
maiorias. Sem discussão, a sociedade acolhedora vai cedendo às exigências dos
guetos muçulmanos, procurando, por outro lado, fomentar oportunidades da sua
integração indirecta através de aulas de religião islâmica nas escolas e através
da criação de cursos da religião maometana (“Centros islâmicos”) nas
universidades. Estes esforços dão-se na espectativa de fomentar entre os muçulmanos
o espírito científico e o diálogo interdisciplinar, no intuito de levar os
muçulmanos a fomentar o espírito académico teológico na sua discussão interna e
a não se limitar ao âmbito moral (leis) e de costumes.
Na Alemanha há 900 mesquitas com os seus Imames (orientadores religiosos)
normalmente, enviados pela Turquia em sistema rotativo; estes têm, geralmente,
pouca formação geral, o que se tem revelado como um dos factores fomentadores
do espírito de gueto.
Cerca de 70% dos muçulmanos alemães são sunitas; os alevitas (mais
democráticos) são 12%, os xiitas 7% e os Ahmadiyya 1,7%. Dentro da comunidade
maometana há também a pequena minoria dos salafistas – grupo extremamente radical
– muitas vezes envolvidos em ataques à sociedade não islâmica.
Entre maometanos alemães, levantam-se vozes raras, como a da deputada Lale
Akgün, que considera a crescente "islamização desastrosa para muitas áreas
da vida em que a religião não tem lugar".
De facto, esta civilização que não conheceu o renascimento não aceita uma
sociedade laica a rivalizar com ela e para quem o ser humano é concebido apenas
em parâmetros culturais religiosos (homo religiosus). A propaganda contra os
judeus tem aumentado substancialmente entre os imigrantes turcos bem como na
etnia árabe e norte-africana. 90% da imigração para a Europa, desde os anos 90,
é muçulmana. O fomento político desta imigração foi
considerado como um erro por Helmut Schmidt, antigo chanceler alemão.
A estratégia muçulmana de auto-afirmação pelo gueto e a negação do
modernismo em contraposição com o relativismo de valores ocidentais tem-se
revelado vantajosa para a afirmação da religião muçulmana. Na França há mais de
1.000 mesquitas. No sul da França, já há mais mesquitas do que igrejas.
O diálogo intercultural urge e não
pode continuar tabu
O tema da imigração muçulmana tem sido considerado tabu pela maioria dos
intelectuais europeus e dos políticos. Não se dá uma discussão séria entre a
cultura árabe e a cultura ocidental devido aos interesses das elites económicas,
políticas e ideológicas. Nunca é tematizado o caracter da relação totalitária
da religião a nível concepcional, social e humano.
Qualquer análise mais crítica relativamente ao islão e às atitudes dos
imigrados islâmicos é abafada de início com o carimbo de islamofobia e de
extremismo. Do islão ou se fala bem ou não se fala. O ditado do politicamente
correcto da informação conduz a uma verdadeira desinformação e as pessoas,
mesmo no convívio privado têm medo de se expressarem sobre o assunto. Devido à
grande quantidade de muçulmanos os políticos estão interessados neles como
votantes, com as consequências que daí derivam. É verdade que uma discussão
aberta poderia, por um lado, ajudar os imigrantes maometanos a compreender
melhor os parâmetros por que se orienta a sociedade civil ocidental, mas por
outro criaria inquietação na sociedade acolhedora, correndo o perigo de se
fomentar a xenofobia.
O comportamento exigente das comunidades islâmicas e a sua política de
gueto na sociedade europeia aberta, que lhes permite liberdade total, fomenta
muitos medos nos povos ocidentais.
Na discussão pública alemã procura-se branquear a praxis agressiva islâmica
actual com argumentos de tolerância islâmica em eras passadas e sente-se a
necessidade de enxovalhar o cristianismo de hoje com argumentos desfavoráveis
do passado (cruzadas, inquisição, etc.) na esperança de que o maometanismo
também se mude. Um irracionalismo de último grau ao denegrir-se o cristianismo
portador no seu seio dos valore individuais e da democracia. A
hipersensibilidade muçulmana com as suas reacções públicas imediatas, atemoriza
os políticos e muitos membros da sociedade contribui assim para uma hipocrisia
nas relações. A opinião publicada e o politicamente correcto paralisam qualquer
opinião crítica em relação às comunidades islâmicas e ao islão.
O desenvolvimento da economia ocidental criou a necessidade de mão-de-obra;
nesse sentido, os políticos abriram as portas à imigração contando apenas com
mão-de-obra mas, depois de algum tempo, depararam com pessoas que traziam com
elas, como é natural, os seus costumes. Quando os políticos se viram
confrontados pela afirmação de costumes e éticas culturais questionadores da
harmonia social meteram a cabeça na areia, tal como faz a avestruz, quando se
encontra em perigo. Agora a política (União Europeia) aceita as crenças sem
contar que com elas vêm as religiões e os conflitos interculturais. O direito à
imigração é um direito inalienável; o que se precisa é responsabilidade e
respeito pela dignidade humana da parte dos acolhedores e dos acolhidos.
Dificuldades no Diálogo
inter-religioso e intercultural
Na Europa, a religião encontra-se enquadrada por um pano de fundo de
tendência liberal capitalista e socialista; estas são orientações aparentemente
contraditórias, mas complementares na instrumentalização da pessoa e do seu
modo de sentir e viver. O que conta é a matéria e o produto que se faz dela.
Uma filosofia relativista suporte, justifica o consequente individualismo
consumista e a massificação duma sociedade, cada vez mais incapaz de distinguir
e analisar.
Neste panorama, o cristianismo, fundamento da civilização ocidental,
encontra-se de retirada. É sentido como demasiado complicado e exigente para
uma sociedade que se quer consumista e proletária. Vão-se sucedendo ondas da
moda a nível de ideias e de consumo, numa espiral de desresponsabilização
individual e institucional.
Assim, na Europa dos anos 70 esteve em moda o induísmo que ainda acreditava
em Deus. Depois seguiu-se-lhe a onda ateísta com o budismo. O Budismo (novo
budismo), como é percebido e espalhado no Ocidente, vem mais de encontro às
necessidades de pessoas que se satisfazem com um budismo de tipo coquetel
espiritual à la carte, virado para o momento do agora e aqui. Procura-se o
prático e o útil. Não se trata de crer mas de experimentar. As pessoas
sentem-se bem num budismo que junta o útil ao agradável, ensinando técnicas de
vivências pessoais e criando espaços para se descansar dum pensar esforçado e
duma vida estressada.
Muitos ocidentais aprendem a aprofundar-se no cristianismo através do
desvio do budismo. Um cristianismo, por vezes demasiadamente intelectual e
fixado no além recebe assim uma rectificação intuitiva.
Um outro desafio, não só à religião cristã mas à cultura ocidental em geral
constitui o aumento crescente e militante do islão que com uma doutrina simples
(subjugação) e uma ética fácil se vai espalhando na Europa.
Duas concepções de Homem e sociedade diferentes têm a oportunidade de se
encontrarem na responsabilidade e respeito pela dignidade humana. Para isso o
politicamente correcto não deve adiar uma discussão séria que ajudaria
acolhedores e acolhidos a melhor compreender os parâmetros por que se orienta a
sociedade árabe e a sociedade ocidental e ambos trabalharem no sentido de um
progresso comum.
António da Cunha Duarte Justo